Tempo de Mudanças

Meu Deus, estão terminando as férias escolares! Nossa! Parece que começaram ontem mesmo, e já estão no fim. Férias diferentes, aliás. Pelo menos, para a maioria. Grandes viagens, passeios em grupo, festinhas nos finais de semana, baladas, churrascos, cinema, teatro, passar uns dias na casa dos amigos… Isso tudo pode não ter terminado completamente, mas houve uma redução drástica. Novos tempos, novos costumes. Sim, até isso. A gente está se acostumando à nova realidade. Parece         que já faz um século que a gente está desse jeito. Se continuar assim por muito tempo, corremos o risco de nos esquecer de como era antes. Ou o que era antes vai virar história. Não história de velhos. História de jovens. ‘Você lembra o dia em que a gente foi beber no sítio do Tó? Três dias de bebedeira, cara. Maior barato. Bons tempos aqueles, né?’

Por outro lado, tenho certeza de que o retorno às aulas nunca foi tão esperado. Tenho certeza de que quase ninguém está falando: ‘Pô, voltar à escola. Quer saco!’ Nem alunos nem professores. Os professores já estão com o saco cheio de ministrar aulas remotas. Aulas para uma tela. Haja imaginação. Imaginar o aluno atento. Imaginar o aluno interessado. Imaginar o aluno presente. Tudo numa tela. Haja motivação! Motivar-se para dar uma aula interessante e motivar o aluno, para que ele ache interessante a aula. Esforço dobrado. Quadruplicado. Um cansaço mental insuportável.

Por outro lado, o aluno, no mínimo, querendo sair de casa, encontrar os colegas de classe ou de outras classes, jogar conversa fora. Acho que há alunos com saudade até dos pitos que o professor lhes dava, porque estavam sonolentos ou desinteressados ou em conversa com o colega do lado ou atento ao celular… Até disso os alunos devem estar com saudade.

No primeiro semestre, no meio de uma aula, um aluno abriu o microfone e me disse: ‘Professor, tenho uma vontade enorme de conhecer o senhor.’ Fiquei com um nó na garganta. Depois pensei: Caramba, dou aula pra gente que não conheço e não me conhece. Que raio de educação é essa? Educação capenga, manquitola. Educação sem emoção.

Mas tudo isso vai acabar. Deus queira! Vamos, aos poucos, voltar à normalidade. Educação olho no olho. Educação em que os participantes se conhecem. Concordam e discordam. Vivem bons e maus momentos. Riem e choram. Lamentam e agradecem. Mas estão lá, juntos. Um ajudando o outro. Um participando da vida do outro. Somos seres sociais. A partir desse segundo semestre, poderemos voltar a ser. Seres sociais. Não robôs. Não máquinas. Não agentes de uma educação que se sustenta numa máquina. O que deve sustentar a educação é a relação professor/aluno. A máquina não passa de um acessório. Nunca pode ser principal.

BAHIGE FADEL

Sobre Fernando Bruder

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