Coluna Bahige Fadel

Bahige Fadel para reflexão; “Perdi o Bonde e a Esperança” de Carlos Drummond de Andrade

O leitor deve conhecer um famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, cujo título é SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA:

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

Como se vê, o poeta mineiro revela uma desilusão muito grande. O primeiro verso é significativo. Nada deu certo e não vai dar certo. É inútil continuar tentando. E eu pergunto: O que leva uma pessoa a isso? O que leva uma pessoa a esse desânimo? O que leva uma pessoa a essa sensação de inutilidade? De fragilidade? De impotência? É só poesia ou é a vida? Com certeza, é a vida.

Quando você percebe que uma ação sua pode trazer mais coisas ruins do que boas, o que faz? Realiza a ação assim mesmo? Claro que não. Seria insano. A não ser que você seja tão masoquista, que sinta prazer em sofrer, em se sentir derrotado. O lógico é você cruzar os braços e ver o que pode acontecer sem a sua ação.
Confesso que muitas vezes me sinto assim. Sem forças para reagir. Sem vontade de reagir. É que há tanta coisa errada, tanta coisa desonesta, tanta coisa maldosa, sem punição, sem condenação, sem revolta, que percebo ser inútil reagir. Tudo é relativizado para justificar o erro. Roubo nem sempre é crime, para uma conhecida autoridade.

Se a pessoa nada tem, pode roubar o relógio de um rico. Mas pode mesmo? Se o rico tem muito com o trabalho que realizou, o que nada tem pode conquistar algo com o trabalho que deveria realizar. Mas o que nada tem prefere ter algo que não lhe pertence. E a autoridade acha normal que isso aconteça.
Atualmente, não sei se é em todos os lugares, parece que conquistar algo é crime. A pessoa diz: Aquele cara está bem de vida. E não diz isso como um elogio, mas como uma crítica.

É como se dissesse: Por que ele tem o que eu não tenho? Ele poderia pensar de maneira diferente: O que eu tenho que fazer para ter o que ele conseguiu? Mas isso dá trabalho, né? Tem que estudar pra caramba, levantar cedo, comer o pão que o diabo amassou, vencer obstáculos, ser competente, criativo, perseverante… Um monte de coisas difíceis. É mais fácil e rápido tirar daquele que fez tudo isso para conquistar o que conquistou. E com o apoio de autoridades.

Volto ao poeta: ‘Entretanto há muito tempo/ nós gritamos’. É, há muito tempo, eu gritei. Achei que podia mudar o mundo. Algum exemplo bom eu deixei. Mostrei que o trabalho vale a pena. Mostrei que o estudo vale a pena. Mostrei que a honestidade vale a pena. Mostrei que a empatia vale a pena. Mostrei que a educação vale a pena. Tomara que algumas pessoas tenham visto e acreditado.

Bahige Fadel

As diferenças de outras épocas em; “No Meu Tempo” por Fadel

No meu tempo;

Não é raro a gente ouvir essa expressão. E quando ouvimos, pode contar, quem falou tem mais de sessenta anos. No meu tempo… E lá vêm as diferenças entrevo antes e agora. Quando se diz isso só para mostrar as diferenças entre o que era e o que é, tudo bem. Mas quando o objetivo é dizer que antes era melhor, já não concordo. É a mesma coisa que comparar Pelé com Maradona ou Messi, no futebol. Não dá para comparar. Os campos de jogo eram diferentes, a bola era diferente, a preparação física era diferente, os adversários eram diferentes, a estrutura do futebol era diferente. Tudo era diferente. É muito melhor dizer que cada um foi o melhor em seu tempo.

E isso acontece em outros campos. A educação, por exemplo. A do passado era melhor ou a de hoje é que é melhor? Não dá para comparar. Quando eu estava no primário, praticamente, a única informação que eu tinha sobre o mundo era o que o professor dizia. E eu não tinha meios de avaliar se aquilo era certo ou errado. Hoje é diferente. A criança entra na escola com acesso a um monte de informações. Em alguns aspectos, o aluno tem mais acesso a informações do que o professor, que é de uma geração diferente. O aluno tende a dominar melhor a tecnologia do que o professor. Por tabela, vem outra pergunta: O professor de antes é melhor do que o de hoje?

