Isonomia

Existem definições legais para a palavra isonomia, mas vamos ficar com a definição mais simples. Afinal de contas, minha intenção é fazer uma crônica, não defender uma tese. Isonomia é igualdade. Assim, se eu tenho uma propriedade e o munício me cobra um imposto para tê-la, todos os outros munícipes que possuem uma propriedade estão sujeitas ao pagamento do mesmo imposto. Isso é igualdade de deveres. Com os direitos, é a mesma coisa. Se eu tenho o direito de defender determinada ideia, tenho também o direito de criticá-la. Tem que haver igualdade de direitos tanto para a crítica como para a defesa. Parece que não há dúvida a respeito disso.
Por que estou falando sobre isso? Porque uma questão está me causando uma certa preocupação, nos últimos tempos. A isonomia não existe para certas pessoas. Elas se julgam donas da verdade e, por isso, se acham no direito de dizer o que querem sobre qualquer assunto, mas não aceitam a opinião contrária. Isso irrita. Será que estão surgindo novos deuses onipotentes? Será que estão existindo pessoas que podem tudo, inclusive não aceitar opiniões contrárias às suas? A esses deuses não se aplica o princípio básico da isonomia? Eles têm mais direitos e menos deveres do que os outros? Não é possível.
Estou comentando sobre esse assunto ao mesmo tempo em que ouço o comentário de um conceituado radialista local, sobre o episódio do tenista sérvio Djokovic, na Austrália. Todos sabem que o visto do tenista foi revogado, porque não foi vacinado contra a COVID-19. Ele entrou com um pedido, na justiça Australiana, que reconsiderou a revogação. Bem, não quero entrar no mérito da questão vacinal. Ouvi médicos a favor, ouvi médicos contra. Eu sou a favor e já recebi a terceira dose. Tive a COVID, não gostei e resolvi me proteger. Mas em nenhum momento fiquei achando que os contrários à vacina estão errados, por terem uma opinião diferente da minha. O que a gente sabe é que as pessoas não sabem muito sobre esse vírus. Alguns estão estudando, para saberem mais.
Voltando ao radialista: ao comentar o fato do tenista, meteu o pau em Djokovic, dizendo que, como personalidade, não tinha o direito de dar um mau exemplo aos seus fãs. E continuou nesse padrão. O que me deixa intrigado é que uma pessoa inteligente se acha no direito de criticar a opinião de uma pessoa sobre determinado assunto, sem aceitar que essa pessoa tenha uma opinião diferente. O modo como o radialista fez a crítica deu a entender que o tenista tinha a intenção de dar um mau exemplo às outras pessoas. Só que está na cara que não é isso. A intenção do tenista foi colocar em prática uma opinião própria sobre a vacina. Eu não tenho o direito de condenar uma pessoa só porque tem uma opinião contrária à minha. Não foi o caso, mas, muitas vezes, a gente nota que as críticas vêm mais acompanhadas de ódio do que de argumento. Isso não soluciona problemas, mas os cria.

BAHIGE FADEL

Sobre Fernando Bruder

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