Filhas de mães narcisistas – uma realidade caótica

O narcisismo materno é mais comum do que imaginamos e mais devastador do que conhecemos. Por isso neste texto quero ensinar e esclarecer alguns pontos que podem ajudar os leitores (as) a diagnosticar e se libertar de relações abusadoras com suas mães. E também vou abordar como a Bíblia responde nesses casos, pois muitas vezes o medo religioso de não honrar pai e mãe acaba que tornando o sofrimento ainda maior.

Entendo o contexto…

Na mitologia grega, Narciso era um rapaz belo e jovem que, durante uma caminhada próxima a um rio, deparou-se com seu reflexo na água. Apaixonado pela própria beleza, ele se recusou a deixar o local, morrendo às margens do rio, se admirando. O termo narcisismo, que surgiu com o mito grego, embora usado para definir uma personalidade, também indica um transtorno que torna a vida de quem convive com essas pessoas muito difíceis, especialmente se a pessoa diagnosticada for sua mãe. De forma simples e geral o narcisismo, ou também chamado por seu nome completo e técnico de Transtorno de Personalidade Narcisista, é um desvio que afeta a mente da pessoa por completo. Isso quer dizer que a narcisista pensa, sente, percebe-se e interage com o mundo de maneira diferente da maioria das pessoas.

Os relacionamentos entre uma mãe com transtorno de personalidade narcisista e a filha é marcado por atritos e discussões, muitas vezes por motivos fúteis, sendo difícil manter uma convivência pacífica e saudável sob o mesmo teto ou até mesmo sendo próximos. Provocações são comuns, para que o filho reaja de forma negativa, criando assim uma situação de vitimização. A psicologia vai dizer que este transtorno de personalidade narcísica faz com que a pessoa tenha uma percepção grandiosa de si mesma, merecedora de tudo, nunca acha que as pessoas que estão ao seu redor são qualificadas, que estão sempre certas em suas posições e visões de mundo, e estranhamente paradoxal, estão sempre se colocando no papel de vitima.

Dentro desse processo desenvolve-se o sequestro da subjetividade. Esse sequestro consciente em que a mãe narcisista passar ser a proprietária da filha definindo ela o ritmo da relação e a filha é incapaz (impossibilitada) de reagir de forma contraria a mãe.

O site “Filhas de Mães Narcisistas” elencou algumas dicas muito interessantes e compartilho com você abaixo:

ü O humor da sua mãe oscila por períodos de altos e baixos com grande frequência.

ü Quando pensa em sua mãe, você não associa a imagem dela a uma base emocional estável e segura.

ü Você habitualmente se sente responsável por como a sua mãe sente e se vê facilmente manipulada por suas chantagens emocionais.

ü A sua mãe só lhe trata bem quando quer ou precisa de algo de você. Quando ela se aproxima de forma afável, você sabe que suas boas maneiras são motivadas por interesses específicos.

ü Perante a sua mãe você não tem voz. Vale somente as vontades e os interesses dela. Os “direitos” da sua mãe sempre prevalecem sobre os seus e dos outros membros da sua família. O seu único direito de filha “é o direito de não ter direitos”.

O diagnostico por vezes não é levado a sério pelo fato das pessoas pensarem que conflitos e discussões são “normais” em qualquer forma ou área de relacionamento seja familiar ou não. A vítima reluta muito para aceitar que de fato é uma vitima e que a mãe é uma doente.

CONCEITOS BÍBLICOS

Tendo em vista que muitas vezes a religião é usada como ferramenta para alimentar opressões em vários aspectos da sociedade, aqui neste tema não é diferente. Muitos textos bíblicos são usados como ferramentas de manipulação e abuso por parte das autoridades paternais e maternais, assim mais ainda pelas mães narcisistas, principalmente se elas forem cristãs. Muitos filhos de cristãos temem este texto, pois acham que se não fizerem o que a mãe quer (que no caso já é a relação sequestrada) seus dias na terra não serão longos. Eis ai outra lógica da religião muito usada pelas mães narcisistas cristãs, o medo de Deus que manda para o inferno.

O primeiro texto que é muito usado é o de Êxodo 20:12 que diz:

· “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá.”

Mas o que a bíblia realmente diz? Precisamos entender o contexto em que se passa essa historia para entender seu profundo ensino. E assim veremos que nada têm a ver com submissão a mãe.

