E o tema da redação da Fuvest foi “Educação básica e formação profissional: entre a multitarefa e a reflexão”. A seguir confira um texto produzido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema deste ano.
Uma educação menos tecnicista e mais reflexiva
A velocidade de um automóvel faz com que a visão do lado de fora, da paisagem, torne-se achatada; quanto mais rápido o movimento, menos profundidade. A imagem do veículo serve de metáfora para a sociedade pós-moderna, já que a vida de seus cidadãos é cada vez mais repleta de atividades implicando uma relação superficial, sem profundidade, entre o ser e o mundo ao seu redor. Dessa forma, observa-se que a educação do cidadão deve ser fundamentada em conhecimento e pedagogias para uma compreensão de mundo, bem como para uma boa saúde emocional e boas relações interpessoais, visto que as multitarefas escolares e uma formação profissional voltada não para a vocação, mas sim para um diploma, salário e função, afastam o indivíduo de ser um agente de sua vida, pois, para isso, ele necessita de tempo e desenvolvimento intelectual.
Na Grécia Antiga, Sócrates refletiu sobre a importância de formar cidadãos ativos na vida política da pólis, e esse pensamento ainda deve ser mantido, já que é necessário adequar o conteúdo escolar e a pedagogia às necessidades sociais. A extensa grade curricular nas escolas com a carga horária repleta de aulas expositivas e sem tempo para a construção do conhecimento, para a reflexão, para o lazer e para a troca de experiências interpessoais, pode separar o aluno da verdade social criando-lhe uma falsa concepção da realidade, um mundo idealizado, uma vez que dificulta o discente a se relacionar mais profundamente com o conhecimento e a desenvolver a razão. Além disso, é importante que alunos aprendam a viver o ócio, pois este permite a reflexão e a criatividade, permite pensar sobre si e sobre o mundo.
Paulo Freire, um dos principais nomes da educação, afirmou que “ensinar não se trata de transferir conhecimento, mas de criar as possibilidades para sua produção”. Esse pensamento vai de encontro à educação conteudista, “bancária”, que “deposita” nos discentes e lhes determina uma imagem profissional a qual não leva em conta a relação de convívio, a importância individual e social da profissão. O modelo de escola alicerçado em um falso pragmatismo prejudica o autoconhecimento do aluno sobre sua vocação, impondo-lhe profissões idealizadas e que requererão várias horas, tornando sua vida exaustiva. Essa concepção de que viver é trabalhar começa a ser descontruída, haja vista que até o atual ministro do Trabalho Luís Marinho defendeu a discussão sobre a semana possuir quatro dias de trabalho.
É mister que os cidadãos construam suas personalidades de forma livre, por meio do conhecimento das mais importantes ciências e de atividades que lhes permitam relacionarem-se com o outro e também com suas emoções. Assim, o ambiente escolar não pode ser como criticou o filósofo francês Michel Foucault “uma instituição que sequestra os indivíduos de seu espaço familiar e os internam para disciplinar seus comportamentos, formatando aquilo que pensam”. Essa ideologia escolar que é determinada socialmente como única e correta se aproveita das inúmeras obrigações conteudistas impostas aos discentes com sistemas fixos de horários para impedi-los não apenas de terem tempo livre de ser, de existir, assim como de refletir sobre a falsa concepção de sistema educacional em que estão inseridos.
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