Coluna Bahige Fadel

Bahige Fadel “Só para Esclarecer”

Falar corretamente não é frescura. Não é esnobismo. Falar corretamente tem vários objetivos. Um deles é respeitar o idioma com o qual você se expressa. Outro objetivo é preservar a língua. Se todos falassem do jeito que quisessem, um dia (muito distante), não teríamos mais línguas. Teríamos uma infinidade de dialetos, o que dificultaria a comunicação fora daquele grupo do dialeto.

Pois bem. Disseram-me que era frescura esse negócio do verbo HAVER, com o sentido de existir, ocorrer. Só que não é frescura. É o respeito às normas da língua portuguesa. Vamos esclarecer. O verbo haver, com o sentido de existir, ocorrer, é IMPESSOAL. O que quer dizer isso? Ele não tem as pessoas do discurso: primeira, segunda e terceira pessoas do singular e do plural. Essas pessoas, sintaticamente, funcionam como sujeito da oração. E o verbo concorda com o sujeito (com a pessoa).

Se o verbo HAVER, com o sentido de existir, ocorrer, não tem pessoa, não tem sujeito. Assim, não tem com quem concordar. Por isso, deverá ficar sempre na terceira pessoa do singular. Exemplo: HOUVE uma prisão; HOUVE várias prisões. Não importa se PRISÃO está no singular ou no plural. pois não é sujeito de HAVER. É objeto direto. Você se lembra de quando aprendeu objeto direto?

E se eu trocar o verbo HAVER por existir, ocorrer? Aí a história é outra. O verbo HAVER é impessoal; o verbo EXISTIR (ou OCORRER), não. Para facilitar, a gente poderia memorizar uma frase simples: Objeto direto do verbo HAVER é sujeito de existir (ocorrer). Então, quando eu falo ‘Ocorreu uma prisão’, o verbo está no singular, porque o sujeito (prisão) está no singular. Se eu passar para ‘prisões’, o verbo deverá ir para o plural, porque o verbo concorda com o sujeito: ‘Ocorreram várias prisões.’
‘Havia vários leões, no zoológico.’ – oração sem sujeito; vários leões = objeto direto
‘Existiam vários leões, no zoológico.’ – vários leões = sujeito (verbo concordando com o sujeito)

Bahige Fadel

Imagem ilustrativa

Entendendo o “Paradoxo”, por Professor Fadel

Não se iluda, meu amigo, as despedidas sempre são tristes. Por mais alegres que sejam, sempre serão tristes. Paradoxo? Loucura? E o que é a vida se não um amontoado de paradoxos? E o que é a nossa vida, se não um rol de loucuras, umas explicáveis, outras sem explicação alguma? A gente costumava brincar dizendo que, neste mundo, o mais normal é o menos louco.

Aliás, só para utilizar outro paradoxo, é até saudável ter alguns momentos de loucura. Sim, saudável. As pequenas loucuras da vida fazem bem para o corpo e para o espírito. Pode ser a loucura aventureira, para sair da rotina e tentar algo que você nunca fez nem sabe se vai dar certo. É como enfrentar um dragão só com um sorriso.

O melhor sorriso seu. Um sorriso tão belo, que é capaz de suavizar a fúria de um dragão. É que, se a gente sempre fugir dos dragões da vida, por medo ou comodidade, teremos sempre a sensação de fracasso ou fraqueza. Às vezes, faz bem sentir-nos Davi ao enfrentar o Golias. Se fracassarmos, o máximo que dirão é ‘mas que loucura!’. Se vencermos, no entanto, dirão ‘Esse é o meu herói! Fez o que ninguém esperava.’ Melhor essa loucura do que viver sempre no marasmo de só fazer as coisas possíveis e previsíveis. Uma pequena loucura aventureira pode fazer com que eu descubra em mim habilidades que eu nem imaginava ter.

