Não se iluda, meu amigo, as despedidas sempre são tristes. Por mais alegres que sejam, sempre serão tristes. Paradoxo? Loucura? E o que é a vida se não um amontoado de paradoxos? E o que é a nossa vida, se não um rol de loucuras, umas explicáveis, outras sem explicação alguma? A gente costumava brincar dizendo que, neste mundo, o mais normal é o menos louco.
Aliás, só para utilizar outro paradoxo, é até saudável ter alguns momentos de loucura. Sim, saudável. As pequenas loucuras da vida fazem bem para o corpo e para o espírito. Pode ser a loucura aventureira, para sair da rotina e tentar algo que você nunca fez nem sabe se vai dar certo. É como enfrentar um dragão só com um sorriso.
O melhor sorriso seu. Um sorriso tão belo, que é capaz de suavizar a fúria de um dragão. É que, se a gente sempre fugir dos dragões da vida, por medo ou comodidade, teremos sempre a sensação de fracasso ou fraqueza. Às vezes, faz bem sentir-nos Davi ao enfrentar o Golias. Se fracassarmos, o máximo que dirão é ‘mas que loucura!’. Se vencermos, no entanto, dirão ‘Esse é o meu herói! Fez o que ninguém esperava.’ Melhor essa loucura do que viver sempre no marasmo de só fazer as coisas possíveis e previsíveis. Uma pequena loucura aventureira pode fazer com que eu descubra em mim habilidades que eu nem imaginava ter.
Mas voltemos à ideia do primeiro parágrafo. O paradoxo do primeiro parágrafo: Por mais alegres que sejam as despedidas, elas serão sempre tristes. É que tudo depende da razão ou do objetivo. Vamos aos fatos. Um pai se despede do filho, que, pela primeira vez na vida, vai morar noutra cidade. Vai estudar na faculdade. O pai está triste, pois não terá mais a presença do filho. Há aquela sensação de vazio, de ausência. Até as irritações que o filho causava com a roupa suja jogada ao chão, com o volume alto da música, com suas exigências, tudo isso faz falta. E bate aquela saudade. Quando meu filho vai voltar? Por outro lado, há a felicidade do pai pelo sucesso do filho. Pelo sucesso dele como pai. Meu filho está ficando um homem. Já está na faculdade. Logo será um doutor. O motivo da tristeza: a ausência.
O motivo da alegria: o sucesso.
Poderia dar outros exemplos, mas é melhor que cada um encontre o seu. Lembro-me da adolescência, quando caí mergulhando numa piscina da escola. Só que eu não sabia nadar. Fui socorrido pelos colegas. Quando disse a eles que não sabia nadar, veio a exclamação: Mas que loucura! Durante alguns dias, fiquei feliz, por me tornar o principal personagem dos comentários na escola. A alegria veio depois, pois lá na água, tinha sido o maior sufoco.
Sabe de uma coisa, amigo? É muito bom a gente ter um plano de vida, ser organizado. Mas também é bom, vez ou outra, a gente tentar um lance ousado, intuitivo, pelo qual ninguém espera. Dar uma de Ronaldinho Gaúcho, quando jogava bola. Lembra? Vai que dá certo.
Bahige Fadel