Coluna Professor Nelson

“As relações sociais por meio da solidariedade”

E o tema da redação do vestibular da Fuvest 2025 foi “As relações sociais por meio da solidariedade”.

A seguir, confira o texto modelo produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.

A solidariedade genuína é fundamental para a existência humana

O livro bíblico Atos dos Apóstolos narra o início do movimento cristão, registrando na história a formação de uma comunidade em que a solidariedade era um dos pilares para a vida harmônica: todos dividiam o que possuíam de forma que não havia necessitados. Este é um exemplo de como a solidariedade faz parte das relações sociais, já que é intrínseca à vida em coletividade. Porém ela existe por motivos diferentes, seja pelo querer bem ao outro como na mensagem de Jesus de Nazaré, seja por uma emoção gerada por algum ator externo, por exemplo, uma tragédia, seja por uma ação individualista para uma satisfação pessoal ou de isenção de sentimento de culpa.

O altruísmo é um dos responsáveis pela construção da sociedade. Ainda que gere, paradoxalmente, algumas vezes, um sentimento antipático e/ou de ódio, trata-se de um ator social. São inúmeros os exemplos de cidadãos que vivem em função da ajuda ao outro e pelo sentimento de desejar que esse outro esteja bem. Não é possível negar que até as consequências contrárias à solidariedade genuína – por exemplo, o ódio ao Padre Júlio Lancellotti por suas ações sociais, ou a ações governamentais como o Bolsa Família ou a proposta de isenção de Imposto de Renda para quem recebe até cinco mil reais – fazem parte do coletivo.

É comum agentes externos provocarem uma emoção no indivíduo de maneira a criar neste um desejo em querer ajudar o outro. Recentemente, no Brasil, cidadãos de todos os estados contribuíram para auxiliar os moradores do Rio Grande do Sul os quais sofreram com as enchentes que destruíram cidades inteiras. Essa caridade pode partir até mesmo de pessoas que não costumam contribuir ou que são contra programas assistenciais como o Bolsa Família, mas, embora seja um sentimento determinado pelo ambiente de tragédia e comoção nacional (e internacional) ele possui como consequência a solidariedade que contribui para a harmonia social.

O ser humano também pratica solidariedade, ainda que aja, conforme cantou Caetano Veloso, no final da década de 1970, como Narciso que “acha feio o que não é espelho”. Tal particularidade também pode criar ações solidárias, pois, muitas vezes, indivíduos, com o objetivo de serem bem vistos socialmente ou por quererem se isentar de um sentimento de culpa – já que sua riqueza é fruto da miséria de outro -, apesar de serem aporofóbicos, praticam “caridade mesmo detestando”, mesmo “encarando frente a frente, não vendo seu rosto e chamando de mau gosto o que viu”.

Em síntese, o ser humano é um animal político, como evidenciou Aristóteles, portanto é de sua natureza estabelecer vínculos sociais. A relação de solidariedade se dá: por ações altruístas, que buscam um Paraíso terrestre por amor ao outro; por uma determinação da própria sociedade ao lhe criar um sentimento de comoção; ou por conveniência, egoísmo. Todavia, caso a solidariedade genuína não prevaleça, atrocidades que são consequência da ambição e falta de empatia humanas – como o atual genocídio em Gaza, a fome no mundo ou a intervenção no meio ambiente, causadora das mudanças climáticas -, podem implicar o fim da humanidade e, consequentemente, de suas relações sociais.

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O tema da redação do vestibular da Unesp 2025 foi “Medicalização da vida: a quem interessa?”

E o tema da redação do vestibular da Unesp 2025 foi “Medicalização da vida: a quem interessa?”.  A seguir, confira um texto produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.