Mas voltemos à ideia do primeiro parágrafo. O paradoxo do primeiro parágrafo: Por mais alegres que sejam as despedidas, elas serão sempre tristes. É que tudo depende da razão ou do objetivo. Vamos aos fatos. Um pai se despede do filho, que, pela primeira vez na vida, vai morar noutra cidade. Vai estudar na faculdade. O pai está triste, pois não terá mais a presença do filho. Há aquela sensação de vazio, de ausência. Até as irritações que o filho causava com a roupa suja jogada ao chão, com o volume alto da música, com suas exigências, tudo isso faz falta. E bate aquela saudade. Quando meu filho vai voltar? Por outro lado, há a felicidade do pai pelo sucesso do filho. Pelo sucesso dele como pai. Meu filho está ficando um homem. Já está na faculdade. Logo será um doutor. O motivo da tristeza: a ausência.

O motivo da alegria: o sucesso.
Poderia dar outros exemplos, mas é melhor que cada um encontre o seu. Lembro-me da adolescência, quando caí mergulhando numa piscina da escola. Só que eu não sabia nadar. Fui socorrido pelos colegas. Quando disse a eles que não sabia nadar, veio a exclamação: Mas que loucura! Durante alguns dias, fiquei feliz, por me tornar o principal personagem dos comentários na escola. A alegria veio depois, pois lá na água, tinha sido o maior sufoco.

Sabe de uma coisa, amigo? É muito bom a gente ter um plano de vida, ser organizado. Mas também é bom, vez ou outra, a gente tentar um lance ousado, intuitivo, pelo qual ninguém espera. Dar uma de Ronaldinho Gaúcho, quando jogava bola. Lembra? Vai que dá certo.

Bahige Fadel

“Bahige FadeL: Com artigo ‘Falar Bem”

Vira e mexe, ouço alguém dizendo para outra pessoa, no momento em que me aproximo: “Tome cuidado com o que vai falar; ele é professor de português.’ E eu penso: Caramba! Devem pensar que eu sou um monstro pronto para devorar alguém que venha a cometer um erro de língua portuguesa. Ledo engano. Não sou assim. Não fico corrigindo as pessoas num bate-papo ou num supermercado. Não corrijo. A não ser que me peçam ou que a fala prejudique a compreensão do conteúdo. Caso contrário, fico na minha. A não ser que a intimidade que tenho com alguém me permita essa liberdade.
Vamos explicar algumas coisas. A linguagem, isto é, o uso da língua, tem várias funções. Vou me ater a duas delas apenas: a referencial ou denotativa, que visa a informar, e a poética, que visa à beleza na forma de transmitir uma mensagem. A pessoa estará falando bem quando conseguir unir essas duas funções, ou seja, transmite uma mensagem com clareza e de forma agradável. Eu sei que beleza é algo relativo. Quando explicava a relatividade da beleza aos meus alunos, invariavelmente, dava dois exemplos: um de Vinícius de Moraes:

‘Eu sem você não tenho por quê
Porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar…’

Outro de Valdick Soriano:

‘Eu não sou cachorro, não
Pra viver tão humilhado
Eu não sou cachorro, não
Para ser tão desprezado…’

A língua de ambas as músicas é a portuguesa, mas cada autor escolheu um tipo de linguagem para transmitir a ideia do que sentia com a separação. A função referencial está satisfeita em ambas as composições. Já a função poética… Eu prefiro a de Vinícius.
Eu tendo a aceitar todos os tipos de linguagem, desde que não machuquem ou magoem a língua portuguesa. Guimarães Rosa usou uma linguagem diferente da de Olavo Bilac.

“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” (Guimarães Rosa)
“Última flor do lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela,” (Olavo Bilac)

O que machuca a língua portuguesa são certos vícios, como o de um diretor de escola que conheci, aqui em Botucatu. Ele dizia para os alunos: ‘Mais respeito e menas confiança.’ E os alunos riam. Ou aquele locutor de rádio: ‘Houveram várias prisões.’ E olhe que já expliquei para esse bom locutor que o verbo haver, com o sentido de existir, ocorrer, é impessoal e, por isso, não tem sujeito. Deve ficar na terceira pessoa do singular: Houve várias prisões. Se trocar por ocorrer, muda de figura. O que era objeto direto com o verbo haver vira sujeito com o verbo ocorrer. Daí, o verbo concorda com o sujeito: Ocorreram várias prisões.
Pois é, falar bem não é falar chique. Falar bem é respeitar as funções da linguagem, sem magoar a língua. É só ter um pouco de cuidado.

