A partir desta sexta-feira (08), as assistentes sociais que atuavam no Pronto Socorro Adulto de Botucatu foram oficialmente retiradas de suas funções, em uma decisão repentina que causou surpresa e indignação entre os profissionais de saúde e a população atendida pela unidade.
Sem um comunicado público prévio ou justificativa clara, a remoção das assistentes sociais levanta sérias preocupações quanto à continuidade do acolhimento humanizado e à articulação dos atendimentos sociais dentro do serviço de urgência e emergência. “Fomos pegas de surpresa. Não houve diálogo nem explicações consistentes sobre a decisão”, afirmou uma funcionária da unidade, que preferiu não se identificar.
A atuação do assistente social em contextos de urgência e emergência é essencial e está prevista nas diretrizes da Política Nacional de Humanização do SUS.
A necessidade desse profissional é crucial para garantir direitos e acesso a serviços de saúde, promovendo o acolhimento, escuta e construção de vínculos com pacientes e familiares, além de atuar na defesa dos direitos sociais. Essa atuação abrange desde a avaliação das condições sociais até o encaminhamento para redes de apoio, visando um atendimento integral e humanizado.
Esses profissionais são responsáveis por uma série de ações fundamentais, entre elas:
1. Acolhimento e escuta: Oferecer um espaço seguro para que pacientes e familiares possam expressar suas necessidades, medos e angústias.
2. Avaliação social: Identificar as condições sociais, econômicas e familiares que podem impactar o processo de cuidado.
3. Defesa de direitos: Garantir que pacientes tenham acesso aos seus direitos sociais e de saúde, como o direito à informação, à privacidade e ao acesso a serviços de saúde, especialmente em casos de violência, abandono, vulnerabilidade social ou necessidade de transporte e medicação;
4. Encaminhamento: Orientar e encaminhar pacientes e familiares para serviços de apoio social, como programas de assistência social, abrigos, centros de referência, etc.
5. Apoio à equipe médica na mediação de conflitos e orientações sociais;
6. Trabalho em rede: Articular a atuação com outras áreas da saúde, como médicos, enfermeiros, psicólogos, etc., para um atendimento mais integral e eficaz.
7. Acompanhamento: Acompanhar o caso do paciente, desde o atendimento inicial até a alta ou alta social.
8. Educação e promoção da saúde: Orientar sobre prevenção de doenças, promoção de saúde e cuidados com a saúde.
9. Registro e relatório: Registrar as ações e informações relevantes no prontuário do paciente e elaborar relatórios sociais para subsidiar o planejamento e a avaliação dos serviços.
10. Participação em reuniões e eventos: Participar de reuniões técnicas, reuniões com a equipe multidisciplinar, eventos de formação e capacitação.
11. Pesquisa e desenvolvimento:Realizar pesquisas sobre a atuação do Serviço Social em urgência e emergência e desenvolver novas estratégias e práticas.
12. Articulação com órgãos como o Conselho Tutelar, Ministério Público, CAPS e serviços funerários, quando necessário.
A ausência dessas profissionais pode causar um vácuo na assistência integral, especialmente em casos que envolvem famílias desestruturadas, pacientes em situação de rua, mulheres vítimas de violência e idosos abandonados.
Outro problema levantado pelas profissionais é que a equipe médica e de enfermagem podem ficar ainda mais sobrecarregados com os atendimentos, acumulando as funções que eram realizadas pelas assistentes sociais. E assim, prejudicar ainda mais o atendimento no Pronto Socorro Adulto.
Da mesma forma, outra preocupação levantada é de que profissionais do setor administrativo possam assumir essas funções, mas não apresentam a capacitação para realizar esse tipo de atendimento que é exclusivo do profissional habilitado em Serviço Social.
A população atendida no Pronto Socorro também demonstrou perplexidade com a retirada das assistentes sociais. “Eles [as assistentes sociais] são quem nos ajudam quando a situação vai além da doença física. É quem olha para o ser humano com mais empatia”, comentou uma usuária que aguardava atendimento na manhã desta sexta-feira.
Até o momento, nem a Prefeitura, nem a Famesp que atualmente administra o PSA se pronunciaram, oficialmente, sobre os motivos da decisão.
A equipe de jornalismo da REDE ALPHA procurou o Prefeito Fábio Leite; Secretário de Saúde e Vice-Prefeito, André Spadaro; a Secretária de Ação Social, Rosemary Pinton e nenhum deles quiseram se manifestar sobre a decisão e dar explicações à população e aos funcionários do PSA, até o fechamento desta matéria.
Além disso, a equipe da REDE ALPHA também procurou o Departamento de Imprensa da Unesp/ Botucatu para esclarecimentos e também não houve envio de nenhuma informação oficial, até o fechamento da matéria.
A comunidade espera explicações urgentes e, principalmente, uma revisão da medida que, ao que tudo indica, enfraquece ainda mais o cuidado humanizado e integral no serviço de saúde.
A Câmara Municipal e o Ministério Público também devem ser acionados para apurar a legalidade e os impactos desta medida sobre os direitos da população.
A REDE ALPHA continua acompanhando o caso.