 

“Esclarecimento, “Aufklärung” é a saída do homem de sua menoridade, da incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem o direcionamento de outro indivíduo”; “O homem inventou o ideal para negar o real, transformando-se em uma espécie sofredora, improdutiva”. Esses pensamentos pertencem, respectivamente, aos filósofos Immanuel Kant e Friedrich Nietzsche, os quais, sob perspectivas diferentes, refletiam sobre a dominação social que busca anular a essência do cidadão com o objetivo de lhe impor uma submissão. Seja pelo impedimento da razão, seja por controles morais que oprimem as emoções do indivíduo, mais recentemente, a evolução na medicina e na produção de medicamentos tem se transformado em uma nova ferramenta que, ao injetar uma ideologia de que determinadas emoções, como ansiedade e tristeza, são anomalias as quais não pertencem ao ser humano, domina-o para fins, principalmente, econômicos.

As ideias de Kant, filósofo do século XVIII, buscavam a liberdade de pensamento do indivíduo. Ser livre, para ele, consiste em o cidadão agir de acordo com sua razão e não segundo o pensamento de outro. Fazendo-se uma analogia com o mundo pós-moderno e o progressivo consumo de medicações, muitas vezes, desnecessárias, observa-se que grande parte da sociedade continua em uma menoridade intelectual, uma vez que não possui conhecimento sobre doenças físicas ou transtornos mentais e, impulsionada pela indústria farmacêutica e pelo ideal de ser humano normal que predomina, principalmente, nas redes sociais, deixa-se conduzir por estas como “um gado doméstico que não ousa dar um passo fora do carrinho para aprender a andar”. Assim, a medicalização indevida, resultado do condicionamento de uma idealização de ser perfeito, é um controle social que impede muitas pessoas de agirem segundo o próprio entendimento e de alcançarem a maioridade.

Algumas décadas depois de Kant, o pensador, também alemão, Friedrich Nietzsche, ao “martelar” outros filósofos e suas reflexões, supervalorizou a emoção em detrimento da razão. Embora sejam perspectivas diferentes sobre a essência humana, ele também criticou o controle social, mas indo contra as muletas sobre as quais o indivíduo se apoia para projetar – a fim de não sofrer – uma felicidade fora da realidade. Entretanto, para Nietzsche, esse niilismo seria o real causador do sofrimento, pois anularia e essência do homem. Da mesma forma, na atualidade, o progresso médico-farmacêutico anula o indivíduo ao lhe estabelecer um ideal de felicidade, sem, por exemplo, as dores de um luto, ou um abatimento por não se conseguir pagar uma dívida, os quais são intrínsecos ao cidadão. Ao se problematizar algo que é da natureza humana, a vida passa a ser compreendida como uma doença, que precisaria ser medicada.

Desde criança, o homem pós-moderno tem sido manipulado com comprimidos abstratos – a felicidade tóxica das redes sociais e outras mídias – e concretos – ansiolíticos, antidepressivos – que vêm tirando sua essência, pois, até mesmo, atitudes infantis, por exemplo, brincar, correr e gritar, passam a ser vistas como um transtorno que necessita de medicação. Todo esse controle, essa medicalização da vida, é interesse de indivíduos que se opõem à humanidade – uma vez que vai de encontro à razão e à emoção – e que, em busca, principalmente, de poder econômico, utilizam a ideologia enganadora imposta. São desde as big techs e seus influenciadores até a indústria farmacêutica os quais se enriquecem vendendo emplastos que retiram a humanidade do ser, ou seja, sua autonomia de pensamento e as manifestações de sua subjetividade, suas emoções.

 

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Confira o texto elaborado pelo Professor Nelson Letras sobre o Tema de Redação do Enem

E o tema da redação do Enem 2024 foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.  A seguir confira um texto produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.

Para o filósofo Aristóteles, a arte é a mimese da realidade. Tal concepção é confirmada por romances e canções brasileiros que vão de encontro à falsa imagem deste País, criada pela Casa Grande e que esconde e inferioriza a Senzala. A representação real pode ser encontrada, por exemplo, na literatura em O Mulato de Aluísio Azevedo, o qual no final do século XIX narrou o sofrimento de Raimundo que – embora fosse um cidadão de uma elite intelectual, não era aceito por esta devido à sua ascendência negra e escrava -, ou na música contemporânea pela crítica social de Mama África, de Chico César. As duas obras, de épocas diferentes, retratam a verdadeira face brasileira cujo reflexo, em grande parte, é desconhecido ou estigmatizado.