Bahige Fadel

Coluna Professor Bahige: Fadel “Meus Desejos”

Hoje, eu quero desejar a todos um feliz Natal e um ano novo com mais soluções e menos problemas.
Reafirmo que meus votos são para todos. Todos mesmo. Não apenas para aqueles que procuraram ser bons cidadãos, cumprindo com suas obrigações. Não apenas para aqueles que procuraram ser bons profissionais, aprimorando-se em suas atividades, para poderem ser sempre melhores. Não apenas para aqueles que foram bons filhos, procurando realizar suas funções como filhos, fazendo as tarefas mínimas que lhes são atribuídas, cumprindo com suas atividades escolares e evitando maiores problemas aos pais. Não apenas para os pais, que souberam como educar os seus filhos, dando-se amor e exigindo responsabilidades. Se com tudo isso, puderam ainda ser amigos de seus filhos, melhor ainda. Não apenas para os políticos que utilizaram seus cargos e funções para melhorar a vida dos cidadãos, que cumpriram ou, pelo menos, procuraram cumprir com suas promessas de campanha. Não apenas para as mães que deram conta de suas funções de mães, não terceirizando a educação de seus filhos, mas que, apesar das múltiplas funções que tiveram que desempenhar, não abriram mão de sua condição de mães. Não apenas para o patrão que procurou estimular seus empregados, reconhecendo o seu valor e aceitando suas dificuldades, procurando apoiá-los, para que pudessem se desenvolver em suas atividades profissionais. Não apenas para os empregados que trabalharam com dedicação, competência e honestidade, valorizando o seu trabalho e a empresa de que fazem parte.
Desejar um feliz Natal para essas pessoas é uma moleza. Acontece que Cristo, a principal personagem do Natal, não veio ao mundo apenas pelas pessoas boas, para presenciar a sua bondade. Veio também para socorrer os maus e fazer com que se tornassem pessoas melhores.
Assim, desejo um feliz Natal para aqueles que não foram bons cidadãos também, na esperança que, no nascimento de Cristo, vejam nascer nelas os bons sentimentos e as boas atitudes.
Desejo um feliz Natal aos profissionais que não procuraram cumprir com suas obrigações, na esperança de que passem a ter, na percepção do sacrifício de Cristo, a consciência de que estão agindo como Judas contra os vários Cristos que há no mundo.
Desejo um feliz Natal até para os políticos corruptos e incompetentes, na esperança de que se arrependam e se penitenciem, passando a agir em benefício da coletividade.
Desejo um feliz Natal também para os pais que, por comodismo e irresponsabilidade, lavaram as mãos e terceirizaram a educação de seus filhos, na esperança de que descubram a maravilha de educar e proteger seus filhos, dando-lhes condições para que sejam pessoas felizes e úteis à sociedade.
Enfim, desejo um feliz Natal e um ano novo com mais soluções e menos problemas a todos. Aos bons, na esperança de que se mantenham bons ou, até, se tornem pessoas melhores; aos não tão bons, porque é um tempo de perdão e de esperança. E eu espero, sinceramente, que o mundo seja melhor. Para que isso aconteça. é preciso que as pessoas sejam melhores. Espero que sejam.

Bahige Fadel

Professor Fadel: Crônica desta semana “Difícil Entender”

Recentemente, ouvi uma notícia segundo a qual uma universidade federal do Maranhão havia contratado uma artista trans para apresentar a sua arte aos alunos. Sua apresentação foi uma dança erótica em que a referida artista trans mostrava suas partes íntimas, que, aliás, não deviam ser tão íntimas assim. E a artista deve ter feito um sucesso enorme, pois foi alegremente aplaudida. Quero deixar claro que ela foi paga por nós, que pagamos os nossos impostos.

A crônica não tem como objetivo discutir sobre sexo ou gênero, como preferem atualmente. Desejo falar sobre educação, sobre o processo de ensino e aprendizagem. Então, a pergunta que não quer calar é esta: O que a universidade ensinou e o que o aluno aprendeu, com essa apresentação artística? Notem que não estou colocando nada entre aspas, para que não pareça uma ironia do autor. Não quero ser irônico. Quero, apenas, dirimir dúvidas a respeito do processo de ensino e aprendizagem. já que meus longos anos na educação não foram suficientes para entender o que aconteceu, com o uso do meu dinheiro, nessa atividade.

