Uma rotina lotada de atribuições, sem pausas e imersa em tecnologia. Nossos corpos estão hoje mais estressados do que nunca – também como consequência de um estilo de vida muitas vezes frenético que desrespeita as regras básicas de funcionamento do corpo humano.
Mais do que apenas ficar calmo e tentar controlar circunstâncias externas, especialistas garantem: é preciso incluir o manejo do estresse na rotina diária, sob pena de reflexos irreversíveis ao corpo, a curto, médio e longo prazo.
Muito prazer, cortisol!
Protagonista no mecanismo do estresse dentro do organismo, o cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, que estão localizadas acima dos rins. Dentre suas funções, ele auxilia a reduzir inflamações, contribui para o funcionamento do sistema imune, mantém os níveis de açúcar no sangue e pressão arterial constantes. Porém, a sua função mais conhecida está relacionada à mediação das respostas fisiológicas ao estresse.
A neurocientista do SUPERA, Livia Ciacci, explica que a reação do organismo chamada estresse tem, na verdade, um propósito evolutivo: “é em essência uma resposta ao perigo, sendo que no seu primeiro estágio, quando identificamos um perigo, o corpo reconhece o estressor, que pode ser algo físico, ambiental ou mental, e ativa o sistema neuroendócrino”.
Segundo ela, a partir disso as glândulas suprarrenais passam então a liberar os hormônios do estresse (adrenalina, noradrenalina e cortisol), que aceleram o batimento cardíaco, dilatam as pupilas, aumentam a sudorese e os níveis de açúcar no sangue, reduzem a digestão, contraem o baço (que expulsa mais hemácias, ou glóbulos vermelhos, para a circulação sanguínea, o que amplia o fornecimento de oxigênio aos tecidos) e causa imunossupressão (ou seja, redução das defesas do organismo).
A função dessa resposta fisiológica é preparar o organismo para a ação, que pode ser de luta ou fuga ao estresse.
“O problema não é ter momentos de estresse ao lidar com situações da vida, isso faz parte do funcionamento normal. O problema está no estresse crônico, quando os níveis de cortisol se mantêm altos por muito tempo”, alertou.
O cortisol ao longo da vida
Todos temos o cortisol atuando na regulação endócrina. O ritmo circadiano dele, em condições normais, mostra taxas altas já no início da manhã e vai diminuindo à noite. O seu ponto máximo (20ug) ocorre 1h antes da pessoa acordar pela manhã e o mínimo (5ug) cerca das 00h. Porém, ele pode ser produzido em rajadas e a sua concentração aumenta rapidamente em resposta ao estresse.
O cortisol no cérebro e as consequências para o organismo
O cortisol em níveis elevados é prejudicial para várias estruturas cerebrais responsáveis por funções superiores – de raciocínio e memória – e controle emocional.
Segundo a neurocientista do SUPERA, Livia Ciacci, muitas pesquisas mostram que há inclusive perdas celulares ocasionadas pelo estresse principalmente no sistema límbico, provocando a retração de processos dendríticos, a inibição da neurogênese, e até mesmo a morte de neurônios, diminuindo o volume do hipocampo (área essencial para consolidação de memórias).
“Várias regiões do córtex pré-frontal – área que regula o comportamento e toma decisões – também sofrem considerável remodelação com a exposição ao cortisol alto. Essas alterações afetam diretamente funções executivas, como a memória de trabalho, que é a responsável por processarmos várias informações durante uma tarefa”, alertou.
Os altos níveis de cortisol têm efeitos neuro tóxicos no cérebro, independentemente da idade. Inclusive, o alto cortisol por estresse crônico nas gestantes pode atrapalhar o desenvolvimento do cérebro dos bebês.
“Os efeitos fisiológicos do cortisol no estresse crônico mais discutidos se referem aos aspectos imunológicos, uma vez que a ação imunossupressora do hormônio facilita o surgimento e agravamento de doenças. Mentalmente, a pessoa cronicamente estressada apresenta cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional, alterações que comprometem as relações do sujeito com o mundo”, concluiu a especialista.
Confira 7 dicas para fazer o manejo do estresse no dia a dia:
- Invista em autoconhecimento, só assim poderá entender seus limites e estabelecer metas adequadas na vida;
- Seja realista ao gerenciar o tempo, se uma tarefa demora 5 horas, não diga aos outros que fará em 2;
- Aprenda alguns exercícios de alongamentos e respiração para acalmar nos momentos de tensão e ansiedade;
- Tenha hobbies e respeite os momentos de lazer e cuidados pessoais, não alimente pensamentos “workaholics”;
- Estude e pratique técnicas de comunicação clara e assertiva, é um bom caminho para evitar conflitos com pessoas, principalmente no ambiente de trabalho;
- Planeje e já deixe agendado os momentos do ano que fará consultas e exames preventivos de saúde;
- Não centralize todos os problemas para você e não hesite em buscar ajuda psicológica profissional.