Coluna Bahige Fadel

Minhas Dúvidas

Sinceramente, hoje, tenho muito mais dúvidas do que certezas. Incertezas. Receios. O que acontecerá no mundo, neste ano? Não sei. As vacinas que estão surgindo representam, realmente, a solução dos problemas com a COVID-19? Também não sei. O Brasil se recuperará economicamente, após a tragédia que assolou o mundo no ano passado? Não sei. Duvido que alguém saiba. Os empregos perdidos serão recuperados em curto prazo? Alguém sabe? O que as autoridades andam alardeando – uns a favor, outros contra – é a verdade ou é, simplesmente, um jogo de cena, uma conversa mole pra boi dormir, um engana trouxas? Não tenho nenhuma certeza. Os defensores do ‘fica em casa’ têm certeza de que isso evita a infecção? Juro que não sei. Eu fiquei em casa, eu lavei as mãos umas cem vezes por dia, eu usei máscara, eu só saí para fazer compras necessárias, eu respeitei o distanciamento social, e fui infectado. Coincidência? Azar? Alguém sabe? Essa vacina com 78% de eficácia vai me imunizar realmente ou estarei entre os 22% que não entram nessa eficácia? Não sei.  Depois de bate-cabeça, de brigas políticas, de mortes lamentáveis, o mundo se tornará melhor, com pessoas melhores e mais solidárias? Não sei. Perdão, aqui a dúvida não é tão grande. Tenho quase certeza de que as pessoas não vão melhorar coisa nenhuma. Os desonestos continuarão desonestos, os maus continuarão maus e os bons continuarão bons. Tomara que os desesperados não tenham mais motivo para desespero.

Não vão pensar que só tenho dúvidas. Tenho algumas certezas. Por exemplo, muitos políticos que agora estão se digladiando, quando chegarem as eleições, serão parceiros. Tudo pelo poder. Se virem que é mais fácil chegar ao poder, poderão aliar-se até a satanás. Serão conchavos dos diabos! Alcançado o poder, poderão brigar novamente, poderão lembrar as inimizades do passado. Alguma novidade nisso ou é um filme já visto? Filme de segunda categoria. Café requentado. Comida mal temperada que a gente engole a força.

Tenho outras certezas. Certeza de que a saúde pública no Brasil continuará precária, embora os mandatários jurem que está melhorando ‘a olhos vistos’. Certeza de que a educação escolar brasileira continuará medíocre, embora os ‘especialistas’ alardeiem que estão criando ‘novidades’ para incrementar o aprendizado. Certeza de que casos de corrupção continuarão a ser denunciados. Uns serão desvendados e haverá punições, mas isso não inibirá ninguém, e novos casos continuarão surgindo, cada vez mais alarmantes. Certeza de que a desonestidade será criticada por pessoas indignadas. Até os desonestos, ou principalmente eles, criticarão a desonestidade. Certeza de que os direitistas criticarão os esquerdistas e os esquerdistas, os direitistas. Mas se esquecerão de dizer que tanto a direita pode ser ruim, como a esquerda pode ser ruim. É que pessoas ruins não podem fazer um sistema bom.

Vamos lá, em meio a certezas e incertezas, uma coisa não pode deixar de existir. A esperança de que algo pode mudar. Mas não uma esperança de braços cruzados. Uma esperança criada no trabalho sério, em atitudes positivas.

BAHIGE FADEL

“Depois da Tempestade”

Vem a dúvida. Não venham com essa de que depois da tempestade vem a bonança. Essa bonança está muito longe de acontecer. Vai demorar pra caramba. Antes de vir a bonança, as pessoas terão que reconstruir tudo que foi destruído. Perdão, já que nem a tempestade terminou ainda – muita coisa ruim ainda vai acontecer – as pessoas ainda precisam ficar muito espertas, muito atentas, muito preocupadas. Está acabando a tempestade das eleições municipais. Aliás, nem sei se essas eleições foram uma tempestade. Parecia que as pessoas estavam mais preocupadas com a tempestade eleitoral dos EUA do que com as eleições do Brasil. Lá nos States, a tempestade desmanchou de vez o topete do presidente Trump. Aqui no Brasil, foi mais uma ventania. Não foi um furacão. Se provocou estragos, foram estragos que já estavam a caminho, já eram previstos. Por exemplo, o PT, o partido do Lula, foi um dos que mais sofreram com a ventania eleitoral. Por outro lado, o PSOL botou a camisa da oposição e foi pra luta, com resultados significativos. Mas nada que mereça manchete na primeira página do New York Times.