Difícil comparar. O que se pode dizer é que os professores de antes ensinavam com o que tinham; os professores de hoje ensinam com o que têm. O que se pode dizer, com certeza, é que o professor de hoje tem que ter mais informações do que tinham os professores do passado. Mas isso também não é vantagem. Ter mais informações hoje é bem mais fácil do que era ter informações no passado. Havia coisas certas e erradas no passado; há coisas certas e erradas no presente.

A família do passado é melhor do que a família do presente? Não dá para dizer, com absoluta certeza. É diferente apenas. Parodiando Fernando Pessoa, não dá para dizer que é mais do que só diferente. As famílias do passado eram mais estáveis? Sim, eram. Mas o mundo também era mais estável. Hoje, a mulher é mais independente. Muitos filhos são mais educados por babás e por escolas do que pelos pais. No passado, as mães eram ‘do lar’ e cuidavam da educação das crianças. O pai era o provedor. Hoje, a gente torce para que os pais, quando estão com os filhos, sejam bons pais. É o máximo que se pode fazer. Ninguém pode imaginar que o mundo volte a ser como era no passado.
E a política do passado era melhor que a do presente? Não acredito. Sempre houve bons e maus políticos. Sempre houve os tais cambalachos. Sempre houve os acordos por baixo do pano. Sempre houve os corruptos. Mas sempre houve também os idealistas, os bem intencionados. É que antes era mais fácil encobrir os erros. Quando eram descobertos, viravam um escândalo. Hoje é muito mais difícil. Está todo mundo de olho em tudo. Mas também é muito mais fácil divulgar os acertos. Há muitos meios de comunicação. É só saber utilizá-los.
É o seguinte, meu amigo. Esqueça esse negócio de ficar comparando o presente com o passado. É inútil. Procure aperfeiçoar o presente, para que ele seja o melhor possível. Na política, por exemplo. Só vote naquele que tem condições de fazer algo em benefício da população.

Na educação, por exemplo, procure, dentro de suas possibilidades, acompanhar as atividades de seu filho. Na família, por exemplo, não se esqueça de que a estabilidade familiar depende de você, de sua vontade, de seu projeto de vida. Não culpe os outros. Sei que tudo isso é difícil, mas também sei que não é impossível.

Coluna: Bahige Fadel

Imagem/Ilustrativa

Vai começar o grande espetáculo da “Campanha Eleitoral”

Oba! Vai começar o grande espetáculo da campanha eleitoral. Será o maior show de todos os tempos. Nada faltará para entreter a plateia. Quem paga a conta é o espectador, claro. E muitas vezes, ele – o espectador – nem se dá conta de que, para assistir a esse espetáculo, paga um dinheirão.

E o pior é que, mesmo depois de terminado o espetáculo eleitoral, continua pagando por ele. Palhaços haverá aos montes. Estarão disfarçados de benfeitores, homens de classe, mas são, verdadeiros palhaços. Haverá mágicos também. Muitos mágicos. Suas mágicas, no entanto, não são feitas na hora. São apenas prometidas. ‘Se for eleito, aumentarei o salário mínimo!’ Mágica futura. ‘Se for eleito, trarei empregos para a cidade.’ Mágica! ‘E for eleito, acabarei com a corrupção.’ Uau! E a plateia bate palmas ou porque acha o espetáculo divertido ou porque acredita que a mágica se concretizará.

É uma época diferente. É uma época em que os amigos viram inimigos e os inimigos, amigos. Sensacional! De repente, um desconhecido vira amigo do peito, um verdadeiro irmão. Tudo por um voto. Tudo por um apoio. É a época em que tudo é possível. Prometem transformar em paraíso o inferno que eles mesmos criaram. E como o amor estará em alta! Todos serão verdadeiros apaixonados pelo povo.

