E o tema da redação do Enem 2022 foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”. A seguir confira um texto produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.
Na segunda metade dos anos 1980, a cultura musical brasileira abordava temas políticos, sociais como o fim da Ditadura Militar ou o descaso da Nação com seus povos originários. O poeta do rock Renato Russo levou Rádios AM e FM a fazer o brasileiro cantar com “Índios”: “Quem me dera ao menos uma vez/ Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem/ Conseguiu me convencer que era prova de amizade/ Se alguém levasse embora até o que eu não tinha// Nos deram espelhos e vimos um mundo doente.”. Mas, embora brasileiros cantassem sobre a usurpação dos povos indígenas – numa busca por um perdão e pela reparação social -, a cultura etnocêntrica continuou predominando ao ponto de, décadas depois, o chefe do Poder Executivo externar falas como “cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”, ou “negros são pesados em arrobas”. Os povos tradicionais brasileiros, em 2022, continuam sendo roubados, violentados, assassinados; assim, é mister que o Estado exerça sua função permitindo a cidadania dos PCTs e a compreensão social sobre a pluralidade de etnias brasileiras.
A política adotada pelo Governo Jair Bolsonaro tem atuado como o maior empecilho para a valorização dos Povos e Comunidades Tradicionais e para que estes tenham seus direitos respeitados. Sob uma óptica de Mercado em detrimento do Meio Ambiente – lembrando a frase do, na época, Ministro Ricardo Salles “passando a boiada e mudando todo o regramento” -, o incentivo à exploração de terras indígenas, de quilombolas, de ribeirinhos associado a uma política de desmonte de órgãos de fiscalização e controle do meio ambiente e de proteção aos brasileiros tradicionais implicou invasões de terras, desmatamentos, contaminação de rios e solo, sofrimento e até mortes de PCTs. Não só estes sofreram, mas também seus defensores, haja vista o assassinato dos defensores de Pindorama, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips.
Falsas concepções de realidade, ideologias etnocêntricas permeiam a cultura do Estado brasileiro e de grande parte da sociedade excluindo comunidades tradicionais. As falas de Jair Bolsonaro sobre indígenas e quilombolas são símbolos enraizados na cultura do País e de grande parte de seus indivíduos. A cultura existente na pluralidade da sociedade brasileira é considerada inferior pelos valores etnocêntricos passados de geração em geração pelos dominadores portugueses até os que detêm o poder atualmente. Estes se veem como superiores em aspectos culturais, religiosos, de hábito a povos que vivem da natureza, mas sem explorá-la, e sim como sendo parte dela. Trata-se de uma não compreensão da realidade como ela é e de um preconceito, de uma repulsa fundamentados em abjetos valores supremacistas.
Logo, o Estado necessita agir na organização política de modo a valorizar seus povos tradicionais, os quais, de acordo com a Legislação, são vinte e seis. Os desafios de valorização desse Brasil que sofre discriminação consistem, principalmente, em o País possuir governantes que se preocupem com seus cidadãos. É fundamental, a partir de 2023 – com o novo chefe do Executivo -, a criação pelo MEC de uma disciplina de Ciência Política obrigatória nas escolas para que a sociedade tenha consciência do voto em representantes que valorizem os povos tradicionais; a fim de que, assim, o Estado não só crie e execute leis como também destine verbas para proteção de áreas ambientais e respeito aos direitos de comunidades minoritárias. A criação de um Ministério de Povos Originários deve ocorrer, uma vez que este pode ser o responsável pela organização da defesa dos povos tradicionais. Além disso, é importante que os Parâmetros Curriculares Nacionais sejam colocados em prática nas escolas com a valorização de aulas de Sociologia, História e Filosofia com o objetivo de formar a consciência cultural no corpo discente, visto que a pluralidade cultural brasileira deve ser respeitada da mesma forma que a cultura de origem europeia.
ESCOLA DE REDAÇÃO NELSON LETRAS
– AULAS INDIVIDUAIS OU EM GRUPO
– RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES
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