A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorizou, nesta sexta-feira (21), a empresa Speedbird Aero, de Franca (SP), a realizar entregas comerciais via drones.
A autorização é a primeira do tipo no país, que permite que uma aeronave não tripulada seja utilizada para operações comerciais, inclusive de alimentos.
A certificação habilita o drone modelo DLV-1 NEO a voar em rotas BVLOS (Beyound Visual Line of Sigh, na sigla em inglês), que significa além da linha de visão do piloto, ou seja, de forma automatizada.
A empresa deverá seguir uma série de protocolos, como levar cargas de até 2,5 kg e sobrevoar lugares não povoados, como rios e serras, em um raio de 3 km, como explica o CEO e cofundador, Manoel Coelho.
“Diferente dos drones para filmagem, o nosso segue uma série de critérios. As pessoas ficam preocupadas, porque é há algo novo. Elas confundem achando que são drones comuns, que conseguem fazer piruetas, e não tem nada a ver”, afirma.
Quem pode transportar o que?
Em parceria com a Speedbird, o iFood é a primeira empresa a utilizar os serviços no Brasil. Por enquanto, as entregas estão sendo realizadas em Aracaju (SE), em um trecho que antes não conseguia ser atendido pelo aplicativo.
Atualmente, estão sendo transportados comidas, bebidas, produtos de mercado e documentos. Mas, de acordo com Manoel Coelho, em breve a empresa solicitará para a Anac e a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) a aprovação de mais itens.
“Estamos realizando estudos com laboratórios parceiros para demonstrar a segurança aeronáutica em transportar materiais biológicos, como vacinas, amostras de sangue”, diz Coelho.
O drone pode cair?
Os drones têm cerca de dois metros e podem voar até a 40 km/h. Eles são automatizados por meio de softwares e hardwares. Essas tecnologias levam em seus códigos 136 quesitos de segurança, que servem para anteceder falhas e tomar ações específicas.
Se houver a perda do link de comunicação com a aeronave, por exemplo, os automatismos comandarão o retorno do veículo de volta para sua base operacional.
Para cada drone, há também um operador. Em último caso, se todos os quesitos de segurança falharem, o operador do drone corta os motores e é acionado um paraquedas para efetuar o pouso.
“Passamos das milhares de horas de testes dos voos automatizados. Essa automatização é muito mais segura quando nós fazemos uma comparação entre um voo tripulado, pelo não tripulado. Ela não deixa que o piloto coloque a aeronave em risco”, afirma Coelho.
Os drones vão substituir os entregadores?
O intuito dos drones é que eles sirvam como uma complementação na rota de entrega, visando diminuir o tempo do percurso e também evitar acidentes terrestres aos quais os entregadores possam estar sujeitos.
“Nossa proposta é deixar o drone fazer a parte arriscada, e colocar o motoboy para fazer o último trecho. Ele não vai precisar correr para o meio da cidade para entregar um hamburguer do outro lado. O objetivo do drone é tirar esse grosso”, explica Manoel.
Segundo o CEO, em um
teste em Belo Horizonte (MG), o tempo de entrega foi reduzido de 40 para 5 minutos. Com o tempo encurtado, a ideia é que o motoboy possa realizar mais entregas. Além disso, para o sócio fundador, a tecnologia também ajuda a reduzir a emissão de carbono na atmosfera.
Como funcionam as rotas?
Todas as rotas de voos precisam ser pré-estabelecidas e pré-autorizadas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA). Essas rotas são automatizadas e não conseguem ser posteriormente alteradas.
“O piloto não pode mudar essas rotas. Então nós não podemos voar para a casa de ninguém aleatoriamente. Ele vai de uma farmácia para um hospital, de um corredor A para um corredor B”, afirma Coelho.
A empresa também precisa seguir margens de segurança estabelecidas no projeto, como não sobrevoar lugares povoados, manter distância de possíveis fontes de interferência eletromagnética e respeitar as condições meteorológicas.
Já os pontos de decolagem e de pousos serão locais estabelecidos em comum acordo com o cliente, seguindo as orientações de estar dentro de um círculo com raio de quatro metros, em um local protegido com marcações.
Os drones têm câmeras?
O drone possui uma câmera acoplada, mas ela é utilizada apenas para monitorar o voo. Seguindo os mesmos movimentos da aeronave, a câmera decola e pousa na vertical, e permanece na horizontal durante o voo. Sendo assim, não é possível filmar e fotografar casas ou pessoas.
“Ela não vai filmar residências, não vai tirar fotos, não vai invadir a privacidade das pessoas, nem física, nem em imagens”, afirma o CEO.
Então na prática, como será?
O drone não realiza subidas na diagonal, igual a aviões ou helicópteros. Devido a sua automatização, ele decola na vertical, navega na horizontal e pousa na vertical.
Também para não invadir o espaço desses outros veículos aéreos, a altura permitida para os drones é voar entre 30 e 120 metros. Em média, eles costumam voar a 40 metros.
Antes da decolagem, a caixa que levará os produtos é acoplada manualmente. No pouso, quando o drone está aproximadamente a 20 centímetros do solo, a caixa é ejetada de forma automática.
O motoboy, que já estará no local, pega a encomenda e faz o último percurso até o local de entrega. Já o drone decola e retorna para o ponto de partida.