São Paulo, 28 de outubro – Trinta dias após o primeiro alerta sobre a suspeita de intoxicação por metanol em bebidas, o Brasil contabiliza 58 casos confirmados e 15 mortes, a maioria concentrada em São Paulo, mas com vítimas também no Paraná e Pernambuco. A tragédia, que mobilizou órgãos de saúde, vigilância sanitária e polícias em diversas regiões, teve sua provável origem desvendada: a falsificação de bebidas alcoólicas utilizando álcool combustível adulterado com metanol.
O ciclo de contaminação expôs a vulnerabilidade da cadeia de produção e distribuição, culminando com a localização de postos de combustível no ABC paulista que teriam vendido o álcool irregular, e a distribuidora onde os produtos falsos eram envasados, 21 dias após o primeiro aviso. “O primeiro ciclo foi fechado. Vamos continuar as diligências para identificar a origem de todas as bebidas adulteradas no estado”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian.
Resposta Governamental e Mobilização Científica
Apesar da lentidão inicial, com o caso ganhando atenção da mídia apenas na semana seguinte ao alerta do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas (SP), as ações ganharam corpo. Em 07 de outubro, o governo federal estabeleceu um comitê integrado para gerenciar a crise, providenciando etanol farmacêutico e o antídoto fomepizol para hospitais pólo organizados até mesmo em estados distantes como nas regiões Norte e Centro-Oeste.
O ritmo acelerado de confirmação ou descarte de casos se deu com o avanço nos protocolos de testagem. O Instituto de Criminalística de SP confirmou a adição anormal de metanol nas garrafas, e a Polícia Técnico-Científica adotou um novo protocolo que reduziu o tempo de análise de bebidas adulteradas.
Paralelamente, a ciência entrou em campo: pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram o “nariz eletrônico”, um dispositivo de resposta rápida que utiliza inteligência artificial para detectar metanol em uma única gota de bebida.
Impacto e Próximos Passos
O surto de intoxicação, que o Ciatox classificou como “fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados”, resultou em uma queda de até 5% no consumo no setor de bares e restaurantes em setembro, segundo a Abrasel.
O boletim mais recente, de sexta-feira (24), confirma 58 casos e 15 óbitos (nove em SP, seis no PR e seis em PE). Outros 50 casos e nove óbitos seguem em investigação.
O tema agora domina a agenda política:
Em São Paulo, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) deve ser instalada amanhã para apurar os esforços de combate à falsificação.
Na Câmara dos Deputados, o PL 2307/07, que visa tornar a adulteração de alimentos e bebidas um crime hediondo, pode entrar em votação esta semana.
As investigações continuam para determinar se os casos em outros estados (como Paraná e Pernambuco) estão ligados à mesma rede de falsificação originada na Grande São Paulo.
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