A obra de Aluísio Azevedo não foi bem aceita, na época, por aqueles que criavam e impunham uma imagem distorcida da realidade. Ideologia esta que continua predominando no País, haja vista que a maioria dos brasileiros desconhecem a herança africana. Os séculos de escravização e de imposição de valores europeus, ainda hoje, fazem com que os cidadãos brasileiros não tenham conhecimento sobre sua história de origem afro, assim como tenham preconceitos sobre essa cultura, o que pode ser observado pelo estereótipo negativo criado sobre religiões como a Umbanda e o Candomblé.

A “Mama África” foi maltratada por seu esposo europeu. Ela foi violentada, escravizada e a herança que ficou foi o preconceito, a exclusão e a pobreza. Assim, grande parte de seus filhos não a aceitam como mãe, muitos sequer a conhecem, possuindo apenas a visão passada pelo genitor usurpador. Mama África continua “solteira e tendo que fazer mamadeira todo dia, além de trabalhar como empacotadeira nas Casas Bahia”. Os filhos de pele escura deste solo não têm a figura paternal para alimentá-la, instruí-la, educá-la e, por isso, vivem na exclusão cultural e física, muitas vezes, não sendo aceitos como cidadãos brasileiros, já que são cerceados de seus direitos e deveres.

A real herança africana está na cultura cujos valores são estigmatizados, bem como no capital fruto da mão de obra escrava. Logo, é necessário que o Ministério da Educação e Cultura ofereça cursos remunerados para capacitar professores, bem como elabore cartilhas, separadas pelas etapas do ensino básico, que abordem aspectos históricos, sociológicos, literários, teológicos, artísticos os quais desconstruam a falsa imagem criada pelos dominadores europeus. Essa cartilha deve ser trabalhada obrigatoriamente nas escolas públicas e privadas nas respectivas disciplinas com o conteúdo exigido em avaliações. Políticas afirmativas como cotas devem ser ampliadas para outros setores, como para cargos do executivo a fim de que representantes pretos tenham voz para criar leis de modo que a identidade nacional de origem africana seja conhecida e valorizada. Afinal, parafraseando Chico César, “deve ser legal ser negão, Senegal”, deve ser legal ser negão Brasil.

 

 

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Confira o texto elaborado pelo Professor Nelson Letras sobre o Tema Redação da Fuvest

E o tema da redação da Fuvest foi “Educação básica e formação profissional: entre a multitarefa e a reflexão”.  A seguir confira um texto produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.

Uma educação menos tecnicista e mais reflexiva

A velocidade de um automóvel faz com que a visão do lado de fora, da paisagem, torne-se achatada; quanto mais rápido o movimento, menos profundidade. A imagem do veículo serve de metáfora para a sociedade pós-moderna, já que a vida de seus cidadãos é cada vez mais repleta de atividades implicando uma relação superficial, sem profundidade, entre o ser e o mundo ao seu redor. Dessa forma, observa-se que a educação do cidadão deve ser fundamentada em conhecimento e pedagogias para uma compreensão de mundo, bem como para uma boa saúde emocional e boas relações interpessoais, visto que as multitarefas escolares e uma formação profissional voltada não para a vocação, mas sim para um diploma, salário e função, afastam o indivíduo de ser um agente de sua vida, pois, para isso, ele necessita de tempo e desenvolvimento intelectual.

Na Grécia Antiga, Sócrates refletiu sobre a importância de formar cidadãos ativos na vida política da pólis, e esse pensamento ainda deve ser mantido, já que é necessário adequar o conteúdo escolar e a pedagogia às necessidades sociais. A extensa grade curricular nas escolas com a carga horária repleta de aulas expositivas e sem tempo para a construção do conhecimento, para a reflexão, para o lazer e para a troca de experiências interpessoais, pode separar o aluno da verdade social criando-lhe uma falsa concepção da realidade, um mundo idealizado, uma vez que dificulta o discente a se relacionar mais profundamente com o conhecimento e a desenvolver a razão. Além disso, é importante que alunos aprendam a viver o ócio, pois este permite a reflexão e a criatividade, permite pensar sobre si e sobre o mundo.

