Professor do IBB comenta polinização por de anfíbios no The New York Times

O professor e pesquisador do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu (IBB), Felipe Amorim, participou no último mês de uma importante reportagem publicada pelo jornal americano The New York Times. Na oportunidade, Amorim comenta um estudo publicado na revista Food Webs, liderado pelos pesquisadores Carlos Henrique de Oliveira Nogueira, do Instituto de Biociências, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e Luís Felipe Toledo, chefe do Laboratório de História Natural de Anfíbios da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que sugere a existência de relação ecológica nunca antes registrada envolvendo anfíbios e flores: o processo de polinização.

A matéria “Fruitarian Frogs May Be Doing Flowers a Favor” (Sapos frugívoros podem estar fazendo um favor às flores) está no link https://www.nytimes.com/2023/04/28/science/frogs-pollination-fruits.html e foi traduzida abaixo. Confira:

Os sapos frugívoros podem estar fazendo um favor às flores

Pesquisadores podem ter descoberto o primeiro exemplo de um sapo que poliniza plantas com flores. Em noites quentes perto do Rio de Janeiro, é possível encontrar árvores da espécie conhecida como “frutinha de leite” (Cordia taguahyensis) cobertas por sapos marrom-alaranjados. Enquanto muitos sapos se alimentam de insetos, a espécie de sapo Xenohyla truncata tem preferência pela polpa de frutas e pelo néctar das flores da árvore.

Ao buscar esse néctar, os sapos mergulham seus corpos inteiros nas flores da planta, ficando apenas com a parte traseira para fora. Quando emergem, o pólen fica preso em suas cabeças e costas. Em seguida, eles pulam, potencialmente transportando o pólen de sua parada anterior no banquete tropical para a próxima flor de frutinha de leite que encontrarem.

Em outras palavras, os sapos podem dispersar as sementes da planta e polinizar suas flores, o que seria a primeira vez que isso é observado em um anfíbio. “Isso é completamente, completamente novo, até agora, ninguém os viu realmente fazendo isso”, disse Luís Felipe Toledo, chefe do Laboratório de História Natural dos Anfíbios da Universidade de Campinas, no Brasil, e autor de um estudo publicado no mês passado na revista Food Webs, sugerindo a existência dessa relação ecológica entre o sapo e a árvore com flores.

“Esta é uma observação inicial muito empolgante e intrigante”, disse Ruth Cozien, especialista em interações entre plantas e animais da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, que não estava envolvida no estudo. Ela afirmou que mais observações eram necessárias para confirmar a polinização, mas acrescentou que as evidências preliminares da equipe eram “incríveis” e “extremamente valiosas para enfatizar o que ainda podemos descobrir se simplesmente observarmos”.

A maioria dos sapos é carnívora e apenas ocasionalmente se alimenta de vegetação quando esta atrapalha enquanto eles estão caçando outras criaturas. No entanto, no início deste século, os cientistas observaram vestígios de plantas nos estômagos de espécimes de Xenohyla truncata, conhecido também como perereca brasileira de Izecksohn. Suas análises sugeriram que a espécie se alimenta intencional e frequentemente de frutas, folhas e flores, e raramente de insetos.

Mas esse comportamento nunca foi documentado na natureza.

A equipe do Dr. Toledo entrou em cena enquanto realizava pesquisas nas florestas de Restinga, no leste do Brasil, quando, ao anoitecer, depararam-se com sapos amantes de plantas em ação. Para sua surpresa, dois sapos passaram de cinco a 15 minutos sorvendo néctar de dentro das flores em formato de sino.

Como um dos sapos emergiu de seu lanche florido coberto de pólen, disse o Dr. Toledo, a equipe hipotetizou que era “muito provável” que a espécie auxiliasse na polinização da árvore de frutinha de leite, acidentalmente levando o pólen de flor em flor e causando reprodução – algo que não se pensava que os anfíbios fizessem. Isso também poderia ocorrer com outras flores de formatos similares. Na verdade, gravações feitas pela equipe naquela noite mostraram sapos também sorvendo néctar das flores de íris.

Confirmar essa descoberta poderia adicionar um anfíbio à surpreendentemente diversa lista de polinizadores recentemente descobertos – há ratos polinizadores, baratas e até lagartos. A abundância de polinizadores pode ampliar os limites do que entendemos sobre as relações entre os animais e seu ambiente.

Mas são necessárias mais observações para afirmar que os sapos realmente estão polinizando as plantas.

“Não podemos dizer que esses sapos são realmente polinizadores”, disse Felipe Amorim, ecólogo da polinização da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que não participou da pesquisa. “Eles são visitantes de flores, são sapos que visitam flores. Temos muito a aprender sobre essa interação nova”.

Por exemplo, o muco secretado pela pele do sapo precisa ser testado para confirmar que ele não estraga o pólen antes de chegar ao seu destino. Os cientistas também precisam descobrir se o pólen é entregue a outras flores e se ele as fertiliza e as faz germinar com sucesso. Ainda não está claro por que essa espécie de sapo desenvolveu uma preferência por flora em vez de fauna em primeiro lugar.

Como tanto Xenohyla truncata quanto a árvore frutinha de leite são espécies ameaçadas de extinção, compreender as complexidades de sua relação é imperativo para a conservação delas.

“Estamos quase perdendo esse tipo de interação especial, única e extraordinária antes de poder conhece-la melhor”, disse o Dr. Amorim. “Quando perdemos interações ecológicas, isso nos impede de descobrir muitas coisas diferentes sobre o funcionamento dos ecossistemas de forma geral”.

Sobre FERNANDO BRUDER TEODORO

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