Está certo. Podem dizer que o assunto era sexualidade ou gênero sexual. Até aí eu entendi. Agora, eu não consegui entender o que os alunos entenderam com o espetáculo apresentado pelo artista trans. Vamos lá: artisticamente, ele mostrou à plateia suas partes não tão íntimas. E o que isso ensina? O que isso mostra que os alunos ainda não conheciam? Um aluno universitário, em tese, já conhece esse tipo de espetáculo melhor que o professor. Na verdade, não ensinou nada. Apenas mostrou o que já havia sido visto.

E não estou discutindo a qualidade da apresentação, pois não vi.
Isso me faz lembrar a época em que eu era diretor de escola. Numa festa cultural realidade pela escola que eu dirigia, uma turma apresentou uma dança moderna. As meninas dançaram direitinho. Quando fui cumprimentar a professora pela apresentação, perguntei-lhe como tinha sido o treinamento das alunas. Para minha surpresa, a professora me disse que não havia feito absolutamente nada. As meninas lhe disseram que desejavam dançar e a professora as inscreveu. Elas conheciam a dança, que era feita num programa de TV. Decepcionei-me. Era uma festa cultural. O mínimo que se podia desejar era um aprendizado artístico. Mas não houve nada. As meninas fizeram o que já sabiam fazer, independentemente da escola. Ou seja, a escola não teve participação alguma, a não ser ceder o espaço. Isso tem pouquíssimo valor para o processo de ensino e aprendizagem, pois ninguém aprendeu nada, nem a professora, que poderia ter feito uma pesquisa sobre aquele tipo de dança e explicado para seus alunos.

Voltemos ao espetáculo trans. Não tem alguma semelhança com a história que acabei de contar? Infelizmente, a tal universidade apoiou o professor responsável. Falou em diversidade cultural, em respeito às diferenças. Essas coisas aí que são ditas quando não há um argumento melhor. Na verdade, não passou de uma apresentação inútil ou quase inútil.

Se houve alguma utilidade, foi a estupefação e a indignação que ocorreram.
Depois não entendem por que somos sempre os últimos nas avaliações internacionais de nossos alunos.

Bahige Fadel

Bahige Fadel para reflexão; “Perdi o Bonde e a Esperança” de Carlos Drummond de Andrade

O leitor deve conhecer um famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, cujo título é SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA:

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

Como se vê, o poeta mineiro revela uma desilusão muito grande. O primeiro verso é significativo. Nada deu certo e não vai dar certo. É inútil continuar tentando. E eu pergunto: O que leva uma pessoa a isso? O que leva uma pessoa a esse desânimo? O que leva uma pessoa a essa sensação de inutilidade? De fragilidade? De impotência? É só poesia ou é a vida? Com certeza, é a vida.

Quando você percebe que uma ação sua pode trazer mais coisas ruins do que boas, o que faz? Realiza a ação assim mesmo? Claro que não. Seria insano. A não ser que você seja tão masoquista, que sinta prazer em sofrer, em se sentir derrotado. O lógico é você cruzar os braços e ver o que pode acontecer sem a sua ação.
Confesso que muitas vezes me sinto assim. Sem forças para reagir. Sem vontade de reagir. É que há tanta coisa errada, tanta coisa desonesta, tanta coisa maldosa, sem punição, sem condenação, sem revolta, que percebo ser inútil reagir. Tudo é relativizado para justificar o erro. Roubo nem sempre é crime, para uma conhecida autoridade.

Se a pessoa nada tem, pode roubar o relógio de um rico. Mas pode mesmo? Se o rico tem muito com o trabalho que realizou, o que nada tem pode conquistar algo com o trabalho que deveria realizar. Mas o que nada tem prefere ter algo que não lhe pertence. E a autoridade acha normal que isso aconteça.
Atualmente, não sei se é em todos os lugares, parece que conquistar algo é crime. A pessoa diz: Aquele cara está bem de vida. E não diz isso como um elogio, mas como uma crítica.

