Engana-se quem pensa que o religioso é apenas o que está vestido de terno e gravata, saia, ou com uma bíblia gigante debaixo do braço. Não existe um estereotipo fixo e único dessa espécie. Mas existem performáticas religiosas que são construídas na sociedade contemporânea. São produtos dos meios mais diversos e variáveis que vão das denominações mais tradicionais até as neopentecostais.
Por isso é salutar um cuidado mais apurado do termo ‘religioso’. É preciso muito cuidado para não se tornar um antirreligioso e se perder de Deus. Não adianta ter voz e perder o coração.
O religioso, tradicionalmente falando, é aquele que vocifera seus dogmas e crenças por onde anda e vai. Comumente tem um jeito peculiar de se vestir e portar. Terno, saia, calça, camisa, gravata, etc. Mas é verdade também que podem existir aqueles que entendem isso como uma tradição e que, de fato, não sejam religiosos. Embora seja muito difícil, mas nem todo tradicional é religioso.
Então, siga o conselho bíblico que diz sobre não considerar as aparências.
Atrelado aos estereótipos de religiosos tradicionais vem os ensinos, que a meu ver são piores do que a aparência. O ensino desses religiosos parte de uma premissa de que eles sabem o que é a Verdade, seja lá o que isso quer dizer(para eles). Ao interiorizarem isso se tornam fanáticos, todo fanático torna-se disposto a matar em nome do amor a verdade.E no amor ao outro que ele mata em nome da verdade dele. Esses se julgam conhecedores e sabedores do que é o melhor para aquele que eles matam. O matar aqui não é literal, pode ser emocionalmente, psicologicamente e espiritualmente, mas também pode culminar na morte literal. Nisso surge o tema tão usado por eles: ‘Deus é um Deus de justiça’. Portam-se como verdugos dessa justiça, fazendo-se valer de suas próprias verdades, frutos de uma mente já consumida pela síndrome de ser deus.
Mas existem os religiosos que dizem que não religiosos e até ‘batem de frente’ com os religiosos tradicionais. Constroem lugares e ambientes na contramão dos ambientes e lacais religiosos tradicionais. Espaços diferentes, cheio de luzes, cheio de coisas modernas, usam e abusam dos estilos modernos e descolados, as vezes usam até as casas própria, na tentativa de se mostrarem desapegados do templo religioso.
O estereótipo é descolado. Barba, camisa xadrez, calça apertada ou bem larga, usam bonés, adoram tatuagens e sempre passam um ar de liberdade e espontaneidade.
Mas faço questão de dizer mais uma vez. Não se apegue as aparências do exterior. Todos são livres e podem escolher como se vestir e andar. Inclusive não é essa minha questão aqui. Estou apenas fazendo uma explanação das realidades que tenho parcebido.
No que se refere ao ensino desses ‘não religiosos’, encontra-se a pseudo intelectualidade afogada na marcha cansativa e maçante das repetições musicais de quatro linhas, três notas, por longos quinze, vinte, trinta minutos. Reuniões regadas a emoções e transes psicológicos. Tudo isso em nome da liberdade e espontaneidade da adoração.
Na mensagem que transmitem, a imposição da santidade conforme o fundamentalismo histórico religioso pede e ensina, e a falsa sensação e acolhimento para todos permeiam os estudos. É uma mistura de cansaço do excesso de religiosidade com a vontade de se libertar do estereótipo tradicional. Mas um amor as cadeias dogmáticas, teológicas e dos conjuntos de regras da religião.
Poderíamos resumir os religiosos que se dizem não religiosos como sendo iguais os tradicionais dos primeiro parágrafos deste texto, mas mais descolados na vestimenta e aparência. A essência é a mesma. E essa essência não esta ligada ao Espirito do Evangelho.
A terceira, e talvez até mais imperceptível, performática religiosa seja essa que chamo dos que pensam que são, mas não são; libertos.
São um tipo de gente que pensa que já chegou à plenitude. São abertos, leem bons livros(as vezes), tomam cervejas, vinhos, frequentam todos os lugares com liberdade e leveza. Sem maiores problemas para sua espiritualidade. Não tem problemas com músicas ‘mundanas’ , aparentemente superaram os limites dogmáticos das instituições. Um tipo de gente que aplaude quando se fala de ajuda aos pobres, que sorri quando se fala em repartir o pão. Vibram com os convites de comunhão com a criação, com a natureza.
Mas não ouse lhes tirar de sua zona de conforto.
Existe nesses, aquela velha e adâmica consciência de que não erraram. Não precisam mudar. Não querem mudar. São ignorantes ao novo e pior, aos ensinos de Jesus.
Normalmente esses religiosos não libertos, fogem dos ambientes de ensino e construção. Sabe por quê? Porque para eles aprender não é mais necessário e assim ambientes de debates e diálogos principalmente se for à contramão do que eles pensam e seguem fielmente, eles não aceitam. A comunidade é apenas o lugar de prestar sua gloriosa contribuição física e financeira com Deus. Espantam-se com a inclusão dos que antes eles apenas no discurso diziam amar.
Outra marca desse terceiro tipo de religioso é se sentir excluído por ser quem é. Mas na realidade ele mesmo não muda nem quer mudar, fica então a única saída que é se afastar e se dizer incompreendido ou excluído.
Seguirei a jornada do Evangelho que não se resume num conjunto de regras, livre e empenhado no proclamar A Mensagem do Reino de Deus.
Normalmente a Mensagem do Reino sempre vai excluir aqueles que acham que não precisam mudar nada para seguir a Jesus, vai confrontar os poderes estabelecidos e incomodar os religiosos de todos os tipos.
Tenho aprendido que toda inclusão é uma exclusão daqueles que não querem ficar dentro do Novo Mundo que a mensagem do Espirito esta gerando. Se o racista quer continuar racista e seguir a Jesus, a mensagem de Jesus vai excluí-lo. Assim com o acumulador capitalista, com xenofóbico, misógino, xenófobo, machista, violento, amantes desse mundo, fariseus, religiosos etc.
Temos uma condição ética, sim, para seguir a Jesus. Racistas, acumuladores capitalistas, xenofóbicos, misóginos, homofóbicos amantes desse mundo, fariseus, violentos, religiosos, venham, venham todos, mas, deixem de pensar o outro como vocês pensam. Aí, o racista, misógino, violento, machista, acumulador, vai embora e diz: Jesus me expulsou do convívio dele. Sim e não. Jesus te convidou a mudar de vida e você não quis, logo ali não seria um lugar confortável para você. Outra coisa, você saiu da convivência com Jesus porque amava mais as suas verdades do que aquilo que ele tinha para te ensinar…
Não existe mensagem neutra, tal como não existe recepção neutra da mensagem.
Estamos num mundo, com seus valores, crenças e esperanças e essas pessoas estão em outro mundo tentando fazer o Evangelho caber e se estagnar no mundo deles, fuja dos religiosos de todos os tipos e siga a Jesus.
O Evangelho não se resume num conjuntos de regras.
Renato Ruiz Lopes