Afinal, como funcionam as emoções dentro da nossa mente? Por que sentimos o que sentimos? Como é o mecanismo de reação aos estímulos que recebemos?
Essa é uma das principais perguntas que podemos ter em relação ao nosso funcionamento!
Embora muitos autores ainda não chegaram a um consenso geral, segundo Vanderson Esperidião Antônio, descreve em seu Artigo, denominado ”Neurobiologia das emoções”, nós temos algumas informações importantes que nos alertam sobre esse funcionamento!
1 – Existe uma profunda integração entre os processos emocionais, os cognitivos e os homeostáticos! O que nos faz compreender que existe uma relação entre nossos pensamentos, emoções e respostas fisiológicas do nosso organismo.
2 – As experiências emocionais subjetivas acontecem como consequência de manifestações fisiológicas e comportamentais (ou seja, ”você ficará mais alegre, se você sorrir”), descritos por Carl Lange e complementadas por Walter Cannon e Phillip Bard, dizendo que o Sistema Nervoso Central (SNC) causava tanto a experiência subjetiva quanto as manifestações fisiológicas e comportamentais.
3 – Embora exista o conceito atual de que o Sistema Límbico (SI) envolva as estruturas relacionadas às emoções, respostas emocionais e aos impulsos emocionais, ele tem estruturas que participam diretamente deste processo, como o hipotálamo, amígdala, núcleos de base, área pré-frontal, cerebelo e septo (hipocampo), a última em especial, está relacionado à consolidação da memória.
Mas por que isso é importante? E o que isso pode impactar na minha vida neste momento?
Vamos compreender melhor algumas dessas principais funções e como elas agem na nossa mente:
4 – Base neurais das emoções:
* Prazer e Recompensa: O centro de recompensa está relacionado ao hipotálamo em conexões com o septo e amigdala. Neste caso, mesmo que alguns estímulos nos tragam irritações, nós insistimos em vivenciar estes estímulos, na tentativa de trazer algumas memórias à mente, com o objetivo de obter uma recompensa com a estimulação repetida.
Então, nossa mente pode gerar estímulos que não necessariamente, nos levarão aos resultados que gostaríamos de ter, mas, que nos farão insistir em pensamentos e ações, na esperança de termos ali, uma recompensa pela repetição de estímulos, e não pelo fluxo racional de uma ação, que comprovadamente, irá gerar um resultado esperado!
* Punição: Relacionada ao Mesencéfalo, hipotálamo e tálamo, relacionadas à amigdala e ao hipocampo. Outros estudos realizados no sistema mesolímbico, demonstraram que estímulos apetitivos, geravam ”expectativa” de prazer!
Então, é por isso que muitas vezes, nós ”nos alimentamos compulsivamente” ou ”fazemos algo intensamente, sem parar” na expectativa de obtermos resultados benéficos, e muitas vezes, apenas ”nos cansamos” de realizar essas ações, mesmo sabendo que elas não foram alcançadas, e mesmo assim, nós repetimos esse ciclo, inúmeras vezes, tendo os mesmos resultados, só na busca da expectativa e não da obtenção real do que nossa mente imagina!
A Dopamina, que é o neurotransmissor que produz sensação de prazer e alegria, é fundamental na medição dos efeitos de recompensa e prazer, sendo que drogas que causam dependência química, aumentam a eficácia da dopamina; e agonistas da dopamina, aumentam a taxa de auto-estimulação, e antagonistas, diminuem essa taxa.
Então, o ”quanto” você se sente recompensado ou ”feliz”, está ligado às quantidades de dopamina no seu organismo, que podem ser potencializadas por drogas ou substâncias que causam dependência, um exemplo disso é o café, pois a cafeína aumenta a transmissão de dopamina e glutamina, que afetam positivamente o humor, diminuindo riscos de depressão e melhoram a memória pelo foco e concentração! Mas, antes que você pense em consumir café exageradamente, saiba que o excesso de cafeína em seu organismo, irá deixá-lo em alerta, e também irá liberar adrenalina, pois seu corpo entenderá que você está em estado de alerta, e isso trará, irritação e ansiedade! E também, diminuirá a quantidade de adenosina, que é importante para o sono, então, você também poderá ter insônia, pelo excesso de cafeína.
