Quando as pessoas começam a dizer que, hoje, tudo está ruim, que nunca esteve pior, costumo dizer, para evitar discussões estéreis, que a pior dor que existe é aquela que a gente está sentindo. As outras dores ou não nos pertencem ou já as superamos. Se você, caro leitor, está com uma baita dor de dente e lhe perguntam qual é a pior dor que existe, o que é que você responde? Dor de dente, claro. Se você costuma ter aquelas dores de cabeça insuportáveis, que não o deixam dormir ou trabalhar, qual é a pior dor que existe? Dor de cabeça, claro.
Pois é, quando me dizem que no Brasil nunca houve uma crise política/institucional como a de agora, volto a perguntar sobre a pior dor. A crise de agora não é a pior que já existiu nem é a pior que existirá. O Brasil tem um balaio cheio de crises. A primeira que eu vi, logo ao chegar ao Brasil, ainda criança, brincando nas ruas de Pardinho, foi com o suicídio do presidente Getúlio Vargas. Todo mundo comentando o assunto, inseguro. O que vai ser de nós, agora, meu Deus? Para ser franco, não sei como a população superou essa crise. Sei que o Brasil continuou a sua vida à espera de outras crises.
Mesmo essa questão do ‘perigo do comunismo’, não é a primeira vez. Afinal de contas, o que é que houve em 64? Não foi a questão do ‘perigo do comunismo’, após a renúncia de Jânio Quadros, por culpa das ‘forças ocultas’ ou ‘forças terríveis’? Foi. E foi um deus-me-livre. O que seria do futuro do país? Terrorismo. Prisões. Mortes. Censura. Um monte de coisas. Parecia que não podia haver conserto para o Brasil. Mas continuamos vivos, tropeçando aqui, levantando acolá. E o Brasil continuou à espera de uma nova crise.
Quem não se lembra da crise causada no tempo do presidente Collor, o ‘caçador de marajás’? Nossa Senhora! Terrível. Um monte de consequências. Naquele tempo, o presidente tomou atitudes intempestivas que prejudicaram a população e, ainda, achou que podia peitar a grande e poderosa mídia. Deu no que deu. Cassação. Crise. Parecia que não encontrariam uma solução. E o que houve? Aos trancos e barrancos, superamos tudo, até o confisco da poupança, e estamos vivos. E o Brasil continuou à espera de uma nova crise.
A de hoje também não é fácil. A solução não ocorrerá com uma simples paralisação de caminhoneiros. Não que essa paralisação não tenha importância. Tem. Pode ser um estopim, mas não uma solução. E a crise de agora tem ingredientes novos, como a pandemia, com a briga das autoridades, cada uma querendo ser o pai da solução. Se deixassem só para a ciência, haveria menos problemas. Mas sempre houve os oportunistas de plantão, que querem tirar proveito em tudo. Não proveito para a nação, mas para si próprios ou para as suas ideologias. No fundo, não é uma questão de crise, propriamente, mas uma questão de poder. As pessoas incrementam as crises, porque amam mais a si mesmas do que aos outros. Alimentam-se do ódio e usam como argumento a desinformação ou a falsa informação, que gera insegurança.
Mas estejam certos, venceremos mais essa crise. Que a gente não tenha que pagar uma conta que não devemos. Que o Brasil não tenha que pagar por um pecado que os inoportunos radicais cometeram e continuam cometendo. O Brasil é maior que todos eles e, por isso, merece mais respeito.
BAHIGE FADEL