Paulo Freire, um dos principais nomes da educação, afirmou que “ensinar não se trata de transferir conhecimento, mas de criar as possibilidades para sua produção”. Esse pensamento vai de encontro à educação conteudista, “bancária”, que “deposita” nos discentes e lhes determina uma imagem profissional a qual não leva em conta a relação de convívio, a importância individual e social da profissão. O modelo de escola alicerçado em um falso pragmatismo prejudica o autoconhecimento do aluno sobre sua vocação, impondo-lhe profissões idealizadas e que requererão várias horas, tornando sua vida exaustiva. Essa concepção de que viver é trabalhar começa a ser descontruída, haja vista que até o atual ministro do Trabalho Luís Marinho defendeu a discussão sobre a semana possuir quatro dias de trabalho.

É mister que os cidadãos construam suas personalidades de forma livre, por meio do conhecimento das mais importantes ciências e de atividades que lhes permitam relacionarem-se com o outro e também com suas emoções. Assim, o ambiente escolar não pode ser como criticou o filósofo francês Michel Foucault “uma instituição que sequestra os indivíduos de seu espaço familiar e os internam para disciplinar seus comportamentos, formatando aquilo que pensam”. Essa ideologia escolar que é determinada socialmente como única e correta se aproveita das inúmeras obrigações conteudistas impostas aos discentes com sistemas fixos de horários para impedi-los não apenas de terem tempo livre de ser, de existir, assim como de refletir sobre a falsa concepção de sistema educacional em que estão inseridos.

 

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Confira texto elaborado pelo Prof. Nelson Letras sobre o tema de Redação da UNESP

E o tema da redação do vestibular da Unesp foi “É possível um futuro off-line?”.  A seguir confira um texto produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.

Assim como outros meios de comunicação, a internet é uma realidade que faz parte da vida da maior parte da população mundial. Seja para entretenimento, seja para trabalho, o mundo on-line está presente no dia a dia da maior parte da sociedade, e acreditar que o ser humano pós-moderno abandonará  essa tecnologia digital consiste em uma utopia, uma vez que o sistema virtual não só é útil para a vida dos cidadãos como também possui a capacidade de viciar pessoas com suas técnicas de condicionamento. Entretanto, mesmo com a propagação da internet, desde que haja internautas os quais não fiquem presos às bolhas virtuais, mas sim mantenham o livre arbítrio na utilização das tecnologias de rede, é possível um futuro off-line.

As grandes corporações que dominam a internet desenvolveram estratégias tecnológicas que oferecem ao internauta o que ele deseja ler, ver e ouvir. Dessa maneira, muitos chegam a perder horas de sono aprisionados à rede que os satisfaz emocionalmente, impondo-lhes a ilusão de que são livres e de que estão no controle de suas ações por possuírem conhecimento e criatividade, por serem pessoas conscientes da realidade em que estão inseridas. Todavia, essa realidade é apenas uma imagem criada pelas próprias mídias digitais, as quais subjugam muitos usuários e os aprisionam sob uma ideologia paradoxal.

Mas, embora exista o condicionamento, é possível não se submeter a ele. Em suas reflexões sobre a humanidade, pensadores como Baruch Spinoza, Friedrich Hegel e Karl Marx concluíram que ser livre é compreender que existem determinismos e, assim, possuir a capacidade de como se relacionar com eles. Portanto, ainda que as redes sociais sejam capazes de atrair e manipular, o ser humano com conhecimento deste determinismo e com Maioridade intelectual – lembrando as reflexões sobre autonomia do filósofo Immanuel Kant – sabe utilizar o mundo online sem se prender e se submeter à falsa imagem criada por este.

Além disso, não é possível anular a hipótese de que, entre aqueles presos às subordinações inconscientes impostas pelos algoritmos, há os que poderão alcançar a liberdade de pensamento, deixando a capitulação. Segundo o filósofo Arthur Schopenhauer “o ser humano toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo”, logo é necessário que a sociedade não se prenda ao campo de visão criado pelas mídias sociais, e isso é possível, haja vista que há pessoas conscientes e que buscam propagar conhecimento, contribuindo, assim, no desenvolvimento intelectual de outros indivíduos, desconstruindo o determinismo imposto pelo mundo virtual.