* Alegria: acontece quando vemos uma imagem agradável ou que nos leva à uma recordação feliz, o que além da ativação dos gânglios basais, existem estímulos em neurônios dopaminérgicos do sistema mesolímbico!
Por isso, apenas olhar algo agradável e alegre, nos contagia para também nos alegrarmos!
”Os estudos mostraram que existem duas formas de sentirmos alegria: através de estados afetivos, como prazer sensorial ou por mecanismos homeostáticos”, então, estímulos de afeto ou experiências agradáveis nos trazem alegria, ou através de respostas de nossos neurônios espelho, ou seja, a alegria que temos quando estamos em um ambiente alegre!
* Desgosto: ”Sensação de desgosto ou descontentamento. Nesse caso, gânglios basais e as funções motoras buscam coordenar respostas apropriadas ao estímulo original, para que o organismo alcance seu objetivo, ou de aproximação ou retraimento” Nesse caso, podemos compreender que nossa mente buscará comprovações ou justificativas de que as coisas que nos trazem desgosto ou descontentamento, são reais, assim, validando o lado negativo, e repetindo os mesmos caminhos neurais, como um padrão. Ainda bem que é possível remodelar esse padrões, mas vamos ver mais adiante!
* Medo: As relações entre a amigdala e o hipotálamo, estão relacionadas as sensações de medo e raiva. A amigdala detecta, gera e faz a manutenção das emoções relacionadas ao medo, e também detecta expressões faciais de medo ou coordena as respostas que temos diante de ameaças e perigos. ”E na amigdala é que existe a integração da projeção de informações das diversas áreas do cérebro, fazendo conexões excitatórias ou inibitórias”, ou seja, tudo o que nossa mente retém de estímulos e informações, passa pela amigdala, e é através dela, que nossa percepção de ”como vemos o mundo” acontece!
Os principais estímulos são sensoriais e auditivos, e de acordo com o nosso filtro, feito pela amigdala, juntamente com a conexão com o hipotálamo, é que o ”medo é desencadeado”.
Existem 2 formas de medo: a primeira delas, é o ”medo incondicionado”, que é aprendido, como ”o medo da escuridão” por exemplo; e a segunda delas, é o medo condicionado, que são gerados por estímulos como avisos, de que ”alguma coisa ameaçadora poderá acontecer”. E o mais interessante disso, foi a conclusão do estudo, que fala que essa estrutura de medo, é desencadeada mesmo quando o indivíduo não está submetido diretamente a uma situação que lhe provoque um medo real. Ou seja, é por isso que nós nos ”preocupamos” constantemente com as situações e na maioria das nossas preocupações, que são embasadas em ”medo de algo”, elas nem acontecem ou não chegarão a acontecer, como um medo real!
Segundo estudos de Psicologia, 90% das coisas que imaginamos na nossa mente como preocupações, não chegarão a acontecer de fato, mas apenas 10% serão problemas reais!
Mas, voltando ao estudo incrível de autoconhecimento:
A amigdala, está envolvida em estímulos de importância emocional, independentemente de seu contexto agradável ou desagradável, e no estímulo que gera o medo, existe uma relação entre a noradrenalina e serotonina, então, quanto maior o nível de noradrenalina e serotonina você tiver no organismo, menos medo você sentirá!
A Serotonina é um neurotransmissor produzido a partir de um aminoácido, o triptofano, e você pode estimular sua produção, através de atividades físicas, alimentação saudável e equilibrada, que seja rica em triptofano, (ah, como o chocolate tão amado! que é rico em triptofano), e a serotonina, promove o bom humor, o bem-estar, regula a temperatura corporal, a qualidade do sono e melhora as funções cognitivas!
