Na história abjeta da escravidão na humanidade, principalmente ligada ao povo de matriz africana, existem fatos que não podem ser negados. Mas reconhecer tais fatos não é suficiente, não se pode apenas provocar uma santa indignação, se isso não levar-nos a examinar a nós mesmos e nosso contexto social atual para mudarmos nossos comportamentos e atitudes.
Entre os séculos XV e XVI a Coroa portuguesa, atuando em terras africanas, empenhou-se a fundo na concretização de duas tarefas que eram, no mínimo, contraditórias: catequizar, à luz do evangelho do perdão e misericórdia, o povo africano, que até então jazia nas trevas das práticas ocultas barbaras e primitivas, e conseguir o maior número de escravos possível para transportá-los para outro lado do Atlântico.
Fato é que como a história nos ensina, o desejo não era tão nobre assim. O desejo de salvar almas imortais associava-se ansiosa e cobiçosamente pela escravização de seus corpos. O então rei do Congo, batizado de Dom Afonso I, empenhou-se em trazer para o Reino do Congo a modernidade europeia em troca de mão de obra escrava. A troca, segundo ele, evoluiria seu povo e seu governo trazendo prosperidade para todos. Era comum que os escravos fossem usados como forma de pagamento e crescimento social, e que a escravidão fosse aplicada como punição por perderem uma guerra, coisas desse tipo. Isso mesmo em território africano pelos próprios africanos.
Porém o uso que fazem desse dado histórico para defender a escravidão não passa de mero anacronismo barato. Inclusive os padres jesuítas tinham seus escravos como moeda de troca para as despesas e projetos de melhorias em seus templos. Dom Afonso percebeu que o volume de gente que saia de seu território como escravos estava sendo abundantemente maior do que os benefícios trazidos pelos europeus. Os compromissos outrora assumidos não estavam sendo cumpridos. Ele então decide romper com o acordo, porém já era tarde demais. A economia que o mercado escravagista fazia acontecer estava dominado, agora, pelos portugueses e não poderia mais ser freada. Assim, Dom Afonso I foi morto e decapitado pelos próprios portugueses e tribos parcerias que ajudavam na captura de escravos por dinheiro.
Resumo de uma longa história, os dominadores não transferiram a tão esperada modernidade para o povo africano. E como consequência disso de um total de 10,5 milhões de cativos que chegaram vivos ao continente americano, pelo menos 5,7 milhões vieram dessa região. E a história se repete…
Iludidos, vendemos (damos o que temos), ao nome conhecido como privatizações, reduzimos o Estado que provê e organiza a economia em prol de todos tenha acessos (in teoria), com a promessa de um crescimento para todos caminhamos em nome do mesmo processo dos séculos passados.
A globalização econômica não favorece aos que menos têm, e fato é, não estão de fato preocupados os países que hoje controlam a economia mundial, com os menos favorecidos e países subdesenvolvidos. A doce ilusão da luz no fim do túnel de que a ‘a liberdade e prosperidade para todos vem aí’, é senão, mais uma ação de empobrecimento e esquecimento dos jaz na pobreza. No processo de africanização da nossa encomia latino-americana, resistir é preciso. Não podemos correr o risco de repetir tragicamente a nossa história.
Renato Ruiz Lopes