Desisti

É difícil eu desistir de alguma coisa. Sempre fui muito persistente em tudo que queria realizar. Alguns até me acham muito teimoso (principalmente minha mulher). Mas agora, confesso, não dá mais. Encheu até às tampas. Só me resta desistir. É definitivo. Desisti. Não quer dizer que seja permanente. Se as coisas mudarem, quem sabe? Mas não acredito em mudanças tão rápidas. As coisas ruins, principalmente, são persistentes, grudam durante algum tempo e não querem ir embora. São parasitas. Sugam a gente, tirando nossas energias e esperanças.

Há pessoas – elas existem em todas as épocas, mas se manifestam mais em tempo de crise – que parecem briga de marido e mulher, quando não mais se entendem. Um fica ofendendo o outro. Ficam vasculhando coisas passadas que deveriam ter sido esquecidas há tempos. Um fica denunciando o outro, botando defeito no outro, diminuindo o outro. Coisa de louco. Insana. Mas não rara. Acontece até com certa frequência. Pois bem, há pessoas assim. Essas pessoas, daqui a pouco, vão culpar até Deus pela pandemia. Já culparam todo mundo. A oposição já culpou a situação e vice-versa. Já culparam os chineses. Daqui a pouco, por falta de novos culpados, hão de culpar Messi ou Neymar. O importante é culpar. Não importa a quem. Essas pessoas não trazem contribuição alguma para a solução do problema. Aliás, se for possível, elas tentarão impedir que haja solução. Já pensaram se não houver mais a pandemia? Que catástrofe! Não terão a quem culpar. Não terão com quem brigar. Não terão mais o alvo de seus disparos venenosos e destruidores. Não querem a solução do problema. O que eles querem é encontrar culpados para o problema.

Então, meu amigo, desisti. Não quero mais ouvir esse tipo de pessoas. Não quero mais participar da sua falta de empatia. Não quero tomar parte da sua fala destruidora. Eu ia escrever ‘fala inútil’. Mas não é inútil, pois procura destruir. Não quero mais saber desses caras. Não vou mais acessar as redes sociais para vê-los ou ouvi-los. Eles não me servem para nada. Querem mostrar uma coisa, mas a intenção é a mais torpe possível. Querem mostrar solidariedade, mas são egocêntricos e narcisistas. Só pensam em si mesmos e só valorizam a si mesmos. Querem obter benefícios próprios prejudicando o outro. Não quero mais assistir a canais de TV que repetem à exaustão o número de mortos por uma só doença e desconhecem os mortos de outras doenças e os curados de qualquer doença. Esses caras

não me interessam. O interesse deles não é bem a informação, mas a criação do caos. São mensageiros da desgraça. Alardeiam o mal, sem moverem uma palha sequer para o bem.

Não quero saber dessas pessoas. Quero procurar pessoas e coisas que me ajudem a ser feliz. Vou seguir todos os protocolos, mesmo não acreditando em alguns deles. Não entendo nada dessa doença. Assim, espero que os outros, que me orientam, conheçam um pouco mais. Mas vou desprezar as iras, as intrigas, as fakes, os pretensos eruditos no assunto, que nada acrescentam às informações anteriores. Com todo o cuidado, sem culpar ninguém, vou esperar pela vacina. A minha e a dos outros. E esperar pela chegada do momento de ser completamente feliz.

BAHIGE FADEL

Sobre Régis Vallée

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