Então, aqui já vemos o quão importante é ter uma vida equilibrada, uma alimentação saudável e praticar atividades físicas regularmente! Mas, vamos voltar as demais emoções:
* Raiva: é manifestada por comportamentos agressivos, que podem ser de duas formas: a primeira delas, pela agressão predatória (para a obtenção de alimento, territorial), ou pela segunda forma, que é a agressão afetiva (controle ou posse por relacionamentos ou posições hierárquicas, ambas estimuladas pelo hipotálamo e está relacionada às funções da amigdala! E o mais interessante dessa parte do estudo, é que a amigdala respondeu da mesma forma aos estímulos quando a voz denotava raiva ou não! Ou seja, pelas palavras ditas com ou sem a energia de intenção pesada do que foi falado! Mas, houve uma diferença no córtex orbitofrontal e o cúneo, quando a voz furiosa foi escolhida, então, existem diferenças em outras áreas do cérebro, quando as pessoas falam algo negativo para você, com a voz furiosa ou com a energia negativa, além das palavras que estão sendo ditas! E no córtex orbitofrontal é que existe a relação com comportamentos inapropriados, como compulsividade, raiva, pouca expressão de felicidade e distúrbio de personalidade. Ou seja, quando alguém fala algo para você que o deixaria com raiva, o estímulo da amigdala entra em ação, mas quando alguém fala com você com raiva, o qual é percebido pelo seu córtex orbitofrontal, você pode ter reações de compulsividade, pouca expressão de felicidade e distórbios de personalidade, então aí está a prova de que ”pessoas influenciam você”, como ambientes tóxicos e pessoas que estimulam a raiva em você constantemente. E é por isso, que você precisa evitar ambientes e pessoas assim! (Então, a ideia de dizer que ”isso não me afeta”, não necessariamente é uma realidade dentro da sua mente, então, quando alguém falar algo como raiva perto de você, observe seu corpo e o que desencadeou em você!)
* Fuga/ Luta: Acontece com a conexão entre o hipotálamo e o sistema nervoso central, dessa forma, o nervo-vago participa de uma resposta integrada entre o cognitivo e o emocional, porque além de estimular áreas encefálicas, produz reações orgânicas, fisiológicas diretas, ou inibindo ou excitando tecidos e sistemas corporais. Então, conforme os estímulos do SNC, nós temos duas reações possíveis: a primeira, que é a situação de luta ou fuga, ou a segunda que é a imobilização.
Então, cada um de nós terá a tendência de reagir de uma maneira diante de ambientes inseguros ou ameaçadores.
- Ou você se prepara para lutar ou fugir; e através de estímulos da amigdala, você terá estímulos excitatórios sobre a região lateral e dorsolateral da substância cinzenta periaquedutal, estimulando as vias do trato piramidal, produzindo respostas de luta ou fuga; nesse caso, você terá uma elevação da frequência cardíaca e da pressão arterial;
- Ou você se sentirá paralisado, pela estimulação da região ventrolateral ao aqueduto cerebral, que também estimula as vias neurais do trato corticoespinal lateral, e nesse caso, você terá intensa bradicardia e queda da pressão arterial.
Então, observe como é o seu ”mecanismo ou rede de estímulos neurais” quando você enfrenta situações de luta ou fuga. A primeira forma, você ficará nervoso e exaltado, e na segunda, sentirá que você terá uma sobrecarga grande, como se estivesse desligando!
* Tristeza: A tristeza (fisiológica) e a depressão (patológica), estão no mesmo ”polo” de um mecanismo neurofisiológico. Disfunções emocionais, causam prejuízos nas funções neurocognitivas. A tristeza pode ser relacionada a três situações:
- Ativação de regiões límbicas
- Desativação cortical
- Diminuição do metabolismo da glicose
E nas três formas, manter o estado de tristeza, leva-se ao aumento nas taxas de sentimentos negativos e redução nas taxas de sentimentos positivos, confirmando o papel dos receptores mu-opióides na regulação fisiológica das experiências afetivas em humanos.