Pelo menos, durante esses dias, o pessoal não ficou falando da pandemia da COVID-19. Por falar nisso, um dia desses, uma amiga me perguntou por que COVID-19 é uma palavra feminina. Não é o vírus? Perguntava ela. Não, não é o vírus. É o coronavirus disease 2019. A gente adora o que vem dos EUA. Então, é CO de corona, VI de vírus, D de disease (doença) e 19 de 2019. Assim, é a COVID-19, no feminino, porque é a doença do coronavírus. Mas voltando à vaca magra, nesses dias, parecia que o tal do coronavírus tinha viajado para outras plagas. Bye-bye Brasil! Quando na verdade as coisas com a pandemia não mudaram. E não mudarão, enquanto não houver uma vacina confiável. Não acreditem muito nessa briga Bolsonaro-Dória ou na briga Globo-opositores da Globo. Nenhuma dessas brigas vai resolver o problema. Em primeiro lugar, quando surgir uma vacina confiável, ela não será exclusividade brasileira. O criador da tal vacina não vai chegar para o Dória ou para o Bolsonaro e dizer: ‘Olha, eu criei essa vacina especialmente para você salvar a sua população’. O país que criar essa vacina testada e comprovada vai vendê-la para quem pagar mais. Não sei se o país e o governo de São Paulo estão com esse cacife todos para enfrentar, na grana – o Brasil com o real e os outros países com o dólar e o Euro – os demais países. Se oferecerem a vacina para o Brasil, sem tê-la oferecido para os EUA ou para o Japão e a Europa, é bom desconfiar.

Nossa! A gente começou com as eleições e continuou com a pandemia. A intenção dessa crônica era comentar sobre eleições apenas. Mas conversa vai, conversa vem, a gente vai mudando de assunto. Por falar nisso, em Botucatu, nenhuma novidade. O Pardini confirmou o favoritismo. Tomara que continue a boa administração do primeiro mandato. E a Câmara de Vereadores foi renovada em menos de 50%. Normal. A grande novidade é a presença de quatro mulheres. É a primeira vez que há essa quantidade feminina na história da Câmara de Botucatu. Tomara que tenham êxito e trabalhem pela cidade.

BAHIGE FADEL

E depois?

Sabe, caro leitor, às vezes, a gente se cansa de ouvir tanta coisa inútil. Parece que as pessoas, mesmo quando não têm nada para dizer, fazem questão de dizer alguma coisa, só para marcarem território. Não importa o que falam. Têm que falar. E nesse longo período de pandemia ouvimos um turbilhão de inutilidades. Pessoas que queriam falar. E encheram os nossos ouvidos e olhos  de palavras vãs: inania verba. Enquanto isso, a gente que é leigo no assunto, fica esperando que alguma ideia luminosa surja. Espera inútil. Não há luz nas ideias.

E eu queria ouvir como é que o mundo solucionará, após a pandemia, a grave questão econômica. Será que houve alguém que enriqueceu nesse período? Só se for o fabricante de máscaras. Os demais… Foi uma catástrofe. Está sendo uma catástrofe. Falências a rodo. Desespero total. Descrença completa. Os governos se viram. É só aumentarem os impostos, que o caixa governamental vai sendo abastecido. Não é assim mesmo que se faz, senhor Dória? E nos outros estados deve estar ocorrendo a mesma coisa. Não se pensa em otimizar serviços. Não se pensa em reduzir gastos. É muito mais fácil e com resultados mais imediatos aumentar impostos. Principalmente, tirar dinheiro de aposentados. Afinal de contas, aposentado não faz greve, né?

Mas o que eu não ouvi ou li em lugar algum foram os planos de retomada da economia. Acredito que, em primeiro lugar, deve haver um plano de auxílio àqueles que se ferraram, que perderam tudo ou quase tudo nesse período. Sem esse plano de auxílio, será difícil retomar a economia. Não só no Brasil, mas em qualquer parte do mundo. E estou me referindo a grandes empresas que não têm mais como produzir e empregar. Mas eu não vejo plano algum. Só vejo gente dando palpite – palpite é o que não falta – e os oportunistas de plantão, sempre pensando em si mesmos, não no coletivo.