Todos jurarão amor eterno pela justiça. Todos amarão as crianças dos outros, os pobres, os fracos e os fortes, mas principalmente os fracos. Todos se declararão apaixonados pela cidade, pelo país e pelo mundo. É a época em que mais se falará de amor e mais se praticará o ódio. Religiosos, então, todos serão. As igrejas estarão lotadas de candidatos fiéis. Todos em busca de votos. Ajoelham-se e fingem orações fervorosas. Deus nunca será tão lembrado como nessa época. Todos prometerão a morte e o sepultamento de satanás.

Será a época dos grandes currículos. A maioria colocará em seus longos currículos que são honestos. ‘Sou honesto!’ E dirão isso como se fosse uma conquista, um troféu conseguido com muita luta, com muito esforço. Não se preocupem. Ninguém dirá que é desonesto. Há certas coisas que não precisam ser ditas. Falarão com orgulho de sua honestidade, como se não fosse uma obrigação, mas uma virtude conquistada. Não esclarecerão como exercem sua honestidade. A palavra honesto é suficiente para eles.

Haverá todos os tipos de candidatos. Haverá os candidatos permanentes. Nunca venceram uma eleição sequer, nunca tiveram uma votação significativa. Mas são candidatos. Devem colocar em seus currículos: Candidato derrotado por quinze vezes. Nunca foram nada, além de candidatos. Há os candidatos que se colocam no páreo por um bem maior: o fundo eleitoral. O fundo eleitoral. O grande milagre. Dão um jeito de viverem do fundo eleitoral durante quatro anos. Depois disso, bem, haverá nova campanha eleitoral. Mas não se preocupem.

Haverá os bons candidatos. Haverá aqueles que têm um plano político para a cidade. Haverá aqueles com projetos consistentes, para a melhoria das condições de vida da população. Haverá aqueles que desejam dedicar uma parte de seu tempo pelo bem do próximo. Haverá aqueles que serão esperança. Haverá. É uma questão de procurar bem, de prestar bastante atenção, pesquisar a vida deles e analisar o que dizem e o que são.

Embora haja os bons candidatos, infelizmente muitas batatas pobres continuarão infectando as batatas boas. Caberá a nós descartar as batatas pobres.

Coluna: Bahige Fadel

Foto: Reprodução

Crônica da semana retrata o valor da sinceridade; a “Franqueza”

