“Prevenir e Consertar”, por Bahige Fadel

É isso, caro leitor.

O que é mais desejável: prevenir ou consertar? Acredito que você está respondendo que o desejável, o ideal é prevenir, para não ter que consertar. Quando prevenimos, evitamos que o defeito ocorra. Se não prevenimos, a possibilidade de ocorrer o defeito é grande e, mesmo que venhamos a consertar, não fica perfeito. A prevenção, então, é o melhor remédio.

Você se lembra de que, há algum tempo, se criou a expressão ‘babá eletrônica’? Lembra? Os pais queriam que o filho ‘não desse trabalho’. O que faziam? Davam-lhe um tablet ou um celular, para que ele ficasse sossegado. E a criança começava a ficar viciada no celular ou no tablet. Mas os pais, acomodados, fingiam não perceber esse problema, porque, para eles, não era problema, mas solução. E o que temos hoje? Um monte de jovens e outros não tão jovens que não admitem que exista vida sem um celular. E não estou me referindo ao uso do celular para entrar em contato com alguém ou para fazer negócios. Estou me referindo ao uso do celular para atividades plenamente evitáveis ou substituíveis.

Tenho ouvido vários especialistas abordando a questão do celular ou do computador no processo de ensino e aprendizagem. Detectou-se, por exemplo, que o jovem tem muita dificuldade de escrever com a letra cursiva. Ele só consegue escrever digitando no celular ou no computador. E isso tem prejudicado sua capacidade de concentração, sua capacidade de organização de ideias, seu raciocínio. Em vários países desenvolvidos na educação, como a Finlândia, estão retrocedendo, ao proibirem o uso de celulares na escola. Percebeu-se, ainda, que as duas últimas gerações são menos inteligentes que seus pais. E houve a constatação de que isso ocorreu por causa do uso excessivo da tecnologia, na educação. Sei que, quando eu pedia aos meus alunos que anotassem o que eu dizia e escrevia na lousa, ao invés de ficarem olhando na apostila física ou digital, chamavam-me de antiquado. E não adiantava muito eu explicar que anotando nos cadernos, eles se concentravam mais, liam ou ouviam o que estava escrito ou sendo falado, escreviam e, ainda, liam o que estava sendo escrito. Não parece lógico que, dessa maneira, o aprendizado fica mais eficiente?

Um dia desses, estava eu num restaurante, com minha esposa. Enquanto conversávamos esperando por outras pessoas, notei que numa mesa vizinha estavam dois adultos e três adolescentes. Os adultos deviam ser os pais e os adolescentes, os filhos. Olhem que oportunidade para uma conversa descontraída em família. Mas não era isso que estavam fazendo. Estavam todos atentos ao celular. Todos: adultos e adolescentes. Isso é convivência familiar? O fato de estarem à mesma mesa quer dizer que estão convivendo? Claro que não. Estão apenas fisicamente próximos. Não há nenhuma troca de emoções ou experiências. Neste caso, a ‘babá eletrônica’ está servindo para acomodar filhos e pais.

Assim como na escola. A ‘babá eletrônica’ resolve o problema. O professor não precisa se preocupar muito, pois tudo está no celular. Serve também para o aluno: ‘Não preciso prestar atenção. Depois eu procuro no celular.’ Só que essa procura é sempre adiada ou eliminada.

Como os pais não se preveniram no passado, como as escolas não se preveniram no passado, como as autoridades não se preveniram no passado, agora têm que consertar. Em primeiro lugar, vai levar muito tempo. Em segundo lugar, dificilmente ficará perfeito.
Quem mandou não ter juízo?

Bahige Fadel

Sobre Fernando Bruder

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