Um homem negro afirma ter sido alvo de ofensas racistas e de uma cusparada no rosto por parte de uma colega de turma durante um curso de capacitação oferecido por uma empresa produtora de cana de açúcar, em São Manuel. O caso ocorreu no dia 2 de junho, mas o registro policial só foi feito no último dia 8 de agosto.
Marcos Paulo Rodrigues Franco, de 21 anos, é colaborador da Usina São Manoel e participava de um curso de manutenção mecânica para jovens aprendizes recém-contratados. As aulas eram oferecidas na unidade do Senai, em São Manuel, em uma parceria entre a usina e a instituição de ensino.
Logo após a injúria racial, Samira Vitória teria cuspido no rosto do jovem. O momento da cusparada foi gravado por um outro colega de turma. O Boletim de Ocorrência foi registrado como injúria racial.
Ao g1, Marcos Paulo Franco afirmou ter sido alvo de ofensas racistas, assédio moral e sexual desde que foi contratado pela empresa e passou a participar do curso do Senai. Ele conta que se sentia perseguido pela suspeita, com xingamentos, e por funcionários mais experientes.
“O racismo ficou evidente quando ela começou a me provocar diretamente entre os colegas de trabalho. Não havia preconceito por parte de colegas aprendizes, apenas pelos funcionários da empresa que eram efetivos e na hierarquia superiores a nós”, comenta.
Ainda segundo a vítima, durante as aulas do curso, ainda no segundo semestre de 2022, a agressora também fez comentários homofóbicos contra ele. Em uma das ocasiões, segundo o jovem aprendiz, ela teria dado um tapa no rosto dele.
No momento, Marcos Paulo está afastado da empresa por atestado médico em virtude de problemas psicológicos. “Precisei aumentar as doses do remédio antidepressivo e ansiolítico para controle da ansiedade”, relata.
O g1 entrou em contato com a Usina São Manoel, que pontuou, em nota, “repudiar qualquer demonstração de discriminação, seja ela por motivo de gênero, deficiência, orientação sexual, raça/ etnia, idade ou qualquer outra característica ou diferença”.
A empresa afirmou que, “após o acontecimento, o fato foi relatado pela vítima ao canal de ouvidoria da organização” e que, “ao jovem que foi vítima da agressão, que ainda faz parte do quadro de colaboradores da São Manoel, estão à disposição para qualquer demanda que possa surgir como consequência desse lamentável episódio de preconceito”.
O comunicado afirma também que, “em comum acordo entre a gerência da área de manutenção e diretoria agroindustrial, a jovem aprendiz responsável pela agressão foi desligada na data de 07 de junho de 2023, cinco dias após o fato”.
Por fim, a empresa afirma que quanto às declarações referentes a casos de abusos de outros colaboradores da usina, não há registros dessas denúncias, sendo que “o colaborador não acionou o canal de ouvidoria novamente após o caso de racismo com a outra jovem aprendiz”.
O Senai-SP, por sua vez, pontuou que “não tolera atitudes discriminatórias e/ou preconceituosas de qualquer tipo”.
Ainda em nota enviada ao g1, a instituição de ensino esclareceu que teve ciência do ocorrido e que, “depois do episódio, a coordenação da escola, juntamente com a analista de qualidade de vida, conversou com os envolvidos e deu todo o acolhimento ao aluno agredido”.
O comunicado do Senai ainda pontua que “a aluna agressora foi advertida, ficou afastada das atividades e não foi permitida a participação dela na cerimônia de formatura, considerando que o fato se deu uma semana antes do término do curso no qual os alunos estavam matriculados”, finaliza.
A reportagem do g1 também tentou contato com Samira Vitória Serafim, mas não conseguiu retorno até o início da noite desta quinta-feira (24).
Fonte: g1
Foto: Arquivo Pessoal