Vamos ser francos, salvo algumas exceções, a vida nunca esteve muito fácil. Se a gente quer conquistar 
alguma coisa, tem que ralar. Foi assim antes; é assim agora. Ganhar o grande prêmio da loteria é para 
alguns, que a gente só ouviu falar. Conhecer mesmo, raramente. Receber uma vultosa herança, pra não ter 
que fazer nada o resto da vida parece ser coisa virtual, não real. A gente vê essas coisas em filmes de 
ficção ou em notícias de fatos que ocorrem na Terra do Nunca. Nunca em nossa casa ou vizinhança.
Comigo foi assim. Com você também deve ter sido desse jeito, caro leitor. Você se arrebenta num trabalho, 
num projeto, que pode ou não dar certo. Se não dá certo, sua fama de incompetente rola o mundo. 
'Eu já sabia...' Todos já sabiam, menos você. 'Eu bem que avisei aquele cara de que ele daria cabeçada.
' Todos avisaram, só que deve ter sido em outra língua, porque você nunca ouviu coisa alguma. E o pior é 
quanto aparece aquele iluminado:'Se ele tivesse me ouvido. Eu tenho experiência nesse caso.' 
Quando aparece alguém oferecendo ajuda, você fica desconfiado. Será que é ajuda ou é interesse?
Mas se a coisa dá certo, raramente vem um elogio. Ainda bem que o advébio é raramente, e não nunca. 
A gente tem que ser justo. A gente não está totalmente só e abandonado neste mundo.  Mas como eu ia 
dizendo, se a coisa dá certo, vêm línguas de trapo inconformadas. 'Mas que cara de sorte! Nasceu com 
aquilo voltado pra lua!' Você planeja, analisa prós e contras, avalia, trabalha que nem escravo e 
consegue aquilo que projetou. Ótimo! A conclusão é 'cara de sorte'.  Sorte é o... Vamos deixar pra lá. 
Isso é pior que coice de mula. Melhor não enfrentar. Os danos serão terríveis. Desviar é a solução.
Pior de tudo é quando começa a ter a certeza de que algumas lutas ao longo de  sua vida foram inúteis. 
Você cansou, feriu-se, arranjou alguns inimigos, e o resultado de tudo foi o fato de cansar-se, ferir-se e 
arranjar inimigos. O resto ficou tudo igual. Quer dizer: pra que serviram essas lutas? Pra não resolver 
coisa alguma. Pena que a gente perceba isso mais tarde, com a experiência, quando não tem jeito de 
consertar. Nem de concertar.
E quando esperam que você continue lutando 'para resolver os problemas do mundo'? Caramba! Minhas 
forças mal são suficientes para lutar por mim e por minha família. Como eu dizia para meus alunos, 
no final de minha carreira: Agora é a vez de vocês. Bem ou mal, está aí o mundo. Cabe a vocês melhorá-lo. 
Eu posso não ter ajudado muito, mas fiz o máximo que pude. Dei o melhor de mim. Como eu dizia aos meus 
alunos - tenho saudade deles - ninguém é obrigado a ser o melhor aluno da classe, mas tem obrigação 
de ser o melhor que pode ser. Posso não ter sido o melhor naquilo que fiz, mas fui o melhor que pude ser. 
Ah se todos dessem o máximo de si para coisas boas! O mundo seria bem melhor, com certeza.

Bahige Fadel

Crônica Bahige Fadel: O pequeno problema e a (In)Felicidade

Um dia desses, um amigo me disse que estava muito infeliz. Perguntei-lhe o motivo de tamanha infelicidade. E ele me respondeu:
– Alguns probleminhas que eu tenho que resolver.
O olhar que dirigi a ele deve tê-lo assustado. Caramba! Ser infeliz só porque tem uns probleminhas a resolver?

Como pode? Se tenho uma dor de dente, fico infeliz. Se tenho dificuldades para o pagamento de uma dívida, fico infeliz. Se estou sentindo determinada dor, fico infeliz. Se num jogo de futebol, torci o tornozelo, fico infeliz. Se meu filho tirou uma nota baixa na escola, fico infeliz. Se meu filho está com pequena doença, fico infeliz. É assim?

Quer dizer que, salvo raríssimas exceções, todo mundo é infeliz. Não há felicidade no mundo, então. Não conheço nenhuma pessoa que não tenha nenhum probleminha para resolver. É preciso não confundir tristeza ou preocupação com infelicidade.

Amigo, sua felicidade é uma escolha. Não deve depender dos pequenos problemas que tem que resolver. Mesmo porque, se ficar infeliz, seu problema não se resolverá. Sua infelicidade será mais um problema em sua cabeça e corpo. Não é assim que a gente trata a nossa felicidade.

Ela é um bem impagável e, por isso, não pode estar condicionada a um probleminha qualquer. O problema, você luta para resolver. A felicidade, você tem ou não tem. Se você estiver infeliz, com certeza, terá muito mais dificuldade de resolver seus problemas. É simples. As pessoas felizes acumulam mais condições de resolver seus problemas. As pessoas que condicionam sua felicidade à não existência de problemas, sempre terão problemas e sempre serão infelizes.

Certa ocasião, uma pessoa me perguntou:
– Como a gente pode ser feliz, com um péssimo governo que temos? Com a violência que existe? Com a corrupção andando livre pelos altos escalões? Com as drogas tirando a vidas de seres humanos e enriquecendo seres desumanos? Como a gente pode ser feliz assim?