É como se dissesse: Por que ele tem o que eu não tenho? Ele poderia pensar de maneira diferente: O que eu tenho que fazer para ter o que ele conseguiu? Mas isso dá trabalho, né? Tem que estudar pra caramba, levantar cedo, comer o pão que o diabo amassou, vencer obstáculos, ser competente, criativo, perseverante… Um monte de coisas difíceis. É mais fácil e rápido tirar daquele que fez tudo isso para conquistar o que conquistou. E com o apoio de autoridades.

Volto ao poeta: ‘Entretanto há muito tempo/ nós gritamos’. É, há muito tempo, eu gritei. Achei que podia mudar o mundo. Algum exemplo bom eu deixei. Mostrei que o trabalho vale a pena. Mostrei que o estudo vale a pena. Mostrei que a honestidade vale a pena. Mostrei que a empatia vale a pena. Mostrei que a educação vale a pena. Tomara que algumas pessoas tenham visto e acreditado.

Bahige Fadel

As diferenças de outras épocas em; “No Meu Tempo” por Fadel

No meu tempo;

Não é raro a gente ouvir essa expressão. E quando ouvimos, pode contar, quem falou tem mais de sessenta anos. No meu tempo… E lá vêm as diferenças entrevo antes e agora. Quando se diz isso só para mostrar as diferenças entre o que era e o que é, tudo bem. Mas quando o objetivo é dizer que antes era melhor, já não concordo. É a mesma coisa que comparar Pelé com Maradona ou Messi, no futebol. Não dá para comparar. Os campos de jogo eram diferentes, a bola era diferente, a preparação física era diferente, os adversários eram diferentes, a estrutura do futebol era diferente. Tudo era diferente. É muito melhor dizer que cada um foi o melhor em seu tempo.

E isso acontece em outros campos. A educação, por exemplo. A do passado era melhor ou a de hoje é que é melhor? Não dá para comparar. Quando eu estava no primário, praticamente, a única informação que eu tinha sobre o mundo era o que o professor dizia. E eu não tinha meios de avaliar se aquilo era certo ou errado. Hoje é diferente. A criança entra na escola com acesso a um monte de informações. Em alguns aspectos, o aluno tem mais acesso a informações do que o professor, que é de uma geração diferente. O aluno tende a dominar melhor a tecnologia do que o professor. Por tabela, vem outra pergunta: O professor de antes é melhor do que o de hoje?

Difícil comparar. O que se pode dizer é que os professores de antes ensinavam com o que tinham; os professores de hoje ensinam com o que têm. O que se pode dizer, com certeza, é que o professor de hoje tem que ter mais informações do que tinham os professores do passado. Mas isso também não é vantagem. Ter mais informações hoje é bem mais fácil do que era ter informações no passado. Havia coisas certas e erradas no passado; há coisas certas e erradas no presente.

A família do passado é melhor do que a família do presente? Não dá para dizer, com absoluta certeza. É diferente apenas. Parodiando Fernando Pessoa, não dá para dizer que é mais do que só diferente. As famílias do passado eram mais estáveis? Sim, eram. Mas o mundo também era mais estável. Hoje, a mulher é mais independente. Muitos filhos são mais educados por babás e por escolas do que pelos pais. No passado, as mães eram ‘do lar’ e cuidavam da educação das crianças. O pai era o provedor. Hoje, a gente torce para que os pais, quando estão com os filhos, sejam bons pais. É o máximo que se pode fazer. Ninguém pode imaginar que o mundo volte a ser como era no passado.
E a política do passado era melhor que a do presente? Não acredito. Sempre houve bons e maus políticos. Sempre houve os tais cambalachos. Sempre houve os acordos por baixo do pano. Sempre houve os corruptos. Mas sempre houve também os idealistas, os bem intencionados. É que antes era mais fácil encobrir os erros. Quando eram descobertos, viravam um escândalo. Hoje é muito mais difícil. Está todo mundo de olho em tudo. Mas também é muito mais fácil divulgar os acertos. Há muitos meios de comunicação. É só saber utilizá-los.
É o seguinte, meu amigo. Esqueça esse negócio de ficar comparando o presente com o passado. É inútil. Procure aperfeiçoar o presente, para que ele seja o melhor possível. Na política, por exemplo. Só vote naquele que tem condições de fazer algo em benefício da população.

