Nos primeiros 70 dias de 2025, Bauru já acumula quase 2 mil casos de dengue e vivencia uma epidemia com risco de superar as estatísticas do ano passado, o segundo mais crítico em mais de duas décadas na cidade. Outra preocupação das autoridades é o retorno da circulação do sorotipo 3 do vírus, que vinha permanecendo em baixos níveis desde 2016 no Estado de São Paulo.
Sua presença representa risco para o aumento de casos da doença, uma vez que ela possui quatro sorotipos e a pessoa infectada só desenvolve imunidade aos que já adquiriu. Em 2025, além do sorotipo 3, o 1 e o 2 continuam presentes como em anos anteriores. “E, quando a pessoa teve dengue há um, dois anos, o contato com outro subtipo pode levar a um quadro mais intenso, tanto com sinais de alerta quanto a forma grave”, alerta o médico infectologista Taylor Endrigo Toscano Olivo, que atua nas redes pública e privada de Bauru.
Segundo dados do Painel de Arboviroses do governo do Estado atualizados nesta terça-feira (11), Bauru contabilizava 1.972 casos de dengue, com duas mortes suspeitas em fase de investigação. Como medida de comparação, considerando apenas as primeiras oito semanas epidemiológicas, são 1.953 registros, número 47% maior que os 1.330 casos acumulados no mesmo período de 2024.
Naquele momento, porém, dois óbitos já tinham sido registrados. Já neste ano, sem contar as duas mortes sob investigação, houve 38 casos com sinais de alarme, quando pacientes tiveram sintomas mais preocupantes como dor abdominal, falta de ar, vômitos, queda de pressão arterial e sangramento de mucosas. “Há, realmente, um volume maior de internações, mas, ao menos por enquanto, não a ponto de chegar ao quadro grave, mas sim pacientes com alguns sinais de alerta”, reforça Olivo.
Ele explica que, além da presença do sorotipo 3 do vírus da dengue, o período prolongado de altas temperaturas, com máximas ultrapassando a casa dos 30 graus por semanas seguidas, também representa risco para o aumento do número de casos e de pacientes com evolução agravada da doença. Isso porque, quanto mais tempo elas persistirem, maior será o período em que larvas do Aedes aegypti irão eclodir, ampliando a densidade de mosquitos no ambiente e, portanto, o volume de pessoas infectadas.
REAÇÃO EM CADEIA
“Com isso, há sobrecarga sobre os serviços de saúdes e, consequentemente, por vezes, um déficit de atendimento. E, ao se depararem com unidades lotadas, muitas pessoas podem desistir de esperar e só retornar mais tardiamente”, observa.
Nestes casos, o paciente já pode estar apresentando sintomas mais graves por não ter recebido orientação médica adequada e não ter adotado as medidas necessárias durante a recuperação, como hidratação abundante. Olivo explica ainda que a evolução da dengue pode gerar confusão, já que, até quatro dias após o início dos sintomas, a fase febril termina.
“A pessoa tem impressão de que melhorou, mas é quando começa a segunda fase da doença, com possibilidade de complicações. Então, se a pessoa chega à unidade de saúde desidratada, o quadro pode se agravar”, cita. Além disso, ele alerta que o monitoramento do nível de plaquetas pelos profissionais de saúde pode não ser suficiente para controlar a má evolução da doença.
“Fora que, neste começo de ano, há casos de Covid, enteroviroses, que também podem atrapalhar a conduta. No caso da dengue, além das plaquetas e dos sinais clínicos, é preciso olhar para o hematócrito no hemograma, que mostra o nível de hemoconcentração, relacionada à desidratação, bem como para o TGO e TGP, sobre a saúde do fígado”, completa.
Fonte: JCNET
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