E eu lhe disse: Não condicionando sua felicidade a esses fatores. Veja o que você pode fazer de prático para acabar com esses problemas ou, pelo menos, reduzir a sua influência no mundo, sem abrir mão de sua felicidade. E se descobrir que pode fazer muito pouco, faça esse muito pouco, sem deixar de ser feliz. É que sua felicidade pode melhorar o mundo. Pode deixar felizes outras pessoas. Pode ajudar outras pessoas a se tornarem felizes. É que quem deseja a felicidade dos outros não pode apresentar-se infeliz a elas.

E se, com tudo isso, assim mesmo, você optar pela infelicidade, o que será das pessoas que o amam? Infelizes. O que será de seus amigos? Infelizes. O que será de seus companheiros de trabalho? Infelizes. O que será de você? Um problema a ser solucionado.
Quer saber? Ainda encontro felicidade com a presença da minha mulher. Com a certeza de que sou importante para a minha família. Com os amigos que tenho.

Com as minhas caminhadas matutinas. Com o fato de poder fazer um bolo de maracujá, que os outros adoram. Com o fato de ter netos. Com a certeza de que os problemas que tenho não se solucionarão com a minha infelicidade. Então, aqueles que teimam valorizar demais os motivos para serem infelizes, não contem comigo. Vou continuar lutando pela minha felicidade e a dos outros.

Bahige Fadel

Crônica desta quinta-feira, retrata o fim da paciência “Perdi a Vontade”

Todos devem se lembrar da famosa frase de Rui Barbosa: ‘De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto’.

Pois é. Parece que esta frase nunca deixa de ser atual. A cada minuto que passa, a gente vê ou lê ou ouve notícias estapafúrdias. Com isso, fica pensando: De que adianta ficar malhando em ferro frio? Não adianta nada. Sai governo, entra governo, as notícias são muito parecidas. A única diferença é que numa época a personagem é mocinho e noutra é vilão. E a gente perde a vontade de ficar comentando, dando opinião.

Se na maioria dos casos nem os fatos importam, mas as versões, de que adiantam as opiniões? Dá vontade de desistir. De deixar o barco seguir conforme a correnteza.

Está difícil entender certas coisas. Na vida, as coisas nem sempre são como 2 + 2 = 4. Os resultados são os mais diversos, dependendo das circunstâncias. E a inversão de valores? Nossa! Coisa de louco.

Recentemente, um diretor do São Paulo Futebol Clube vociferou umas bobagens, após o time ser redondamente prejudicado pelo árbitro. Entre as ‘poéticas’ frases, referindo-se ao técnico do adversário, soltou: ‘Portuguesinho de m…’ Foi um deus-nos-acuda. Xenofobia! Precisa ser punido.

Todo mundo se indignou com o ‘portuguesinho’. Ninguém destinou uma frase à m… Quer dizer que chamar um português de portuguesinho não pode, mas dizer que ele é uma m…, pode. Pode?

Se eu fosse processar todos aqueles que me chamam ou chamaram de turco, turquinho, beduíno, não teria tempo de viver. Aliás, no início, tentei explicar para as pessoas que turco é uma coisa, árabe é outra, mas não deu certo. Desisti. Quando vou comprar carne – cansei de esperar pela picanha prometida – os atendentes do açougue já vão falando: O que precisa hoje, turco? E eu digo o que quero e sou muito bem atendido.

E explicar o que é beduíno, então? Tentei explicar que beduínos são um grupo étnico que vive nos desertos do Oriente Médio e do norte da África, mas não adiantou. E isso não me causou nenhum problema, mas chamar um português de portuguesinho – grande técnico, aliás – é xenofobia.

Então, o ‘agressor’ pede desculpas, não porque se sentisse culpado, mas porque era conveniente pedir, e tudo fica bem. Não tenho mais paciência para assistir a isso.

Querem ver outro fato? Sabem quanto a Lava-Jato conseguiu que culpados devolvessem ao governo? Mais de 26 bilhões de reais. Só a Petrobrás se beneficiou com mais de seis bilhões.Só que desmantelaram a Lava-Jato, pararam de investigar casos de corrupção e libertaram os envolvidos.

