Botucatu viveu, em outubro de 2025, um episódio que causou estranhamento entre servidores, técnicos e cidadãos atentos à gestão pública. No dia 13, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) divulgou o Índice de Efetividade da Gestão Municipal (IEG-M) referente ao exercício de 2024, atribuindo ao município a nota C+, classificada como “baixa efetividade” — o pior desempenho da cidade na última década.
Apenas 24 horas depois, no dia 14, Botucatu subia ao palco para receber o Prêmio Band Cidades Excelentes, promovido pelo Grupo Bandeirantes e pelo Instituto Áquila, sendo anunciada como destaque estadual entre municípios acima de 100 mil habitantes. O reconhecimento veio com uma nota de 76,66 pontos, considerada “excelente” pela metodologia do prêmio — que, segundo seus próprios organizadores, avalia praticamente os mesmos eixos analisados pelo TCE: educação, saúde, governança, planejamento e sustentabilidade.
Contradição nos números e queda de desempenho
A série histórica do IEG-M mostra que Botucatu manteve avaliações regulares entre 2018 e 2024, mas apresentou queda expressiva em 2025. O índice de Planejamento (I-Plan), por exemplo, despencou de B para C, enquanto Educação (I-Educ) manteve a nota C+ pelo segundo ano consecutivo. Já Saúde (I-Saúde) e Gestão Ambiental (I-Amb) seguem estagnadas, sem avanços significativos.
Os resultados, divulgados pelo órgão de controle, contrastam fortemente com o desempenho considerado “excelente” no ranking do Índice de Gestão Municipal Áquila (IGMA) — base do prêmio da Band.
Dúvidas sobre transparência e conflito de interesse
O Instituto Áquila, responsável técnico pela metodologia do prêmio, é uma consultoria privada que atua também no setor público, oferecendo cursos e programas de gestão a prefeituras e governos. Essa atuação levou a Rede Alpha de Comunicação a questionar possíveis conflitos de interesse, já que o mesmo instituto que presta serviços de consultoria a administrações públicas também as avalia em uma premiação nacional.
Entre os questionamentos feitos à organização estão:
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Quem audita o Instituto Áquila?
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Quais dados são utilizados no cálculo do IGMA e se eles são de fato públicos e auditáveis?
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Há municípios premiados que também são clientes do instituto?
Resposta oficial do Prêmio Band Cidades Excelentes
Em nota enviada à Rede Alpha, a direção do prêmio afirmou que:
“Todos os dados utilizados para o ranqueamento do IGMA são públicos, disponibilizados pelos Municípios em seus Portais de Transparência ou sites oficiais, sujeitos à fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados.”
Segue a nota na íntegra:

A organização também destacou que a metodologia está detalhada no livro “Cidades Excelentes” (Editora Escola de Gestão Áquila, 3ª edição), e que o ranking completo está disponível no site https://igma.aquila.com.br.
O comunicado acrescenta ainda que o Prêmio é auditado por empresas especializadas e que o Instituto Áquila “não possui qualquer relação contratual com o Município de Botucatu/SP”, reforçando que suas atividades seguem as diretrizes da Lei nº 14.133/2021 (Lei de Licitações e Contratos Administrativos).
Diálogo entre a Rede Alpha e o Instituto Áquila
Em conversa com o assessor de imprensa do prêmio, Marco Antonio Sabino, o jornalista Fernando Bruder buscou esclarecimentos adicionais. Sabino afirmou que “não há interpretação dos números”, e que “as informações são coletadas automaticamente por ferramentas de Inteligência Artificial a partir dos portais municipais”.
Questionado sobre a checagem da veracidade dos dados e a possibilidade de distorções, Sabino respondeu:
“Os números são públicos e estão sujeitos à fiscalização do Tribunal de Contas e do Ministério Público. Outras cidades além de Botucatu já foram premiadas mais de uma vez.”
Apesar disso, as diferenças entre os indicadores oficiais do TCE e o resultado do IGMA continuam levantando dúvidas sobre a efetividade dos critérios utilizados.
Especialistas alertam para risco de “marketing institucional”
Analistas de gestão pública consultados pela Rede Alpha afirmam que premiações privadas, quando sem auditoria pública e metodologia plenamente aberta, podem servir como ferramenta de marketing institucional, mascarando deficiências apontadas por órgãos oficiais.
A proximidade entre a divulgação do índice do TCE-SP e a cerimônia do prêmio reforçou a percepção de contradição e uso político da imagem de “cidade modelo”, sem correlação direta com os resultados técnicos da administração municipal.
Transparência e compromisso com o público
A Rede Alpha de Comunicação reafirma seu compromisso com a transparência da informação e a fiscalização do uso de indicadores públicos, oferecendo à população de Botucatu dados e posicionamentos de todas as partes envolvidas.
Nosso papel é garantir que o cidadão tenha acesso a informações claras, verificáveis e equilibradas, especialmente quando envolvem prêmios, recursos públicos e a reputação da cidade.
Transparência é o primeiro passo para a excelência — não apenas em prêmios, mas na vida pública.
Rede Alpha de Comunicação – Botucatu/SP
Com reportagem de Fernando Bruder e edição de redação