E uma questão crucial, que é a educação? Quais são os planos. Só vejo gente falar que devem ou não devem voltar as aulas presenciais. Só isso. Está certo, um dia as aulas presenciais irão voltar. Hão de voltar. Mas não será pra já. Há muita coisa ainda por se fazer antes. Mas e depois? Vai-se desconhecer, por exemplo, o que é que se conseguiu fazer nas aulas remotas? O que vai acontecer com aquele que não tinha meios de assistir às aulas on-line? Qual é o plano para esse tipo de aluno. E para os outros, que conseguiram assistir às aulas remotas, porque tinham melhores condições? O que se fará com eles? As avaliações que eles tiveram foram eficientes para avaliar as reais condições em que se encontram? Como deverá ser a retomada de conteúdo. Como será a readaptação à nova realidade? O aluno, simplesmente, retornará à sala de aula e, num passe de mágica, tudo voltará ao normal? Vai ser assim? Já não era tempo de se pensar nisso?  Quando o aluno voltar à sala de aula – e ele voltará – esse plano deverá estar completo. Caso contrário, será uma lástima!

Como vai ser?

BAHIGE FADEL

 

imagem: Pinterest

Decepção

Fiquei algum tempo sem escrever. Aliás, não me lembro de ficar tanto tempo sem publicar algum artigo. Não sei se há algum motivo especial para essa ausência. Talvez seja porque não tivesse mesmo algum assunto relevante para comentar. Talvez seja porque não tivesse visto utilidade alguma em transmitir alguma opinião. Talvez seja para evitar a repetição, dizer o já dito dezenas de vezes. Mas talvez seja pela decepção que tive nessas semanas. Sim, decepção. Decepcionado com o ser humano. Infelizmente, notei que o ser humano não é solidário e, por paradoxal que pareça, não é humano. Ainda bem que há relevantes exceções. Mas a maioria é egocêntrica, individualista, oportunista, mesquinha. E os mais perigosos são aqueles que colocam uma máscara de bonzinhos, para espalharem o seu fel, o seu veneno.

No começo da pandemia, escrevi que esse período poderia levar as pessoas a uma reflexão mais profunda sobre a nossa função na sociedade, para que ela se torne melhor. Ledo engano. Esse período serviu para revelar o que há de mais perverso no ser humano. O prazer com que a mídia apresenta culpados é terrível. Parece não ser importante que haja pessoas morrendo porque a doença ainda não tem cura. Parece não ser importante o que os mais preparados estão fazendo para encontrar uma vacina eficiente. Parece não ser importante o que está ocorrendo com uma sociedade desempregada, que perdeu suas condições econômicas e a possibilidade de se sustentar com a força de seu trabalho. Parece não ser importante o que os mandatários estão fazendo para evitar um colapso daqueles que têm menos condições. O importante parece ser o alarde ao número de mortos e a procura de culpados. Para pessoas insensíveis, têm que existir culpados. E para essas pessoas, tudo é motivo para se encontrar um culpado. Como se houvesse culpados pelas mortes. Então há culpados no mundo inteiro, pois estão morrendo pessoas no mundo todo.

Lamentável. Fico imaginando quantos culpados serão denunciados nessa campanha eleitoral. Fico imaginando como será o nível dessa campanha. Com certeza, será uma briga de foice no escuro. Vai haver gente atirando às cegas e procurando culpados. E a gente não evoluirá absolutamente nada.

Fui infectado pelo coronavírus. Fui atendido, primeiramente, pelo pessoal da prefeitura e, depois, por médicos particulares. Fui medicado bem no início da doença. Eu e minha mulher. E seguimos todos os protocolos. Assim mesmo, fomos infectados. Não fiquei culpando ninguém. Só me preocupou a cura. Hoje está tudo normal. Todos os sintomas desapareceram e voltei a ter uma vida normal. Normal? Bem, dentro das possibilidades de uma pandemia, normal. Estou trabalhando, estou vivendo.

