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Paz

Perguntaram a uma criança: O que é sentir paz? E a criança, surpreendentemente respondeu: É o mesmo que sentir dor, só que é gostoso.

Certamente, na sua intuição, a criança achou que a paz é um sentimento tão forte como a dor, só que causa prazer.

Perguntaram a ela: Quando é que você sente paz? E ela não titubeou nem um pouquinho. Foi logo respondendo, como quem sabe o que diz: De várias maneiras. Quando a mamãe me coloca pra dormir e me conta histórias bonitas, de lugares com flores e um riacho de águas claras. Também sinto paz quando estou brincando com os meus amigos. É tão gostoso! A mamãe chama a gente para almoçar, a gente vai, mas a paz continua, porque sabe que depois da escola vai brincar de novo. Mas eu também sinto paz, quando vejo a mamãe e o papai sorrindo abraçados. Sei que nessa hora eles estão felizes. E eu sinto paz, porque, se eles estão felizes, todo mundo em casa fica feliz.  Sabe? Eu sinto paz de outro jeito também. Quando está chovendo bem fininho, eu fico olhando a chuva bater na janela da sala. E eu só tenho vontade de ficar olhando a água fazer o seu serviço. Mamãe me disse que a chuva, ainda mais quando vem mansinha, é boa para a natureza, para a vida. E a gente sente paz quando as coisas boas acontecem. Eu acho que a paz tem tudo a ver com felicidade, com alegria. Se eu estou feliz, eu sinto paz. Se eu estou alegre, eu sinto paz. Mas acho que não existe paz na tristeza. Quando estou triste, sinto um peso esquisito no coração. Dá vontade de chorar, dá vontade de fugir, dá vontade de não existir.

Vendo que a criança sabia tanta coisa sobre a paz, perguntaram-lhe: Para você, o que é a guerra? Ela pensou um pouco. Dispensou o sorriso do rosto e arriscou: É tudo de ruim. Meu pai me disse que há países que estão em guerra, e ficam matando uns aos outros. Eu não quero que ninguém mate as pessoas. Por isso, não quero a guerra. Nos filmes, todos os soldados têm o rosto fechado, sem sorriso, sem felicidade. E isso é ruim. Mas a guerra não é só isso. Um dia, eu ouvi a Lucinha dizer que os pais dela vivem em guerra. E todos na casa ficam assustados, porque parece que querem se matar. Em minha casa, não. Meus pais nunca estão em guerra. Minha mãe sempre diz que, quando ela não se entende com o papai, resolvem conversar, até se entenderem. Até ficarem em paz.

Seria tão bom que as pessoas do mundo tivessem a mesma percepção das crianças ou dos pais dessa criança. Em primeiro lugar, a paz, por menor que seja, é melhor do que qualquer guerra. Em segundo lugar, quando as pessoas não se entendem, seria tão bom se resolvessem conversar, para não entrarem em guerra. Seria tão bom que as pessoas se respeitassem e não quisessem impor que os outros fossem iguais a elas.

Sabe? Escrevendo sobre a paz, lembrei-me de uma música antiga de Dolores Duran:

Hoje eu quero paz de criança dormindo
quero o abandono de flores se abrindo
para enfeitar a noite do meu bem.

Pena que nem todos queiram resolver os seus problemas em PAZ.

BAHIGE FADEL

Frases da Pandemia

Em que fase da pandemia estamos? Estamos na pior? Estamos saindo da pior? Estamos entrando na pior? Quer saber de uma coisa? Ninguém sabe. Os médicos não sabem. Os especialistas não sabem. Aliás, nem sei se há especialistas em coronavírus. Não deu tempo ainda de se formarem especialistas nesse negócio. Sei que estamos nessa – o mundo inteiro – com mais incertezas do que certezas, com mais chutes do que verdades. Ninguém tem certeza de nada, a não ser que uns tentam a solução e outros tentam aumentar a confusão. O pior de tudo é que aqueles que tentam aumentar a confusão são, às vezes, mais ouvidos do que aqueles que tentam alguma solução. É o desconcerto do mundo, como dizia o grande poeta português Camões: ‘Os bons vi sempre passar/ no mundo graves tormentos/ e para mais me espantar/ os maus vi sempre nadar/ em mar de contentamentos.’

