A educação sempre esteve na berlinda. Leigos e especialistas sempre encontram um motivo para dar seus pitacos sobre a educação brasileira. E na maioria das vezes é sobre a avaliação escolar e/ou aprovação-retenção. O interessante é que se fazem as críticas e as ‘soluções’ encontradas raramente são criativas. Na maioria das vezes, a ‘solução’ está no retorno ao passado, como se no passado a educação fosse algo maravilhoso.
Lá no meu tempo de aluno – isso faz muito tempo! – havia cento e oitenta dias de aula. Em junho, havia exames parciais. Em julho, eram férias escolares. Voltava-se em agosto. As aulas iam até o final de novembro, sendo que no final do ano havia os exames finais, que eram escritos e orais. Ah! Estava esquecendo: havia quatro aulas por dia, com intervalos de dez minutos entre uma aula e outra. Eu não me lembro direito, já que eu era criança, mas deviam criticar a educação daquele tempo. Em seguida, os especialistas acharam que deviam aumentar o número de dias letivos.
Passamos para duzentos dias. Depois, aumentaram para cinco aulas diárias. Depois, para seis. Depois, inventaram a escola de tempo integral. Modernização nos processos de avaliação. Novas tecnologias. Novos métodos. Didática avançada. Moderníssima. E com isso, a educação melhorou? Segundo os críticos, não.
No século XVI, o insuperável Camões escreveu:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Quer dizer: esse negócio de mudar é comum no ser humano. A pessoa muda o jeito de se vestir, de falar, de pensar… Há aquelas que gostar de mudar os móveis da casa. Gostam de reformar a casa, mesmo que ela não esteja precisando de reforma. Há pessoas que gostam até de mudar o tempero da comida. São as novas qualidades do poeta. E essas mudanças trouxeram alguma melhoria? Não obrigatoriamente. Trouxeram ‘novas qualidades’, segundo o poeta. Novas características. Se elas são melhores ou piores, é preciso analisar. Segundo os críticos, as mudanças mais recentes da educação não estão dando os melhores resultados.
Uma coisa está me deixando encucado: todo mundo fala de avaliação, de promoção automática, de mudança curricular, da falta de colaboração da família, mas pouquíssimas vezes ouço falarem da qualidade das aulas. Será que se promovessem mais capacitação, atualização dos professores e especialistas da educação, a educação não melhoraria? De nada adianta tirar o celular do aluno, se não lhe oferecerem algo melhor. Se o aluno estava usando o celular, porque a aula não lhe era interessante, sem o celular a aula continuará sendo desinteressante. O que fazer, então, para que a aula seja interessante para o aluno? Em primeiro lugar, essa aula tem que ser de qualidade. Em segundo lugar, tem que ser útil. Cabe à escola e à família mostrar ao aluno a utilidade das aulas.
Se não fizerem isso, podem mudar o que quiserem, que os problemas continuarão.
Bahige Fadel
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