Fui perguntado sobre como proceder, em tempos de crise, diante dessa afirmação feita pelo apóstolo Paulo aos romanos. Esse texto se encontra na carta aos Romanos no capítulo 13, versículo 1 ao 5.
Devemos obedecer cegamente ao governo? Devemos ser submissos mesmo que isso concorra para nossa morte e morte de muitos? É o presidente essa voz de autoridade que Paulo fala?
O presidente Jair Bolsonaro se pronunciou sobre como a sociedade brasileira deveria proceder diante da pandemia do COVID-19. Em resumo, ele foi contra as diretrizes mundiais de combate à doença e conclamou o povo a sair para as ruas e voltarem a vida ao normal.
Devemos ser submissos a esse tipo de autoridade? Essa pergunta em si mesma já denota um ar de autoritarismo, e a resposta é NÃO. Cada um deve cuidar e agir como bem entende em sua vida privada e social entendendo que isso reflete sobre todos em sua volta. O momento atual pede para, em nossa total liberdade, nos resguardamos pelo bem de todos. O Evangelho é inimigo da tirania tanto quanto da anarquia.
Paulo orienta aos romanos a reconhecerem a autoridade política estabelecida e a cumprirem seus deveres como cidadãos, promovendo a paz e o bem entre todos, conforme ele mesmo já havia escrito no capítulo anterior.
Ao meu ver corremos um grande risco de transliterar a fala paulina para os tempos atuais sem discernir o que é império e o que é democracia, república, etc. Paulo escreve essa carta dentro de um contexto imperial, ou seja, existia uma única voz, uma única forma de ser e pensar, essa era de deus (imperador), etc. O imperador no caso, Nero, era voz de autoridade inclusive vista como deus na terra, e se portava como tal. É então dentro dessa realidade que Paulo adverte a Igreja a caminhar de maneira que fosse mais saudável para seu tempo e momento. Ou seja, ele parte do pressuposto que ao governo cabe combater o que é mal e fazem o que é o bem. Isso é o que Deus pede e dá como missão as autoridades estabelecidas. Assim, a Igreja deveria corroborar com isso.
“Quando essas autoridades usam dela para se transformarem em totalitaristas, é dever dos cristãos resistirem.” John Stott.
Paulo deixa claro que toda autoridade deve ser usada para o serviço de Deus para com o povo, cuidar dos pobres, órfãos e viúvas. Nos dias atuais podemos atualizar esses termos para classe de vulneráveis.
A maior lição deste texto é não alimentar os despostas, os tiranos, os ditadores como se fossem portadores divinos de cura para as nações. Todo aquele que pensa em falar como Deus se torna o Diabo.
Hoje a democracia e a constituição são nossas vozes de ordem, justiça e autoridade, elas nos resguardam para que tenhamos nossa vida, a ordem e a justiça em nosso país. Em minha visão talvez sejam essas nossas autoridades. Obedeça-las é ser um bom cidadão como Paulo orienta.
@Renato Ruiz Lopes