Muito antes da corrida dos carros elétricos – que ganhou mais força na atual década -, a fábrica nacional da Gurgel Motores, localizada em Rio Claro (SP), já tentava fazer história na indústria automobilística nacional.
Primeiro, com o protótipo do minicarro elétrico Itaipu, em 1974, que levava duas pessoas, mas que não chegou a entrar na linha de montagem. Depois, com o E-400, entre 1981 e 1982, um utilitário criado em configurações furgão ou picape com cabine dupla. Este, de fato, foi o primeiro elétrico produzido em série no país.
Curioso é que, 40 anos depois, o Itaipu E-400 virou um projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do curso Veículos Elétricos e Híbridos da pós-graduação da escola técnica Senai “Conde José Vicente de Azevedo”, localizada no bairro do Ipiranga, em São Paulo Capital.
O projeto foi idealizado pela turma do curso e Val Arrais, engenheiro especialista em veículos elétricos e híbridos que trabalhou em projetos do Grupo Volkswagen por 30 anos.
Segundo ele, tudo começou quando o veículo foi anunciado em um grupo de carros antigos. “Sempre fui antigomobilista, tenho outros modelos e apareceu a oportunidade de comprar esse Gurgel Itaipu E-400”, conta o idealizador.
Adquirindo mais informações do carro, descobriu que estava parado há pelo menos 20 anos. Mas nem isso fez o entusiasta desistir do trabalho. Arrais foi conhecer o veículo, acertou a negociação com o então proprietário e correu atrás da documentação para a transferência.
Com tudo acertado, desenvolveu um projeto para apresentar ao Senai. “A ideia é fazer um retrofit [ou uma modernização] do conjunto motriz para o E-400 realmente cair na rua, não para ser um carro de garagem”, esclareceu Arrais.
Todas as partes relacionadas ao motor e ao banco de baterias originais serão substituídas por componentes novos. Assim, além de garantir um motor e uma fonte de energia atualizados, o veículo terá mais potência e autonomia para ser usado no dia a dia.
O Senai topou a ideia de restaurar o Gurgel nessas condições, e os trabalhos começaram. O primeiro passo foi levar o veículo à escola e planejar as fases do TCC, desenvolvendo um cronograma de execução dos trabalhos.
“Como o Senai tem várias escolas [mecânica, elétrica, funilaria, pintura etc] dentro da mesma unidade, as partes de funilaria e pintura também serão feitas lá [Conde José Vicente de Azevedo]. Ou seja, toda a restauração será feita no Senai”, explica.
O projeto ainda está no começo e levará seis meses para ficar pronto, que é o tempo para a conclusão do curso. Além das modificações de motor e baterias, o utilitário ganhará direção atualizada e freios a disco para maior comodidade. “Depois devemos buscar algum sistema para medir a carga da bateria”, completa Val.
O objetivo da turma é usar apenas peças de fornecedores nacionais. As baterias, por exemplo, serão Moura e devem garantir uma autonomia entre 150 km e 200 km por recarga.
Já o motor está sendo negociado com a Weg. Sua potência deve ser de 15 kWh (ou 20 cv), para alcançar uma velocidade máxima de 100 km/h. No entanto, o especialista ainda aguarda um retorno da fabricante para definir se é esse mesmo o trem de força a ser usado.
Curioso para saber sobre o custo do projeto? Arrais diz que nunca parou para calculá-lo. “Se a gente fizer as contas, desiste do projeto”, conta, rindo. O engenheiro explica que, em outro projeto que executou, só as baterias, parte que demanda maior investimento, custaram R$ 60.000.
Essa não é a primeira vez que Val Arrais trabalha em projetos assim, após ter deixado a Volkswagen. O especialista já desenvolveu dois veículos elétricos junto à Moura, que, inclusive, foram apresentados no Salão Latino Americano de Mobilidade Elétrica de São Paulo no fim do ano passado.
Agora, terá uma experiência um tanto diferente na restauração do Gurgel E-400 retrofit. Afinal, além de dar uma nova vida ao elétrico, terá de caprichar no projeto para se formar na primeira turma da pós-graduação de Veículos Elétricos e Híbridos da Faculdade Senai..
Imagens: Val Arrais
Fonte: mobiauto