A internet e suas redes retiram a humanidade de muitos usuários ao lhes impedir o uso da razão e a escolha de caminhos, contudo muitos estão fora dessa linha, pois possuem a consciência desse controle e comandam seus pensamentos e ações. Por conseguinte, é mister compreender que a existência de um mundo off-line não consiste na anulação do mundo on-line, mas sim em um não condicionamento às mídias virtuais, em o cidadão possuir uma autonomia intelectual que aproveita as tecnologias digitais em benefício próprio e da sociedade, e que desfruta a vida no mundo real. Um futuro off-line é possível assim como, embora haja o vício na rede, o presente off-line é uma realidade.

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Refugiados Ambientais e Vulnerabilidade Social

Prof.Nelson Letras elabora redação sobre o tema da Fuvest/2023

“REFUGIADOS AMBIENTAIS E VULNERABILIDADE SOCIAL”

 

Você que fez a segunda fase do vestibular da Fuvest, confira a dissertação desenvolvida pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema pedido “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”.

 

Conscientização ambiental e empatia social

 

Em 2022, comemoraram-se os trinta anos da Eco-92, conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, realizada no Brasil, com o objetivo de colocar em prática medidas para conter a devastação ambiental em busca do desenvolvimento sustentável. A Eco-92, além de um marco que trouxe à pauta política internacional e à sociedade temas mais restritos à comunidade científica, foi um evento que colocou o Brasil numa posição privilegiada no cenário internacional sobre clima e meio ambiente. Todavia, mesmo após trinta anos, não só o Brasil como todo o planeta sofrem as consequências da interferência humana nos ecossistemas e, dentre elas, encontra-se a crise de refugiados devido a desastres na natureza consequências de mudanças climáticas. Assim como em outras situações, os principais prejudicados são os mais vulneráveis socialmente.

O ano passado foi marcado por inúmeras chuvas torrenciais que implicaram centenas de mortes no território brasileiro e, a despeito disso, o orçamento para 2023 deixado pelo Governo Bolsonaro para prevenção contra enchentes foi de 500 reais para cada cidade do País. Os problemas causados por enchentes que prejudicam sobretudo os mais vulneráveis também causam migrações, pois, com seus lares destruídos, muitas pessoas precisam fugir dos desastres para outras regiões aumentando, assim, o desemprego e o número de moradores de rua.

De acordo com o INPE, o País vem batendo recordes de desmatamento nos últimos anos.  Caso esse problema não seja resolvido – conforme indicam estudos científicos -, a região sudeste, por exemplo, sofrerá com secas podendo se tornar uma região desértica. Os problemas enfrentados por nordestinos que precisam fugir da seca também ocorrerão em outras áreas, entretanto, talvez, um dia não haja para onde fugir. Fazendo uma alusão à obra literária de Graciliano Ramos, a região que hoje é marcada pelo preconceito aos nordestinos, também será assolada por Vidas Secas, contudo estas também serão essencialmente de vulneráveis como na história de Fabiano e Sinhá Vitória.

Assim como o Brasil, várias regiões do planeta vêm sofrendo com a elevação da temperatura, haja vista o calor recorde registrado na Índia, o qual implicou, dentre outros males, o desabastecimento de água para milhões de pessoas. Temperaturas extremas de calor e frio tendem a ser cada vez mais frequentes, e a imensa parcela populacional de baixo poder aquisitivo não possui recursos para enfrentá-las e suas consequências. Por isso – segundo um relatório do Banco Mundial publicado em 2021 -, as regiões do globo com maior número de migrantes devido ao clima serão as regiões mais pobres, como a África subsaariana com uma perspectiva de 86 milhões de refugiados até 2050.

