Dicotomia, por Bahige Fadel

Confesso que, há algum tempo, algumas coisas no mundo estão me preocupando. É a dicotomia de tudo. As pessoas parece que perderam a empatia. O egocentrismo domina tudo. E a dicotomia é o princípio de todas as ações. E essa dicotomia dificilmente levará à solução dos problemas. Ao contrário, a tendência é que leve a conflitos, em que todos saem perdendo.

Essa dicotomia sempre existiu no mundo, mas nos últimos tempos chegou ao extremo. E como existe uma predisposição para o conflito, as coisas só tendem a piorar. Não há mais, além da empatia necessária, paciência para o entendimento. A primeira reação é o confronto. Só no final, quando não há mais alternativas, é que as pessoas se propõem ao entendimento.

É o pobre contra o rico. É o branco contra o preto. É o bonito contra o feio. É o judeu contra o cristão ou o muçulmano. Se é para haver algum tipo de dicotomia, deveria ser apenas do bem contra o mal. Mas não é isso que acontece. Na luta do pobre contra o rico, o pobre é o mal para o rico e o rico é o mal para o pobre. Na luta do judeu contra o cristão, o cristão é o mal para o cristão e o cristão é o mal para o judeu.

Se esse tipo de pensamento continuar existindo, é certo que não haverá uma paz permanente. Poderá, até, haver momentos de paz, que servirão apenas para a preparação dos contendores para a guerra. Só poderá haver paz duraroura, quando as pessoas começarem a perceber que no mundo há espaço para todos. Só não se pode dar espaço para aqueles que agem de maneira desleal, irresponsável, criminosa. Por que é que cristãos, judeus e muçulmanos não podem viver em harmonia?

O Deus não é o mesmo? Deus teria preferência por alguma das religiões? Só os pertencentes a uma religião é que são seus filhos? Por que é que o pobre tem que ser contra o rico e o rico, contra o pobre? Se o rico se tornou rico com o trabalho honesto, qual é o problema? O rico honesto é importante para que o pobre deixe de ser pobre ou para que seja menos pobre. Cada um oferece ao outro o que tem e um ajuda o outro. O rico oferece o emprego e o salário e o pobre oferece sua capacidade de trabalho. Um não consegue viver sem o outro.

O mundo só terá solução quando a dicotomia ceder seu lugar para a harmonia. Só que para haver harmonia, deve haver bondade, compreensão, entendimento, colaboração, solidariedade. Só que, no mundo atual, as pessoas estão tendo vergonha de serem boas. Parece que veem a bondade como fraqueza.

O duro é saber que, se tudo continuar como está, logo todos serão fracos. Mas ainda é tempo de pensar no outro como um ser com direitos e deveres. Com direito de viver com dignidade, independente da religião, da profissão, da condição social ou do lado político que defende. E com o dever de aceitas as diferenças.

Bahige Fadel

Sobre Fernando Bruder

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