Na educação, por exemplo, procure, dentro de suas possibilidades, acompanhar as atividades de seu filho. Na família, por exemplo, não se esqueça de que a estabilidade familiar depende de você, de sua vontade, de seu projeto de vida. Não culpe os outros. Sei que tudo isso é difícil, mas também sei que não é impossível.

Coluna: Bahige Fadel

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Vai começar o grande espetáculo da “Campanha Eleitoral”

Oba! Vai começar o grande espetáculo da campanha eleitoral. Será o maior show de todos os tempos. Nada faltará para entreter a plateia. Quem paga a conta é o espectador, claro. E muitas vezes, ele – o espectador – nem se dá conta de que, para assistir a esse espetáculo, paga um dinheirão.

E o pior é que, mesmo depois de terminado o espetáculo eleitoral, continua pagando por ele. Palhaços haverá aos montes. Estarão disfarçados de benfeitores, homens de classe, mas são, verdadeiros palhaços. Haverá mágicos também. Muitos mágicos. Suas mágicas, no entanto, não são feitas na hora. São apenas prometidas. ‘Se for eleito, aumentarei o salário mínimo!’ Mágica futura. ‘Se for eleito, trarei empregos para a cidade.’ Mágica! ‘E for eleito, acabarei com a corrupção.’ Uau! E a plateia bate palmas ou porque acha o espetáculo divertido ou porque acredita que a mágica se concretizará.

É uma época diferente. É uma época em que os amigos viram inimigos e os inimigos, amigos. Sensacional! De repente, um desconhecido vira amigo do peito, um verdadeiro irmão. Tudo por um voto. Tudo por um apoio. É a época em que tudo é possível. Prometem transformar em paraíso o inferno que eles mesmos criaram. E como o amor estará em alta! Todos serão verdadeiros apaixonados pelo povo.

Todos jurarão amor eterno pela justiça. Todos amarão as crianças dos outros, os pobres, os fracos e os fortes, mas principalmente os fracos. Todos se declararão apaixonados pela cidade, pelo país e pelo mundo. É a época em que mais se falará de amor e mais se praticará o ódio. Religiosos, então, todos serão. As igrejas estarão lotadas de candidatos fiéis. Todos em busca de votos. Ajoelham-se e fingem orações fervorosas. Deus nunca será tão lembrado como nessa época. Todos prometerão a morte e o sepultamento de satanás.

Será a época dos grandes currículos. A maioria colocará em seus longos currículos que são honestos. ‘Sou honesto!’ E dirão isso como se fosse uma conquista, um troféu conseguido com muita luta, com muito esforço. Não se preocupem. Ninguém dirá que é desonesto. Há certas coisas que não precisam ser ditas. Falarão com orgulho de sua honestidade, como se não fosse uma obrigação, mas uma virtude conquistada. Não esclarecerão como exercem sua honestidade. A palavra honesto é suficiente para eles.

Haverá todos os tipos de candidatos. Haverá os candidatos permanentes. Nunca venceram uma eleição sequer, nunca tiveram uma votação significativa. Mas são candidatos. Devem colocar em seus currículos: Candidato derrotado por quinze vezes. Nunca foram nada, além de candidatos. Há os candidatos que se colocam no páreo por um bem maior: o fundo eleitoral. O fundo eleitoral. O grande milagre. Dão um jeito de viverem do fundo eleitoral durante quatro anos. Depois disso, bem, haverá nova campanha eleitoral. Mas não se preocupem.

Haverá os bons candidatos. Haverá aqueles que têm um plano político para a cidade. Haverá aqueles com projetos consistentes, para a melhoria das condições de vida da população. Haverá aqueles que desejam dedicar uma parte de seu tempo pelo bem do próximo. Haverá aqueles que serão esperança. Haverá. É uma questão de procurar bem, de prestar bastante atenção, pesquisar a vida deles e analisar o que dizem e o que são.

Embora haja os bons candidatos, infelizmente muitas batatas pobres continuarão infectando as batatas boas. Caberá a nós descartar as batatas pobres.

Coluna: Bahige Fadel

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