Cidadãos sem moradia, desemprego, excesso populacional e xenofobia são algumas consequências dos deslocamentos forçados devido a mudanças climáticas e aos desastres naturais. O Brasil e o mundo precisam retomar a agenda climática assim como a defendida na Eco-92 com conscientização e políticas ambientais. São necessários recursos para regiões de seca, para regiões de risco, para criação de moradias e empregos em áreas apropriadas para habitação. Refugiados ambientais precisam de programas assistenciais somados à compreensão e à empatia. Lembrando o discurso da ativista Greta Thunberg: “Eu não quero sua esperança. Eu não quero que sejam esperançosos. Eu quero que vocês entrem em pânico.”, é mister agir sobre a realidade e não protelar mais.

 

 

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“A lógica do condomínio: O espaço público está em declínio?

PROF. NELSON LETRAS ELABORA REDAÇÃO

SOBRE O TEMA DA UNESP/2023 – “A LÓGICA DO CONDOMÍNIO: O ESPAÇO PÚBLICO ESTÁ EM DECLÍNIO?”

 Você que fez a segunda fase do vestibular da Unesp, confira a dissertação desenvolvida pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema pedido “A lógica do condomínio: o espaço público está em declínio?”.

Nas últimas décadas, vêm crescendo o número de condomínios, fundamentados na lógica da segurança, praticidade e do convívio harmonioso entre semelhantes. Todavia – assim como cantava  o vocalista do grupo porto-alegrense Engenheiros do Hawaii, Humberto Gessinger, no início dos anos 90, “erguemos muros que nos dão a garantia de que morreremos cheios de uma vida tão vazia” –, criar muros e grades a fim de uma separação é retirar do ser humano uma parte de sua singularidade de ser político, de cidadão que participa do corpo social em benefício do bem comum.

Dessa forma, o espaço público passa a ser segregado, em grande parte, àqueles com baixo poder aquisitivo. Por conseguinte, há um esvaziamento da essência democrática, uma vez que muitos passam a se isolar nas construções fechadas – bem como ocorre em escolas privadas, por exemplo, – e a deixar de exercer seu papel de cidadão com trocas de experiências e de sentimentos com pessoas diferentes. Com isso, ocorre uma redução da capacidade política, da compreensão de direitos e deveres em função do coletivo, do bem público.

Comunidades separadas invertem a perspectiva do medo, pois – parafraseando a letra da canção Minha Alma da banda carioca O Rappa – as grades são para trazer proteção, entretanto trazem a dúvida se são os moradores que estão na prisão. Elas são uma concretude da perda de liberdade, já que “paz sem voz não é paz, é medo”. A ausência populacional na intervenção das cidades e a consequente falta de ação estatal transforma o espaço público em um lugar que fabrica violência, que aprisiona os indivíduos os quais se isolam, e lhes tiram a voz, a cidadania, a capacidade e possibilidade de viver bem fora dos muros.

Cada vez mais indivíduos, cada vez menos cidadãos. A parcela do corpo social que, acomodada,  fecha os portões para a realidade e busca desfrutar de sua Pasárgada retoma o sentido original da palavra idiota – do grego “idiótes”, pois vive sua vida privada, recusa a vida política, a vida pública. Portanto o lugar utópico é uma zona de conforto que, embora ofereça, dentro de seus muros, segurança e praticidade, dificulta o indivíduo de fazer uma autorreflexão crítica e de compreender seu papel desempenhado dentro do ambiente social.

Em seus estudos sobre sociedade, o filósofo alemão Karl Marx concluiu que os indivíduos desenvolvem comportamentos devido às relações sociais. Utilizando essa tese, na atualidade, observa-se que a ruptura das relações entre os que estão dentro de condomínios mais ricos e os que estão fora alimenta o desejo daqueles de estarem separados de classes sociais de baixo poder aquisitivo implicando uma segregação marcada por distinção e uma falsa ideia de superioridade.

Assim, há um declínio do espaço público, e os condomínios são uma parte de um todo que representa essa perda de cidadania e democracia. Eles são uma sinédoque dessa camarotização social em detrimento do público e da função de cada um para uma sociedade harmoniosa. Condomínios oferecem proteção dentro de seus muros e grades; no entanto, deixar de intervir pelo bem público gera a violência fora de seus portões. Logo, a vida tão vazia cantada por Humberto Gessinger é a crença de que se vive livre e protegido, mas, na realidade, é “uma vida superficial” que afasta o ser humano de sua idiossincrasia política.