Não há culpados. Há uma realidade. E é uma realidade cruel. Perigosa. As pessoas ainda não sabem direito o que é isso. Todos dão palpites. Parece torcida de futebol: uns torcem a favor, outros torcem contra. Todos deveriam torcer a favor das pessoas que estão procurando uma solução. E essas pessoas também estão aprendendo sobre a doença. Ninguém é especialista em coronavírus. É assim que a gente colabora: seguir as orientações das pessoas que sabem mais e torcer para que uma vacina seja encontrada.

BAHIGE FADEL

foto ilustrativa: Brasil de Fato

Uma parceria necessária

‘E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.’

(Camões)

Camões, o grande poeta da língua portuguesa, ao escrever sua maior obra, Os lusíadas, afirmou que precisava do auxílio do ‘engenho e arte’. O que quis dizer com isso? Quis dizer que, para conseguir concretizar seu desejo de escrever uma obra de tamanho vulto, precisaria de muito esforço, muita técnica, muito conhecimento, muito talento. Trata-se do engenho. Mas isso não era suficiente. Era preciso também a ajuda da arte, isto é, precisava de muita criatividade, muita intuição em busca da beleza.

Assim como Camões, o professor deve pensar a mesma coisa, na realização de sua grande obra educativa: talento e criatividade. É assim que devem pensar os pais na realização de sua grande obra educativa: talento e criatividade. E assim mesmo, é muito difícil concretizar essa obra. É preciso muito talento e criatividade para se ensinar para a autonomia. É preciso muito talento para ajudar um aluno/filho a tornar-se uma pessoa melhor, sem limitar a sua individualidade. É preciso muita criatividade para transformar a rotina do aluno/filho em algo novo, belo, prazeroso, útil.

Se é tão difícil assim, por que não unir forças? Por que não remar na mesma direção? Por que não realizar uma parceria entre escola e família, em que cada uma, realizando a função que lhe cabe, atinja o mesmo objetivo? Por que isolar-se, como se cada parte não dependesse da outra? Por que fazer de conta que cada parte tem tarefas distintas? A tarefa é a mesma: educar. E para educar bem, família e escola precisam de engenho e arte, precisam de talento e criatividade. Só que para Camões isso bastou. Com engenho e arte, ele criou o maior poema da língua portuguesa. Para a educação, no entanto, ter engenho e arte é necessário, mas não suficiente. É preciso usar engenho e arte com amor.

É verdade, nessa parceria entre família e escola, vamos falar de amor. E esse amor no ato educativo deve estar acompanhado de comprometimento, de persistência, de não desistir nunca do aluno/filho, de felicidade. Sim, de felicidade. Afinal de contas, não é isso que desejamos para nosso aluno/filho? Não é isso? Todos querem que ele seja feliz. E para que o aluno/filho seja feliz, tem que aprender a sonhar, tem que aprender a transformar sonhos em realidade, tem que perceber que não está sozinho nessa empreitada, tem que ter certeza de que os envolvidos no processo estão unidos no mesmo propósito.

Gente, temos uma tarefa árdua na educação do nosso filho/aluno. Vamos, então, deixar menos difícil realizar essa tarefa. Vamos ser solidários e cooperativos. A escola complementa a família; a família complementa a escola. Uma não pode excluir a outra. É difícil, eu sei, mas é bom. É bom para quem entrega e é bom para quem recebe.

BAHIGE FADEL

A Quarentena

Eu me lembro de quando a direção de uma das escolas em que trabalho anunciou férias de dez dias, pois, segundo os especialistas, era esse o tempo necessário para que o coronavírus começasse a perder sua força. E achei que era aquilo mesmo. Que dez dias não seriam muito significativos para o desenvolvimento das atividades escolas.

De lá para cá, quanta coisa mudou! A quarentena, que era para ser de dez dias e que a gente precisava ficar explicando para as pessoas que ‘quarentena’ era uma catacrese (uso de um termo por falta de um termo próprio para a designação de um ser ou uma situação), transformou-se numa centovintena – aqui é um neologismo (emprego de palavras novas derivadas ou formadas de palavras já existentes) – que poderá transformar-se noutro neologismo, numa centocinquentena, numa duzentena, coisas deste jaez. E a gente vai se acomodando às necessidades dessa prolongada quarentena, de tempo indeterminado.

