O despejo judicial de um sítioescola de agroecologia tem mobilizado entidades nacionais e internacionais para a manutenção do trabalho agroecológico realizado na área da Estância Demétria, considerada a mais antiga fazenda de agricultura não convencional do Brasil.
Uma liminar, no último dia 7 de novembro, determinou a reintegração de posse da área, em Botucatu – SP, e despejou a Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica (ABD) do local.
A entidade é responsável por um sítioescola de agroecologia que possui um banco genético de 1,5 mil espécies de sementes crioulas, um dos mais importantes do país, segundo especialistas.
“O patrimônio genético da ABD com mais de 1.500 variedades diferentes é da humanidade. Elas é que trazem a segurança nutricional e alimentar aos agricultores. Além da liberdade de poder produzir sua própria semente, adaptada a sua realidade“, diz Rachel Vaz Soraggi, vice-presidente da ABD e consultora em agricultura biodinâmica e orgânica.
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Área ocupada por Associação Brasileira Agricultura Biodinâmica era de 4,5 hectares — Foto: Arquivo Pessoal
Com uma área total de 187 hectares, a propriedade rural pertence, desde 2015, à empresa Hermes Empreendimentos Imobiliários, que cedia 4,5 hectares à ABD por meio de um contrato de comodato. A concessão gratuita, no entanto, não foi renovada e a empresa do setor imobiliário foi à Justiça solicitar o terreno de volta.
Em virtude do impasse, entidades como Movimiento de Agricultura Biodinámica de Uruguai (MABDU), Asociación de Agricultura Biodinámica de Colombia (ABD Colômbia), a Articulação Paulista de Agroecologia (APA) e outras instituições nacionais e estrangeiras publicaram cartas de apoio à ABD.
Uma petição pública pela permanência da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica no território foi aberta e já ultrapassa cinco mil assinaturas. Nas redes sociais, famosos como o ator Marcos Palmeiras também se pronunciaram sobre o caso.
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Sítioescola de agroecologia possui banco de 1,5 mil sementes — Foto: Divulgação
“A ABD é uma associação muito importante para os produtores de orgânicos, na produção de alimentos no Brasil, são grandes incentivadores das sementes de crioulas, de tecnologia de produção biodinâmica, orgânica.. Então, eu queria fazer um apelo para que a gente conseguisse achar uma solução“, disse o ator.
De acordo com a ABD, os proprietários têm “planos avançados” para montar um empreendimento imobiliário no local. Embora entenda o direito à propriedade da Hermes Empreendimentos Imobiliários, a entidade de agroecologia gostaria de ter tido mais tempo para arrecadar recursos e comprar o terreno.
“A proposta desde o início era de compra da área, proposta negada. Levamos as peças [sementes de crioulas] para a casa de uma pessoa que cedeu uma área no seu sítio. Não há nenhum tipo de negociação [com a Hermes], porque eles têm claramente um projeto imobiliário e estavam com muita pressa de ocupar essa casa-sede. Eles mesmos já nos disseram que existe um desenho para desmembramento da área em lotes e que a ABD atrapalha esse desenho”, conta Pedro Jovchelevich, gestor da ABD há 20 anos.