Quem é o sábio que se propõe a definir o ser humano? Não é tarefa fácil. Mas não vale essa de dizer que o ser humano é a mais perfeita criação de Deus. Não vale. Mesmo porque, se Deus criou o homem para ser perfeito, alguma coisa aconteceu no meio do caminho, e deu tudo errado. O ser humano está longe… muito longe… infinitamente longe de ser perfeito. Se um dia o homem foi perfeito, como dizem os mais crentes, esqueceu como é. Ou não gostou do que era e resolveu mudar. Deve ter achado que a perfeição era muito enfadonha. Deu uma guinada de 180 graus e foi pro caminho contrário. Haja imperfeição, cara!
Vamos arriscar alguma coisa? Afinal de contas, isto é uma crônica, não uma tese. A gente tem que ser criativo, não exato. A exatidão está para os matemáticos, não para os cronistas. Os cronistas são parecidos com os meteorologistas: às vezes acertam, mas não dá para confiar cegamente nas suas previsões. Está bem, lá vai. É um ser indecifrável… incompreensível… obscuro… paradoxal… Taí. Paradoxal cai bem. O que é o paradoxo? Aparente falta de nexo ou de lógica; contradição; raciocínio aparentemente bem fundamentado e coerente, embora esconda contradições decorrentes de uma análise insatisfatória de sua estrutura interna. Epa! Isso não é meu, é do dicionário. Falta de lógica… contradição… É isso aí.
Quer ver? Quantas vezes você viu, ouviu ou leu alguém defendendo a ideia de que devemos defender a guerra? Quantas? Acho que nenhuma. A não ser algum desvairado como o Quincas Borba, de Machado de Assis, que dizia que a guerra é necessária, porque preserva os mais fortes e elimina os fracos, como se os mais fracos não devessem viver. Hitler deve estar aplaudindo a personagem machadiana, lá no inferno. ‘Ao vencedor, as batatas! ’ Todo mundo aparece para defender a paz. Por acaso, em sua longa ou recente vida, quantas vezes você ficou sabendo que não havia nenhuma guerra no mundo? Quantas? Lá no Oriente, parece que eles colocam na agenda: ‘Amanhã, às 10h, início da guerra contra tal país; no mês que vem, guerra contra outro país; em dezembro, pausa para as festas de Natal e ano novo; retomada da guerra na segunda semana de janeiro (a primeira é para curar a ressaca) ’.
A guerra não precisa ser com balas e bombas. Parece que isso está meio fora de moda. A guerra de palavras é a mais moderna. E mais barata. E sua capacidade de destruição é maior do que as bombas. É que as palavras têm o poder de destruir física e moralmente. E são lançadas a torto e a direito. Indiscriminadamente. E fazem isso em nome da liberdade, da democracia, dos direitos. Como se a gente devesse ter a liberdade ou o direito de destruir os outros, não importando o motivo. É que as pessoas se acham no direito de serem juízes e carrascos, ao mesmo tempo. Julgam e executam, sem darem satisfação a ninguém. Dão-se um poder que não possuem e colocam em prática uma maldade, que aprimoram a cada dia.
BAHIGE FADEL