Mas isso não me surpreende. O mundo sempre foi assim.  Muitas pessoas – e pessoas importantes – acham mais fácil subir pisando os outros, usando os outros como alavanca. Assim, a politização da pandemia não é nenhuma novidade. É da índole dos políticos aproveitar-se de tudo. De tudo e de todos. Transformar em popularidade e voto a tristeza e a alegria do povo, a vida e a morte, a saúde e a doença, a riqueza e a pobreza. O que importa é o voto, o resto são circunstâncias que devem jogar a favor deles.

É assim mesmo. Quando chegou a doença, é o outro quem permitiu a chegada. Quando chegou a vacina, fui eu quem trouxe.  A doença é culpa do outro, a cura é por causa de minha virtude. E muitos acreditam nisso. Parece que algumas pessoas se satisfazem em ser ludibriadas, tratadas como conduzíveis. É mais fácil ser conduzido, requer menos esforço, do que usar a própria força para se conduzir. No final, quando a maioria da população estiver imunizada pela vacina, aparecerão os heróis e os vilões. As mesmas pessoas serão acusadas e acusarão. Vilões para uns, heróis para outros. A única prejudicada nessa briga tola e inútil será a verdade. Ninguém saberá, ao certo, onde ela se encontra. Possivelmente, oculta no esquecimento. Poucos se interessarão por ela.

Lastimável! Numa época tão difícil, pessoas usando a dificuldade de todos para se beneficiarem, para se locupletarem. Falam na saúde do povo sem pensarem no povo, mas unicamente em sua promoção pessoal. Apesar de tudo, chegará o dia em que falaremos da COVID 19 como falamos hoje da varíola: uma doença do passado. E ninguém se lembrará dos oportunistas que se aproveitaram da doença, sem se preocuparem com os doentes, que gritaram pela saúde do povo, sem pensarem no povo, mas em si mesmos. ‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança…’ – novamente Camões.

BAHIGE FADEL

A Quarentena

Eu me lembro de quando a direção de uma das escolas em que trabalho anunciou férias de dez dias, pois, segundo os especialistas, era esse o tempo necessário para que o coronavírus começasse a perder sua força. E achei que era aquilo mesmo. Que dez dias não seriam muito significativos para o desenvolvimento das atividades escolas.

De lá para cá, quanta coisa mudou! A quarentena, que era para ser de dez dias e que a gente precisava ficar explicando para as pessoas que ‘quarentena’ era uma catacrese (uso de um termo por falta de um termo próprio para a designação de um ser ou uma situação), transformou-se numa centovintena – aqui é um neologismo (emprego de palavras novas derivadas ou formadas de palavras já existentes) – que poderá transformar-se noutro neologismo, numa centocinquentena, numa duzentena, coisas deste jaez. E a gente vai se acomodando às necessidades dessa prolongada quarentena, de tempo indeterminado.

E a gente ainda fica ouvindo otimistas e pessimistas de plantão. Otimistas e pessimistas sinceros ou falsos. ‘As aulas presenciais retornarão no dia oito de setembro’. Quá! Quá! Quá! Me engane que eu gosto. Não gosto não. É só um jeito de dizer. ‘Voltaremos aos poucos. Inicialmente, 35% dos alunos’. Lindo! Em primeiro lugar, qual foi a base científica para se adotar essa data de retorno? Não há. É só o chutômetro (outro neologismo) que está funcionando. Em segundo lugar, como é que se faz isso, cara pálida? O professor dá uma aula presencial e, depois, vai correndo pra casa, para dar a mesma aula on-line? E o aluno que não quiser a aula presencial pode assistir à aula on-line ou é obrigado a ir para a escola? Surreal!, como dizem as pessoas, sem saberem ao certo o que isso significa. Por falar nisso, conforme os dicionários, surreal é aquilo que denota estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão, ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo. E é isso mesmo: essas pessoas que ficam dando de especialistas, como se fossem as donas da verdade, são surreais, pertencem ao domínio do absurdo.

