Mães atípicas relatam desafios enfrentados em Botucatu e convocam audiência pública para cobrar soluções

Nesta quinta-feira (5), o Jornal Alpha Notícias, apresentado pelo jornalista Fernando Bruder, recebeu em seus estúdios da Rádio Alpha FM – 87,5, Talita Gutierrez e Edna Fagundes, duas mães atípicas da cidade de Botucatu que vieram compartilhar os desafios e dificuldades enfrentados por famílias de pessoas com deficiência e neurodivergência no município.

Logo no início da entrevista, Talita esclareceu um termo que ainda gera dúvidas em parte da população: o que é ser uma mãe atípica. Segundo ela, trata-se de mulheres que vivem uma maternidade fora do padrão considerado “comum”, por serem mães de pessoas com deficiência ou neurodivergentes, como é o caso de crianças e adultos com autismo. Talita explicou que, embora o autismo hoje seja reconhecido como uma deficiência, isso nem sempre foi assim — o que influencia até a forma como essas mães são vistas e tratadas.

 “Nada mais é do que a mãe da pessoa com deficiência ou de uma criança ou adolescente neurodivergente”, resumiu Talita.

Edna Fagundes compartilhou sua experiência pessoal como mãe de uma jovem de 25 anos diagnosticada com autismo ainda na infância. Segundo ela, o apoio institucional cessou por volta dos 12 anos da filha, deixando-a desassistida durante a adolescência e vida adulta. Ela relatou a dificuldade de reinserção nos serviços de acompanhamento e lamentou que até hoje a filha não tenha acesso ao suporte necessário, sobretudo após completar a maioridade. Além das barreiras institucionais, Edna também denunciou o preconceito enfrentado dentro do próprio núcleo familiar:

 “Muitas vezes fui criticada como se fosse uma mãe negligente, como se o comportamento da minha filha fosse culpa minha. Isso vindo de familiares próximos”, desabafou.

Ela também relembrou o período da municipalização do ensino em Botucatu como um dos momentos mais difíceis. Durante anos, precisou frequentar a escola junto com a filha por falta de preparo da rede de ensino:

Morava na zona rural, saía de casa ao meio-dia e voltava só às seis da tarde, porque as escolas não tinham estrutura”, contou.

Diante da recorrência e persistência dos problemas, Talita Gutierrez anunciou que as mães atípicas da cidade protocolaram um pedido de Audiência Pública na Câmara Municipal, marcada para a próxima terça-feira (10), às 19h. O objetivo é apresentar às autoridades uma lista de demandas elaborada com base em reuniões com famílias da cidade.

Pedimos que a audiência fosse em horário acessível para a população. Muitas mães trabalham ou cuidam dos filhos durante o dia e não conseguem participar de reuniões pela manhã”, explicou Talita.

A principal cobrança será voltada aos setores de saúde e educação, áreas apontadas como as mais críticas para as famílias atípicas. Segundo ela, o tempo da audiência — apenas duas horas — será totalmente utilizado para apresentar casos e reivindicações.

É muita demanda. São situações desesperadoras. Tivemos que elencar prioridades para conseguir apresentar tudo dentro do tempo disponível”, afirmou.

A audiência pública promete ser um momento importante de escuta, denúncia e mobilização. As mães esperam que a exposição pública das dificuldades traga visibilidade ao tema e leve as autoridades a promover mudanças efetivas nas políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência e suas famílias em Botucatu.

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