E a gente ainda fica ouvindo otimistas e pessimistas de plantão. Otimistas e pessimistas sinceros ou falsos. ‘As aulas presenciais retornarão no dia oito de setembro’. Quá! Quá! Quá! Me engane que eu gosto. Não gosto não. É só um jeito de dizer. ‘Voltaremos aos poucos. Inicialmente, 35% dos alunos’. Lindo! Em primeiro lugar, qual foi a base científica para se adotar essa data de retorno? Não há. É só o chutômetro (outro neologismo) que está funcionando. Em segundo lugar, como é que se faz isso, cara pálida? O professor dá uma aula presencial e, depois, vai correndo pra casa, para dar a mesma aula on-line? E o aluno que não quiser a aula presencial pode assistir à aula on-line ou é obrigado a ir para a escola? Surreal!, como dizem as pessoas, sem saberem ao certo o que isso significa. Por falar nisso, conforme os dicionários, surreal é aquilo que denota estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão, ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo. E é isso mesmo: essas pessoas que ficam dando de especialistas, como se fossem as donas da verdade, são surreais, pertencem ao domínio do absurdo.

Para concluir, acho que vamos vencer esse chinesinho. Não sei se vamos mandá-lo de volta pra China ou se irá pra tonga da mironga do cabuletê. O que eu sei é que vamos dar um chute nos glúteos desse vírus, que para cá veio sem ser convidado, acomodou-se na sala de estar de nossas casas e está provocando muitos males, além da morte.

Quando isso acontecer, teremos que aguentar outros vírus. Serão os vírus dos pais da solução, dos Senhores do Mundo. ‘Porque eu fiz isso, porque eu fiz aquilo, porque eu, eu, eu…’. Os egos todos virão à tona, para atormentar os nossos dias.

Quer saber? É nessas horas que se separam os meninos dos homens. Os homens de verdade enfrentam a realidade com altivez, não fazem nada para tirar proveito da situação e procuram, se não solucionar o problema, reduzir os seus efeitos. E a diminuição dos efeitos está diretamente relacionada à postura que você adota. Qual é a sua postura? A de solidariedade e empatia ou a de soberba e oportunismo?

BAHIGE FADEL

O dia seguinte

Perguntará o caro leitor: Dia seguinte de quê? E eu lhe respondo: Dos meses anteriores. Como será o dia seguinte desses meses pelos quais estamos passando? Em primeiro lugar, a gente precisa saber quantos meses serão.

Ficaremos só nesses quatro da quarentena ou a quarentena se prolongará? Pelo jeito, vai se prolongar. Por quanto tempo? Por mais um mês? Dois meses? Até o ano que vem? Você deve estar dizendo: Só Deus sabe. É verdade, porque os governantes não sabem, os médicos não sabem, os filósofos não sabem. Nem os profetas sabem.

Nem Nostradamus resolveria essa questão. Eu também não sou capaz de resolver. Nem você, caro leitor. Então, só Deus. Só que a gente precisaria saber se Deus quer resolver essa questão. Ou se está deixando a gente de castigo. Aprontou, né? Não cuidou da natureza? Só se preocupou com as coisas materiais? Andou pensando que você é o Deus, e não eu? Muito bem, é o livre arbítrio. Agora chegou a vez de eu mostrar que você não manda nada, que sua força não é nada ante o meu poder. Não é a primeira vez que eu faço isso com a humanidade, cara. É só ler na Bíblia.

Veja o dilúvio que eu provoquei. Veja Sodoma e Gomorra. Está tudo na Bíblia. Um pela água, outra pelo fogo. E agora é um vírus. Ué! Você não achava ser o todo-poderoso? Mostre o seu poder. Um virusinho de nada, que em dá pra ver a olho nu, está acabando com você. Está desafiando os entendidos. Os especialistas. Os expertos ou, se preferir, os experts. Fica mais chique falar em inglês: experts. Mas fique calmo.

