O republicano Donald Trump, de 78 anos, venceu as eleições presidenciais americanas ao superar a candidata democrata Kamala Harris e se tornou o segundo presidente na História dos EUA a voltar ao poder depois de ser derrotado em sua primeira tentativa de reeleição. A vitória foi confirmada na manhã desta quarta-feira, por volta das 7h30 (em Brasília), quando as principais projeções do país apontaram que a vantagem sobre a rival democrata no estado-pêndulo de Wisconsin não era mais reversível. Com quatro estados ainda em processo de apuração, Trump conquistou 277 delegados no Colégio Eleitoral — sete a mais do que o necessário para retornar à Casa Branca.
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Após 132 anos: Trump se torna segundo presidente na História americana a ser novamente eleito após perder reeleição
A vitória de Trump coroa o retorno de um homem que sobreviveu a infortúnios que facilmente teriam acabado com qualquer pretensão política da maioria dos homens públicos. O republicano sofreu com condenações criminais, processos judiciais e investigações, acusações de autoritarismo, uma inédita mudança de oponente durante a campanha e até mesmo a uma tentativa de assassinato em um comício.
Apesar do cenário adverso, Trump conseguiu aproveitar as frustrações e receios da população sobre a economia e a imigração ilegal para derrotar a vice-presidente Kamala. Com uma retórica inflamada e promessas de mudar profundamente o sistema político, o republicano atraiu dezenas de milhões de eleitores que temiam que o sonho americano estivesse cada vez mais fora de alcance e que recorreram a ele como um aríete contra o establishment dominante e a elite política.
Trump reivindicou a vitória antes mesmo de alcançar os 270 delegados. Durante a madrugada (manhã de quarta em Brasília), o republicano discursou para apoiadores reunidos na Flórida, após confirmar a vitória na Pensilvânia — considerada por analistas como a “joia da Coroa” entre os estados-pêndulo. O ex-presidente agradeceu ao povo americano “pela extraordinária honra de ter sido eleito o seu 47º presidente e o seu 45º presidente”, referindo-se ao primeiro mandato e ao próximo. Ele também declarou que “este será para sempre lembrado como o dia em que o povo americano recuperou o controle de seu país”.
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Trump também usou parte de seu discurso para tecer elogios ao bilionário Elon Musk, seu ferrenho apoiador, a quem teria prometido um cargo no governo caso fosse eleito novamente. Ao encerrar o discurso, o republicano mencionou o atentado sofrido durante um comício, em julho, e disse que sua vida foi poupada “por uma razão” — o incidente foi usado de forma quase messiânica pela campanha, especialmente durante a Convenção Nacional Republicana, realizada dias depois do ataque.
— E esse motivo foi salvar nosso país e restaurar a grandeza da América. E agora vamos cumprir essa missão juntos — afirmou. — A tarefa que temos diante de nós não será fácil, mas trarei toda a energia, espírito e luta que tenho em minha alma para o trabalho que você me confiou.
Com a contagem dos votos ainda em andamento, Trump já tem a vitória confirmada pelas principais projeções do país em 27 estados, incluindo todos os estados-pêndulo, que eram considerados pelas pesquisas eleitorais como terrenos em disputa acirrada, apurados até a manhã desta quarta-feira. O republicano também liderava nos outros três estados ainda em apuração — Arizona, Michigan e Nevada — e estava na dianteira no número de votos nominais, algo que não conseguiu nem quando venceu pela primeira vez, em 2016, quando derrotou Hillary Clinton no Colégio Eleitoral, mas perdeu no voto popular.
Críticas e nostalgia
Trump venceu a disputa contra Kamala após quatro anos de uma campanha baseada nas críticas ao governo de Joe Biden, na nostalgia dos quatro anos do governo do republicano e, principalmente, em questionamentos ao mesmo processo eleitoral que o levou ao poder duas vezes. Como um dos mais célebres sobreviventes políticos dos EUA, Trump escapou de condenações ligadas à insurreição por ele conclamada em janeiro de 2021, e soube transformar o Partido Republicano à sua imagem, agora cada vez mais ligada ao extremismo.
O Trump de hoje está a anos-luz do Trump empresário que cultivou uma imagem de empreendedor de sucesso, frequentador do jet-set e promotor de lutas de boxe. A formação de um império imobiliário, ao mesmo tempo em que sua cidade natal, Nova York, experimentava um renascimento após os caóticos anos 1970, estampou seu nome nas ruas, e seu rosto se fez conhecido mundo afora, seja como apresentador de um reality show no qual cunhou o bordão “você está demitido!”, seja em uma ponta em “Esqueceram de mim 2”, filmado em um de seus hotéis.
‘Drenar o pântano’
Ao lado dos negócios, Trump sempre teve os olhos no meio político: nos anos 1980, chegou a cogitar uma candidatura à Casa Branca, com ideias que incluíam desde o corte do déficit fiscal a políticas de desarmamento nuclear com a União Soviética. Nos anos 2000, montou comitês exploratórios para verificar a viabilidade de uma entrada na corrida, quando nutriu laços com figuras de todos os lados do espectro político: em 2008, endossou Hillary Clinton nas primárias democratas contra Barack Obama — na eleição geral, apoiou John McCain. Anos depois, os três seriam alvo de comentários pouco republicanos.
Sua ascensão definitiva veio na década passada. Em 2011, em um discurso na CPAC, mais importante reunião conservadora dos EUA, apresentou propostas que pautaram seu discurso político nos anos seguintes, com foco na economia, políticas de controle do aborto e menos regras para a venda de armas de fogo. Em sua fala, declarou que “nosso país será grande novamente”, uma frase que se tornaria lema não apenas de sua vitoriosa campanha de 2016, mas também de todo um movimento moldado à sua imagem, o Maga.
Trump soube captar um sentimento global de insatisfação com o meio político tradicional. Ao prometer “drenar o pântano” em Washington, punha em xeque seus próprios companheiros de partido, que não foram poupados nas intensas primárias de 2016. O senador Marco Rubio, rival na disputa pela vaga como candidato republicano, era chamado de “Pequeno Marco”, enquanto Ted Cruz, outro postulante, foi xingado de mentiroso em mais de uma ocasião. A verborragia e a popularização das mentiras eleitorais, as famosas “fake news”, viraram marcas pessoais em uma campanha que surpreendeu analistas políticos, veteranos de Washington e até o próprio Trump: na celebração da vitória, na madrugada de 9 de novembro, o presidente eleito parecia catatônico, incrédulo com o que tinha acontecido.