Agora, esses envolvidos querem a devolução do dinheiro pago. Dá para entender? Dá para aguentar isso? E o pessoal

da Lava-Jato é que está sendo punido, agora.
Então, a gente pergunta: O que é certo e o que é errado? E a resposta depende de um monte de coisas.E nunca haverá a verdade definitiva. Sabem de uma coisa? Vou terminar essa crônica com uma frase que costumava dizer aos mais jovens, já na minha velhice: “As lutas que eu deveria lutar eu já lutei. Está na hora de vocês começarem a agir. Eu já não tenho mais idade e paciência”.

Bahige Fadel

“Superação”, artigo do professor Bahige Fadel

Tenho visto em vários sites mensagens e vídeos de casos de superação. ‘Menino de rua passa em primeiro lugar em vestibular.’ Não é sensacional? Isso mostra como é possível pessoas irem além do que esperam delas ou do que as condições em que vivem permitem. ‘Atleta corre contundido os últimos dez quilômetros da maratona e consegue medalha.’ Não é agradável ler algo com esse conteúdo? Claro que é. Ninguém espera nada de um atleta contundido, numa maratona.

Se ele tivesse desistido, ninguém o incriminaria. Todos achariam normal e, até, lamentariam o azar do atleta. Mas ele foi além do que esperavam e conseguiu uma medalha.
E por que esses dois casos ocorreram? Em primeiro lugar, porque eles tinham um objetivo. Em segundo lugar, porque eles se prepararam para realizar esse objetivo.

Em terceiro lugar, porque eles confiavam na capacidade que tinham. Em quarto lugar, porque tinham orgulho daquilo que faziam. Em quinto lugar, porque estavam preparados para as dificuldades que poderiam aparecer. E, finalmente, porque queriam vencer.

Assim, quando perceberam que, apesar das péssimas condições para os estudos, no primeiro caso, e da contusão, no segundo, precisavam superar os obstáculos e continuaram.
Comecei com esses dois casos de superação, para entrar numa situação mais delicada. E estejam certos: não adotarei o politicamente correto. Um dia me perguntaram se eu era a favor do programa Bolsa Família. E eu respondi que, nos moldes atuais, eu sou contra.

A pessoa ficou surpresa com minha resposta. E eu expliquei: Desde que surgiu o programa, vem aumentando o número de beneficiados. Isso quer dizer que, além do dinheiro distribuído, o governo nada tem feito para tirar essas pessoas da condição miserável. Além disso, a gente ouve comentários sobre pessoas que se negam a trabalhar com carteira assinada, para não perderem o dinheiro da Bolsa.

E isso, além de ilegal, é imoral. Assim, o que está ocorrendo é que as pessoas se acomodam ao programa pelo qual são beneficiados e não se esforçam para melhorar. Estão a dez, quinze anos na mesma situação.
E como fazer para que o Bolsa Família melhore pra valer a vida das pessoas? Existe um jeito? Claro que existe, É só querer. É só não querer que um programa que poderia ser maravilhoso seja usado para fins políticos.

Para começar, com o programa Bolsa Família poderia ser criado um programa de qualificação de pessoas para o trabalho. Junto com esse programa, um plano de encaminhamento de pessoas, agora qualificadas, para empregos. Para estimularem as pessoas a se qualificarem, cria-se um tempo limite para o recebimento desse dinheiro.

Por exemplo, cinco anos. São cinco anos em que, com o auxílio dos programadas do governo, as pessoas se qualificam para alguma profissão, arranjam emprego e saem do Bolsa Família. Assim, as pessoas sabem que terão cinco anos para se preparar, superar dificuldades, esforçar-se.

Caso contrário, não terão mais nada.Claro que as pessoas que não conseguirem nada nos cinco anos não serão abandonadas. Não tenho a fórmula mágica para a solução do problema, mas poderia, por exemplo, haver uma legislação que vai diminuindo gradualmente o dinheiro entregue às pessoas que não se prepararam para o emprego.