Eu não faço isso por ódio. Eu faço isso por amor. Eu sou pai e amo você, meu filho. E como Pai, preciso mostrar pra você o que de ruim você está fazendo para si e para os outros. Você tem se achado. Você se acha o maioral. Você não se preocupa com o bem-estar dos outros. Você só sabe conjugar os verbos na primeira pessoa: eu posso, eu quero, eu sou, eu mando, eu exijo, eu, eu, eu… Agora, você deveria refletir um pouco mais e mudar essa conjugação: eu não posso tudo, eu quero ser melhor, eu sou fraco, eu não mando nada, eu não exijo nada. Tomara que esse vírus tenha servido para uma mudança de postura de você e dos outros. Tomará que, depois disso tudo, as pessoas comecem a perceber que precisam dos outros, que os outros precisam delas.

Tomara que as pessoas comecem a olhar para dentro de si, não como uma forma de egocentrismo, mas como uma forma de se conhecer melhor e de se corrigir. Tomara. Caso contrário, essa pandemia não terá servido para nada. Se as pessoas voltarem a ser como eram, ninguém terá aprendido a lição. Seria uma pena. E eu teria que pensar em outra estratégia, para que as pessoas aprendessem a sua verdadeira missão aqui na terra. Eu as criei com inteligência, não para que ela fosse usada para destruir o próximo, mas para que cada um pudesse, usando-a, tornar-se uma pessoa melhor.

A inteligência foi dada para que as pessoas aperfeiçoassem o mundo que eu construí como sua moradia. Bem, acho que, desta vez, a lição foi aprendida. O mundo que eu construí vai ser melhor. Vai ser bem melhor.

BAHIGE FADEL

Será

Será que tudo isso é por causa da quarentena? Será? Nunca vi tanto ódio espalhado entre as pessoas. Nunca vi tanta vontade de destruir, de procurar defeitos, de criar inimigos, de ofender, de machucar, de humilhar.

Será que é o tal do coronavírus que provoca tudo isso? Se for por causa dele, esse monstruoso vírus é pior ainda do que os apocalípticos mensageiros dizem. Se for por causa dele, esse monstruoso vírus é capaz de destruir muito mais do que os pulmões das pessoas. Está destruindo a dignidade das pessoas, a bondade das pessoas, a compreensão das pessoas, a tolerância das pessoas, a capacidade de aceitar o diferente. Está destruindo quase tudo.

As pessoas parece que não estão mais preocupadas com a saúde delas e dos outros, com a economia delas e da sociedade, com as dificuldades que estamos enfrentando e com as dificuldades maiores que, fatalmente, enfrentaremos. Estão preocupadas com a obtenção de vantagens políticas, estão preocupadas com os resultados das eleições de 2022, estão preocupadas com a possibilidade de seu adversário ter sucesso. Estão preocupadas com tudo, exceto com a doença.

A economia do mundo está degringolando, mas não se ouve ou se lê uma palavra sequer de algum governante sobre algum plano de recuperação. As empresas estão decretando falência, mas não se diz absolutamente nada sobre o que se oferecerá a elas para terem condições de sair desse buraco em que foram colocadas. As pessoas estão desesperadas com o desemprego que veio ou que virá, mas não se diz absolutamente nada a respeito de meios viáveis para que elas possam retornar à vida produtiva. Será que esse vírus já infectou o cérebro dessas pessoas, impossibilitando-as de pensar em algo produtivo, em algo útil?

Vejo as pessoas organizando passeatas, umas a favor do governo, outras contra o governo. Vejo pessoas fazendo enquetes para saber se o povo quer a cassação do governo ou não. Vejo pessoas ‘descobrindo’ que tal político já foi acusado de adultério. Vejo pessoas transformando uma brisa em tempestade, apenas para que as atenções dos outros recaiam sobre elas. Será que é o vírus? Será que esse vírus conseguiu atingir alguma parte oculta do ser humano, que o está impedindo de ser humano? De, sendo racional, usar a sua razão para construir algo positivo, algo necessário

para a solução dos problemas, algo definitivo para a recondução do mundo para dias melhores?

E depois que tudo isso acabar, que o vírus tiver ido para outros mundos, o que ficará? O mesmo ódio desses dias? A mesma intolerância desses dias? A mesma má vontade com o próximo? O mesmo rancor com aquele que não pensa como a gente? E o mundo melhor que a gente espera vai ficar para quando?

BAHIGE FADEL