Na tradição hebraica o ensino por parte dos pais aos filhos sobre os grandes feitos de Deus era feito de forma oral contada em todo tempo para que as novas gerações entendessem e glorificassem a Deus pelos grandes feitos aos seus antepassados e para que fossem abençoados também eles e as futuras gerações. Vejamos o texto de Deuteronômio 6:6-9

· “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.”

Não é incomum encontrarmos principalmente no AT e os fariseus no NT referências a Deus como um Deus de gerações passadas, ou seja, que seus pais conheceram e lhes falaram.

Podemos então dizer que este mandamento de honrar pai e mãe, estabelecido na Lei Mosaica, não diz sobre obedecer ou sucumbir à vontade dos pais a qualquer custo como forma de honra ou pré-condição para vida, ele diz a respeito de ensino e perseverança nos caminhos do Senhor e no ensino de geração em geração. Honrar pai e mãe nesse contexto é ouvir sobre os grandes feitos de Deus e assim louva-lo, adora-lo e ensinar os filhos e os filhos dos filhos, ou seja, honrar é ouvir, entender e repassar.

Em Jesus este e os outros mandamentos são ressignificados de forma maravilhosa e libertadora pela Graça e Amor nas relações. Vejam os textos a seguir:

· João 2:4- Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.

· Marcos 3:32,33- E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram e estão lá fora. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos?

Estaria Jesus desprezando sua mãe? Estaria Jesus descumprindo um mandamento? Estaria Jesus se rebelando? Não! De maneira nenhuma.

Primeiramente é preciso entender que Jesus era um mestre em Israel, e nenhuma mulher poderia falar com um mestre publicamente, isso era proibido. As falas de Jesus para Maria estão inteiramente dentro da sua cultura e seu contexto de época.

Mas o que é maravilhoso, é que Ele agora ressignifica o mandamento de ouvir pai e mãe, aos que quiserem o seguir devem andar no Caminho (Joao 14:6). Para viver é preciso ouvir a Jesus, andar com Jesus, ser irmão de Jesus. A vida agora intimamente ligada à libertação que Jesus proporciona para você. Paulo, o Apostolo diz em Romanos 13:10:

· O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei.

O que seria então honrar pai e mãe? Aqui seria amar como Jesus amou. Primeiro a si mesmo, só assim você conseguirá se libertar da opressão. E o próximo como a ti mesmo, só assim você conseguirá não ser uma abusadora com seu filho e filha.

Olha o que Jesus diz aqui, Mateus 10:21,22:

· “O irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai o seu filho; filhos se rebelarão contra seus pais e os matarão. Todos odiarão vocês por minha causa, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.”

Isso significa que em Jesus agora não era mais o ensino religioso (no sentido da Lei) dos pais que ligaria os filhos a Deus, o novo mandamento é estabelecido por Jesus onde Ele é o Caminho. Isso é subversivo demais, louco demais, inovador demais para época, e também para os dias de hoje.

Por vezes para encontrar a vida será necessária à morte dos ideais, das expectativas, das relações e só assim nessa perseverança encontraremos nossa Salvação e libertação.

Dentro de uma relação de toxidade profunda e de constantes abusos você não sobreviverá, é necessário romper com o medo, com o abuso e com a violência emocional. E é sobre o Amor libertador de Jesus que quero finalizar esse texto.

Em Jesus você é filha (o) de Deus e nada do que fez ou faz muda o amor Dele por você.

Você não precisa provar para Deus que merece o amor dele, Ele te amou primeiro, não tenha medo. Deixe ser encontrada por Ele.

· 1 João 4:18,19- No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.

Sua mãe não é capaz de separar você do amor de Deus que esta em Cristo Jesus.

· Romanos 8:33-35 – Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?

 

É comum mães narcisistas usarem palavras e trechos bíblicos como, por exemplo, rebeldia, desobediência, e coisas do gênero fazendo alusão à condenação eterna, ou seja, condenação ao inferno eterno.

Ao entendermos o texto de Êxodo 20:12, podemos então compreender que o inferno não lhe espera. Alias o inferno não espera nenhum de nós seres humanos. O inferno não foi criado para os homens, mas sim para o diabo e seus anjos, Conforme Mateus 25:41:

“Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”.

O inferno não é lugar para os homens, tão pouco para os oprimidos e cativos. Em Jesus todos somos libertos da escravidão( Gl 5:1, Lc 4:18,19).

Renato Ruiz Lopes | @renatoruizlopes

Sobre Régis Vallée

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