 

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Confira texto elaborado pelo Prof. Nelson Letras sobre o tema de redação do Enem

E o tema da redação do Enem 2022 foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”.  A seguir confira um texto produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.

Na segunda metade dos anos 1980, a cultura musical brasileira abordava temas políticos, sociais como o fim da Ditadura Militar ou o descaso da Nação com seus povos originários. O poeta do rock Renato Russo levou Rádios AM e FM a fazer o brasileiro cantar com “Índios”: “Quem me dera ao menos uma vez/ Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem/ Conseguiu me convencer que era prova de amizade/ Se alguém levasse embora até o que eu não tinha// Nos deram espelhos e vimos um mundo doente.”. Mas, embora brasileiros cantassem sobre a usurpação dos povos indígenas – numa busca por um perdão e pela reparação social -, a cultura etnocêntrica continuou predominando ao ponto de, décadas depois, o chefe do Poder Executivo externar falas como “cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”, ou “negros são pesados em arrobas”. Os povos tradicionais brasileiros, em 2022, continuam sendo roubados, violentados, assassinados; assim, é mister que o Estado exerça sua função permitindo a cidadania dos PCTs  e a compreensão social sobre a pluralidade de etnias brasileiras.

A política adotada pelo Governo Jair Bolsonaro tem atuado como o maior empecilho para a valorização dos Povos e Comunidades Tradicionais e para que estes tenham seus direitos respeitados. Sob uma óptica de Mercado em detrimento do Meio Ambiente – lembrando a frase do, na época, Ministro Ricardo Salles “passando a boiada e mudando todo o regramento” -, o incentivo à exploração de terras indígenas, de quilombolas, de ribeirinhos associado a uma política de desmonte de órgãos de fiscalização e controle do meio ambiente e de proteção aos brasileiros tradicionais implicou invasões de terras, desmatamentos, contaminação de rios e solo, sofrimento e até mortes de PCTs. Não só estes sofreram, mas também seus defensores, haja vista o assassinato dos defensores de Pindorama, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips.

Falsas concepções de realidade, ideologias etnocêntricas permeiam a cultura do Estado brasileiro e de grande parte da sociedade excluindo comunidades tradicionais. As falas de Jair Bolsonaro sobre indígenas e quilombolas são símbolos enraizados na cultura do País e de grande parte de seus indivíduos. A cultura existente na pluralidade da sociedade brasileira é considerada inferior pelos valores etnocêntricos passados de geração em geração pelos dominadores portugueses até os que detêm o poder atualmente. Estes se veem como superiores em aspectos culturais, religiosos, de hábito a povos que vivem da natureza, mas sem explorá-la, e sim como sendo parte dela. Trata-se de uma não compreensão da realidade como ela é e de um preconceito, de uma repulsa fundamentados em abjetos valores supremacistas.

Logo, o Estado necessita agir na organização política de modo a valorizar seus povos tradicionais, os quais, de acordo com a Legislação, são vinte e seis. Os desafios de valorização desse Brasil que sofre discriminação consistem, principalmente, em o País possuir governantes que se preocupem com seus cidadãos. É fundamental, a partir de 2023 – com o novo chefe do Executivo -, a criação pelo MEC de uma disciplina de Ciência Política obrigatória nas escolas para que a sociedade tenha consciência do voto em representantes que valorizem os povos tradicionais; a fim de que, assim, o Estado não só crie e execute leis como também destine verbas para proteção de áreas ambientais e respeito aos direitos de comunidades minoritárias. A criação de um Ministério de Povos Originários deve ocorrer, uma vez que este pode ser o responsável pela organização da defesa dos povos tradicionais. Além disso, é importante que os Parâmetros Curriculares Nacionais sejam colocados em prática nas escolas com a valorização de aulas de Sociologia, História e Filosofia com o objetivo de formar a consciência cultural no corpo discente, visto que a pluralidade cultural brasileira deve ser respeitada da mesma forma que a cultura de origem europeia.

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