Redação Unesp Vestibular 2020

No próximo dia 16/12, os candidatos convocados para a segunda fase do vestibular da Unesp, realizarão a prova de Linguagens e Códigos e a Redação.

Você que realizará a prova, treine seu texto analisando o tema pedido pelo vestibular no ano passado e um texto/exemplo produzido pelo professor Nelson Letras. Lembrando que, na correção do texto, o título não é considerado pela Vunesp.

 

TEMA REDAÇÃO – UNESP 2019

 

COLETÂNEA

 

Texto 4

Nós somos consumidores agora, consumidores em primeiro lugar e acima de tudo. Para todas as dificuldades com que nos deparamos no caminho trilhado para nos afastar dos problemas e nos aproximar da satisfação, nós buscamos as soluções nas lojas. Do berço ao túmulo, somos educados e treinados a tratar as lojas como farmácias repletas de remédios para curar ou pelo menos mitigar todas as doenças e aflições de nossas vidas particulares e de nossas vidas em comum. Comprar por impulso e se livrar de bens que já não são atraentes, substituindo-os por outros mais vistosos, são nossas emoções mais estimulantes. Completude de consumidor significa completude na vida. (Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos nós?, 2015. Adaptado.)

 

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Compro, logo existo?

 

(Texto/exemplo – Professor Nelson Letras)

 

Consumismo na pós-modernidade, a perda do livre-arbítrio

 

Marcado pela superficialidade nas relações, pelo fetichismo a mercadorias, status e beleza, o mundo pós-moderno vai de encontro ao Esclarecimento “Aufklärung” defendido pelo filósofo Immanuel Kant no século XVIII. A valorização do modo de viver cuja existência depende de uma compreensão externa ao indivíduo – lembrando o empirismo berkeliano “ser é perceber e ser percebido” – em detrimento da razão como forma de conhecimento da verdade, conduz o ser humano que possui capacidade de consumo a uma alienação de sua substância, seu elemento essencial “a razão, a capacidade de escolha”; e aquele sem poder aquisitivo a um condicionamento de não-existência.

Embora a ação de comprar a variedade de mercadorias, fruto do Capitalismo, possa trazer satisfação aos consumidores, estes alegram-se ao adquirir produtos pagando não seu valor real, mas sim, um valor que lhe é externo; pagam por uma idolatria induzida pelo Mercado com suas propagandas persuasivas e manipuladoras. Dessa maneira, o indivíduo, alienado à compreensão do produto comprado, age não por si, mas sim por uma obediência a outros, ficando na Menoridade criticada pelo filósofo alemão Kant no estudo iluminista.

A teoria marxista afirma o homem ser, por natureza, um animal social. Para ser valorizado socialmente, ser notado, o indivíduo abandona sua essência de cidadão, de sujeito que age sobre a sociedade, passando a ser um objeto, um paciente, o qual possui existência social apenas se comprar, se tiver uma aparência física e um modo de vida que sigam o modelo social imposto – como um Fato Social – pela industrial cultural do século XXI. Aqueles sem poder aquisitivo para esses padrões são excluídos, tornando-se párias sociais, e também sentem-se não pertencentes à sociedade, afastando-se de sua natureza, conforme a teoria de Karl Marx.

Tanto os consumidores como os párias sociais são personagens sob um consciente coletivo os quais veem a realidade apenas sob a óptica do sistema, os quais não pensam por si, estão distantes do Esclarecimento kantiano, os quais se tornaram também produtos do Mercado. A sociedade pós-moderna alicerçada no consumismo afasta cada vez mais o ser humano daquilo que o faz ser humano: a capacidade de escolher seus próprios caminhos, de compreender sua existência para si e para o meio social. Comprar a vida impulsionada pelo Mercado gera uma existência importante apenas para este, uma existência de produto e não de ser.

 

Sobre Régis Vallée

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