Se em Cristo a sua compaixão o levou ao sofrimento, conosco não seria diferente. Sentir compaixão pelo outro é ‘mergulhar com ele em sua dor’.
Um líder espiritual diante de uma mulher assolada pela desgraça de ter perdido sua casa, seu marido e um dos filhos, num desastre ambiental, ouviu dela que não sentia mais vontade de viver, que não gostaria mais de continuar a respirar, sentia-se pesada para os demais filhos e netos.
Diante dessa fala ele pensou em auxiliar a jovem senhora com palavras positivas. Dizendo que os demais filhos estavam vindo para ficar com ela. Que os netos e netas tinham grande prazer em viver com ela, em estar com ela. E que ela tinha mais filhos para cuidar, desfrutar e continuar a viver.
À primeira vista o líder religioso fez um bom trabalho, mas no que diz a respeito da compaixão não há nada de cristão, nem de consolador em sua fala e posicionamento.
Essa é uma das grandes perdas da religião, de forma geral, a dificuldade com a dor, com a lagrima e com o luto.
Usando o exemplo dessa história, vemos no líder a tentativa de vencer ‘argumentativamente’ a pobre senhora enlutada. Ou seja, meu argumento é melhor que o seu.
Ele em outras palavras disse: ‘Olha, você precisa deixar de reclamar, de chorar, precisa ser mais positiva’. Palavras que soaram mais como acusação do que de consolação.
Nada mais castrador, nada mais sem compaixão do que o não ser capaz de mergulhar na dor alheia.
Talvez seja essa uma das doenças contemporâneas, não temos tempo a perder chorando, não queremos gastar nosso tempo chorando com a gente mesmo e com ninguém também.
Motivados pela síndrome do ser, do fazer e possuir, temos dificuldades com nossas chagas e com chagas alheias.
É verdade que Jesus disse: amem o próximo, como a vocês mesmos.
Não nos permitimos saborear o sal das nossas lagrimas, é claro e evidente que não teremos compaixão com o sal das lagrimas alheias.
Renato Ruiz Lopes
pastor da PIB – Primeira Igreja Batista em Botucatu