É apenas uma ideia. Isso ajudaria as pessoas a irem além do que estavam acostumadas a fazer. As pessoas teriam que se superar. Teriam que fazer mais do que faziam. Desse jeito, o Bolsa Família teria sentido. Ajudaria as pessoas necessitadas e permitiria que as pessoas tivessem condições de se sustentar com seu próprio trabalho.

Quando escrevo essas linhas, fico pensando em meus pais. Pai aleijado, pobre, com dois filhos, num país estranho. Mas havia um sonho: criar seus filhos. Veio a um país de oportunidades – Brasil – e superou todas as dificuldades que surgiram. Meus pais devem ter tido orgulho dos filhos. Eu e meu irmão, com certeza, temos orgulho deles. Superaram tudo porque queriam mais.

Bahige Fadel

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O Bem e o Mal

O bem sempre existiu. O mal sempre existiu. Os bons e o maus sempre conviveram num mesmo espaço. Às vezes, uns vencem e dominam. Às vezes, os outros vencem e dominam. Não há domínio permanente. Não há submissão permanente. Há, ainda, o fato de, às vezes, os bons virarem maus e os maus virarem bons. São casos raros, mas existem. O que existe com maior frequência é acharmos que os maus são bons ou que os bons são maus. São situações históricas e inevitáveis. Independente de nossa vontade, elas sempre existirão. A realidade, então, não é acabar com o mal. Não conseguiremos. Mais racional é evitar que o mal consiga sobrepujar o bem. Se o mal sobrepujar o bem, teremos muitos problemas. Assim, o desejável é lutar para que o bem lidere todas as ações possíveis.

 

Parece simples, né? Mas não é. Ao contrário, é muito difícil. A dificuldade mais notável é saber o que é o bem e o que é o mal. Para simplificar, poderia dizer que o bem está relacionado às boas ações e que o mal está relacionado às más ações. Simples. Ocorre que o que é uma boa ação para uma pessoa pode representar uma ação má para outras. Outra dificuldade é que, na maioria das vezes, o bem e o mal estão na mesma pessoa. É muito difícil uma pessoa ser apenas boa e outra ser apenas má. Sei que alguns dirão que Deus só tem o bem. Mas vamos falar de seres humanos. Desses que estão atuando na sociedade, nos governos, nos clubes esportivos, nas igrejas, nos supermercados… Em todos os lugares.

 

Já que é impossível debelar o mal, vamos diminuí-lo com boas ações, para que ele não tenha forças para dominar. E como se faz isso? Em primeiro lugar, anulando suas ações em nós mesmos. Impedindo que esse mal nos domine, atue sobre nós. Depois, ajudar os outros a dominarem o mal. Uns fazem isso com orações. Outros com reflexões. Outros, ainda, fazem isso com ações. Agir para o bem corresponde a aprimorar as suas boas qualidades e a estimular que as boas qualidades dos outros prevaleçam. Na política, por exemplo, como é que se faz isso? Se você se julgar capaz de melhorar a sociedade com a política, participe. Seja atuante. Pode ser candidato a um cargo público ou pode ser um bom eleitor. Atue sempre com empatia. Coloque-se no lugar dos outros e veja o que deve ser feito pelo outro. Impeça que os maus políticos (o mal) vençam os bons. E se os maus políticos já estiverem no poder, dificulte as suas ações.

Há várias maneiras para se fazer isso.

A primeira é o exemplo. Seja bom, com boas ações e ideias, e faça-se notar, para que os outros percebam que ser bom vale a pena. Depois, estimule a educação. A educação se faz pelo exemplo e pelos conhecimentos.  Um não pode estar dissociado do outro. O bom exemplo auxilia a pessoa a transformar o conhecimento em sabedoria. E essa sabedoria acompanhada do bom exemplo é que tranformará o mundo.

 

Tudo isso é muito difícil, mas não é impossível. É lento, mas pode ocorrer. Não é preciso ter pressa. O bem nunca será perfeito. Portanto, haverá sempre algo a fazer por ele. Mãos à obra!

 

BAHIGE FADEL

 

BAHIGE FADEL