“Educação é garantia de liberdade”, diz Viveiros ao receber homenagem da APE

Sua indicação foi aprovada por unanimidade pelos integrantes da instituição, cujo presidente, professor Wander Soares, presidiu a sessão solene da homenagem, realizada segunda-feira, 4 de novembro, no Auditório Olavo Setúbal do CIEE, em São Paulo, com a presença de mais de cem pessoas. O diploma foi entregue pela acadêmica e ex-secretária da Educação do Governo do Estado de São Paulo Rose Neubauer.

O acadêmico Walter Vicioni Gonçalves, que, dentre outras atividades, foi diretor do Sesi-SP e do Senai-SP, em saudação a Viveiros em nome da APE, abordou o currículo do homenageado, salientando que ele lecionou por 25 anos em cursos técnicos e de graduação universitária e, agora, ministra aulas em MBA e pós-graduação. Como jornalista, trabalhou nos principais veículos de comunicação nacionais, foi correspondente internacional, cobriu guerras e ganhou, em equipe, o Prêmio Esso de Jornalismo, o mais importante do setor no País. Também fundou e preside, há 32 anos, a Ricardo Viveiros & Associados — Oficina de Comunicação (RV&A), uma das principais agências do ramo no Brasil. Como escritor, é autor de mais de 46 livros, em diferentes gêneros (poesia, artes, biografias, história, reportagem e literatura infantil).

Vicioni encerrou seu pronunciamento repetindo parecer do Conselho de Docentes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que, em 2015, outorgou ao jornalista e escritor o título de Notório Saber, um dos apenas seis nos 150 anos da instituição: “O seu percurso profissional, marcado pela pluralidade de interesses, pelo ativismo social, pelo empreendedorismo, pelo reconhecimento internacional, pela contribuição e pela relevância na história da comunicação brasileira, justifica e faz recomendar a Ricardo Viveiros a concessão do diploma”.

Ensinar é aprender
Num inspirado pronunciamento, Ricardo Viveiros agradeceu o título à APE. Discorreu sobre o ato de ensinar, que, segundo ele, implica aprender sempre, com os alunos, no trabalho, com as pessoas com as quais se convive e até com a natureza. Neste último caso deu o exemplo de trem japonês cujo alto nível de ruído foi solucionado por projeto baseado na aerodinâmica de pássaros.

“Ao longo da vida, em determinado momento, tornei-me professor. Primeiramente, de artes no curso colegial — hoje denominado Ensino Médio –, em uma escola do Rio de Janeiro. Tempos depois, de redação em cursos técnicos profissionalizantes em instituições públicas e privadas e, por fim, de matérias como Aferição de Resultados, Relações Humanas e Ética, em cursos de Graduação, Pós-graduação e MBA, em universidades públicas e privadas. Fui patrono e paraninfo inúmeras vezes, embora fosse um professor exigente com os alunos”, salientou Viveiros, frisando que segue ministrando aulas magnas e palestras.

“Ao todo, sem interrupção, foram 25 anos de Magistério. Aprendi muito, desde princípios pedagógicos e didáticos até vários e diferentes temas, pois lecionei para jovens e adultos. Penso que, nessa trajetória, tenha aprendido bem mais do que ensinado”, frisou Viveiros, acentuando: “Acredito que a educação seja garantia de independência, liberdade e desenvolvimento. E não apenas pessoal, mas também coletiva. É capaz de diminuir desigualdades e promover crescimento real e sustentado. Quando lecionamos, estamos preparando pessoas de modo amplo para a vida, propondo cidadania. O saber liberta, dá condição para o crescimento por mérito”.

O homenageado disse ter transcendido ao trinômio “professor, lousa e giz”, que imperou até o final do século XX, “sem jamais abrir mão do inquestionável valor da liberdade com responsabilidade para professores e alunos. Fugindo ao padrão da época, desarrumei a sala de aula, fazendo um círculo com as carteiras. Algo que, sem perder o respeito, unia professor e alunos na mesma proposta de crescimento na troca pelo saber. Também saía com as turmas para lecionar em parques, empresas e até bares. O aluno precisa detestar que a aula termine”.

Lembrando ter viajado profissionalmente a 114 países, tendo investigado em muitos deles como era a educação, percebeu a evolução dos currículos, que incorporaram conceitos de comunicação e relacionamento humano, voltados à inteligência emocional. Nesse contexto, cresce a multidisciplinaridade, incluindo a Tecnologia da Informação, que se transforma a cada dia. “Tem seus problemas (…), mas precisamos vê-la como um carro. Ou seja, a questão não é a ferramenta, mas o uso adequado dela. Um carro, por exemplo a ambulância, pode salvar uma vida, porém, sob uso inadequado, também pode atropelar e até matar. Não podemos temer tablets, notebooks, smartphones. Precisamos entender a amplitude e a eficiência do seu uso. Esse desafio é apenas nosso, de pais e mestres. Os jovens já estão lá… no futuro”.

Enfatizando ter “desenvolvido projeto pedagógico próprio, minha metalinguagem, uma lúdica epistemologia da salutar curiosidade crônica”, Viveiros disse ter lecionado sob a inspiração de uma premissa do contista, romancista, poeta e pintor alemão, naturalizado suíço, Hermann Hesse: “Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível seu próprio mundo, e isso é tudo”.

Viveiros concluiu seu pronunciamento dirigindo-se à sua família: “Deixo meu muito obrigado à Marcia, minha esposa, aos meus filhos Ricardo (presente na memória), Felipe e Miguel; meus netos Juliana, Lucas e Mariana (também presente na memória). Vocês são um constante aprendizado de que o amor é um sentimento crescente e incondicional”.

Dentre os mais de 100 presentes à cerimônia, estavam as seguintes personalidades: Flávio Fava de Moraes, ex-reitor da Universidade de São Paulo, diretor científico da FAPESP, ex-secretário estadual da Ciência e Tecnologia e vice-presidente da Associação internacional de Universidades (IAU-UNESCO); reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Benedito Guimarães Aguiar Neto, e o vice-reitor, Marco Túlio de Castro Vasconcelos; presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, José Inácio Ramos; Marisa Lajolo, ensaísta, pesquisadora, crítica literária e escritora premiada de literatura juvenil; Tirso Salles de Meirelles, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-SP; João Guilherme Sabino Ometto, vice-presidente do Conselho de Administração da Usina São Martinho e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA); ex-presidentes da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Antônio Arnosti, Sergio Kobayashi e Hubert Alqueres, este também membro do Conselho Estadual de Educação/SP; João Gualberto e Paulo Nathanael, ex-secretários da Educação do Município de São Paulo; e a premiada escritora e tradutora Anna Maria Martins.

Sobre FERNANDO BRUDER TEODORO

DEIXAR UM COMENTÁRIO

Política de moderação de comentários: A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro ou o jornalista responsável por blogs e/ou sites e portais de notícias, inclusive quanto a comentários. Portanto, o jornalista responsável por este Portal de Notícias reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal e/ou familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.