Para concluir, acho que vamos vencer esse chinesinho. Não sei se vamos mandá-lo de volta pra China ou se irá pra tonga da mironga do cabuletê. O que eu sei é que vamos dar um chute nos glúteos desse vírus, que para cá veio sem ser convidado, acomodou-se na sala de estar de nossas casas e está provocando muitos males, além da morte.

Quando isso acontecer, teremos que aguentar outros vírus. Serão os vírus dos pais da solução, dos Senhores do Mundo. ‘Porque eu fiz isso, porque eu fiz aquilo, porque eu, eu, eu…’. Os egos todos virão à tona, para atormentar os nossos dias.

Quer saber? É nessas horas que se separam os meninos dos homens. Os homens de verdade enfrentam a realidade com altivez, não fazem nada para tirar proveito da situação e procuram, se não solucionar o problema, reduzir os seus efeitos. E a diminuição dos efeitos está diretamente relacionada à postura que você adota. Qual é a sua postura? A de solidariedade e empatia ou a de soberba e oportunismo?

BAHIGE FADEL

Gugu morreu por uma decisão errada. Entenda o motivo!

Gugu morreu de traumatismo craniano após queda de nível, cerca de 4 metros, na casa nova recém adquirida no mesmo condomínio que morava em Orlando, nos Estados Unidos.

Certo? Negativo!

Gugu morreu de uma decisão errada. Ele acreditou ter condições físicas e cognitivas para subir em um lugar perigoso e negligenciou o risco de queda.

Erro na tomada de decisão e quedas são dois gigantes da geriatria que causam muitas mortes e sequelas todos os anos, entre os idosos.

Gugu tinha só 60 anos. Pelas leis brasileiras ele era considerado idoso. Hoje, muitos sessentões podem contrapor essa prerrogativa legal, pois não à toa se diz “os 60 são os novos 40”. Fato que verifico na prática – tenho pouquíssimos pacientes de consultório com menos de 70 anos.

“Velho é quem tem mais de 75 anos”, dizem. E estão certos por vários ângulos. Mas, não por todos.

Todos devemos primar por nossa segurança, desde o uso do cinto de segurança, até mesmo olhando onde pisamos e/ou subimos. O número de idosos que cai e quebra coluna ou o fêmur, que batem à cabeça e tem traumatismo craniano, é enorme!!

A maior fonte de acidentes acontece em seu próprio lar, por ter subido numa simples cadeira, ter molhado o chão, ter tido pressa desnecessária, ou por ter tropeçado no caminho que sempre faz dentro da própria casa. Por que não esperar alguém ou contratar um profissional?

Os riscos de uma decisão errada são enormes!

Na geriatria jamais tiramos o poder de decisão do idoso. Cabe a nós apenas salientar que a capacidade funcional diminui inexoravelmente, aumentando a chance de risco com movimentos considerados habituais para os jovens.

Ou seja, pode fazer, mas pense duas vezes, tenha autocrítica, respeite sua idade!

Segurança é a palavra de ordem nas quedas e acidentes evitáveis.

 

FORMAÇÃO

O artigo acima, replicado na íntegra, foi escrito pelo Dr Carlos Sperandio que é geriatra com graduação em Medicina – PUCPR – janeiro/2002.

​Residência em Medicina de Família e Comunidade – PUCPR – 2003/2004.

​Título de Especialista em Clínica Médica – SBCM – 2006.

​Pós-Graduação em Geriatria – FAVI / UP – 2008/2009.

​Mestre em Engenharia Biomédica – UTFPR – 2014.

​Título de Especialista em Geriatria – SBGG – 2017.

fonte: www.diarioonline.com.br