Então, ”quanto mais triste eu estou, mais sentimentos negativos eu tenho”, e conforme vimos no início deste artigo, ”é preciso ter estímulos fisiológicos e comportamentais para você combater a tristeza ou outras emoções ruins! Reconhecer como é o seu mecanismo de funcionamento das emoções, é o primeiro passo!
Agora que já vimos como é o funcionamento das emoções, vamos compreender os dois lados da nossa mente:
* Emoção e Razão: As informações que chegam ao nosso cérebro, percorrem um trajeto e processamento específico, primeiramente dando um significado emocional, e depois, ativa outras regiões do córtex cerebral, permitindo que sejam tomadas decisões e desencadeadas ações! Então, você pensa, sente e depois decide o que fazer com isso, e aí age!
Então, qualquer estímulo que você tenha, passará pela sua amigdala, que também receberá estímulos relacionados à sua visão, acessando sua memória! A amigdala, processará essas informações, com ”insinuações” emocionais, visualmente relevantes, sinalizando medo e aversão, emitindo um alerta de ameaça, proveniente da percepção obtida pelo córtex occipital! Ocorrendo a integração de uma carga afetiva ao complexo orbitofrontal e córtex pré-frontal ventromedial, gerando impressões sensoriais como visão e audição, influenciam na tomada de decisão, causando prejuízo na capacidade de tomada de decisão, caracterizado pela inabilidade de adotar estratégias de comportamento adequado às consequências e atitudes tomadas, levando à impulsividade.
Assim, podemos ver que a impulsividade prejudica sua tomada de decisão! E isso, porque você processa as informações que recebe de forma um pouco ”distorcida”, que desencadeia impressões irreais, que influenciam na sua tomada de decisão! Ou seja, tomando decisões mais emocionais do que racionais, às vezes, mais por ”instinto de sobrevivência” do que ”pela avaliação do que é mais viável, vantajoso ou compensador”. E esse mecanismo acontece com todos nós! Por isso, é importante controlarmos os estímulos e recondicionarmos nosso estilo de vida, juntamente com nossa qualidade de pensamentos!
E sobre a memória: a amigdala se comunica com o córtex, envolvidos na memória, integrando informações emocionais e cognitivas, atribuindo-lhes carga emocional, possibilitando a transformação de experiências subjetivas em experiências emocionais”. Então, o que imaginamos que é real, passa a ser real e verdadeiro para nós!
Quando vemos um filme por exemplo, nós sentimos as mesmas emoções do que na vida real, mas existe uma diferença, na ”insula”, que é ativada durante a indução de recordações de momentos vividos por um indivíduo, provocando emoções específicas, seja de felicidade, tristeza, raiva ou outras emoções, e a ínsula não é ativada da mesma forma quando assistimos um filme, sugerindo que emoções internas tem significados únicos, além dos estímulos primitivos de reações emocionais.
E para finalizar, o estudo mostrou que a tomada de decisão de cada um de nós, dependerá da associação emocional que temos e como lidamos com as situações em que vivemos, mas, que poderão ser influenciadas por respostas motoras, como correr, sorrir, comer, pois elas influenciam diretamente o hipotálamo, agindo no processamento de todas as informações que chegam ao nosso cérebro! Então, para melhorar a situação em que você está, mude pequenos comportamentos e atitudes, e elas influenciarão diretamente na sua mudança de vida! Escolha ver e ouvir coisas boas e edificantes, e evite situações ruins e destrutivas, que desencadearão emoções ruins em você e seu corpo todo sentirá as consequências!
Fonte: Esperidião-Antonio, V.et al/Rev Psiq Clín 35(2);55-65,2008
Bom, eu sei que este artigo é um pouco diferente dos que costumo escrever, mas acredito que ele possa trazer um pouco de dados científicos e a importância de pequenas atitudes e mudanças de comportamentos, que influenciam diretamente em nossas vidas!
Agradeço e desejo uma semana abençoada e com muitos estímulos positivos para você!
Sandra Bertotti – Master Executive & Business Coach
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