Nesta quinta-feira (7/11), o irmão da cantora Ivete Sangalo, Jesus Sangalo, faleceu. Segundo as informações veiculadas na imprensa, a causa da morte estaria relacionada a complicações decorrentes de uma cirurgia bariátrica realizada pelo empresário, de 54 anos, ocasionando uma infecção generalizada.
Segundo dados da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), 0,2% dos paciente que passam pela cirurgia apresentam algum tipo de complicação pós intervenção, taxa comparável aos riscos de uma cirurgia de retirada da vesícula ou de uma cesariana. A entidade estima que ao ano são realizados 105 mil operações de redução do estômago, como o procedimento é popularmente conhecido.
“Os riscos da cirurgia bariátrica são baixíssimos, mas como qualquer tipo de cirurgia, pode levar em raras situações a complicações. Estamos diante de um cenário que representa dois em cada mil pessoas que passam pelo procedimento” comenta o cirurgião bariátrico Thales Delmondes Galvão.
Ele lembra ainda que os riscos de morte para pessoas com excesso de peso elegível ao procedimento, mas que evita realizá-lo, é muito superior em comparação uma uma possível complicação da operação. “Uma pessoa com obesidade mórbida possui um risco aumentado de ter complicações sérias de saúde e de morrer que chega a ser 40 vezes maior se comparado a uma pessoa da mesma idade com peso normal”.
O médico ressalta que antes de realizar a cirurgia, o paciente deve passar por uma avaliação médica completa, o que envolve uma equipe multidisciplinar de especialistas, que conjuntamente irão determinar se este indivíduo é elegível para o procedimento. “É necessário que o paciente candidato a uma cirurgia bariátrica seja avaliado não só pelo cirurgião especialista, mas também por cardiologista, endocrinologista, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e pneumologista”, destaca Thales.
Atualmente um em cada cinco brasileiros é considerado obeso, conforme aponta a pesquisa mais recente do Ministério da Saúde. O levantamento, realizado em 2017, apontou que 41,6 milhões de pessoas ou 19,8% da população possui índice de massa corporal (IMC) acima de 30, o que é considerado obesidade. Destes, um terço (ou 13,6 milhões), possuem IMC acima de 35, o que os coloca na posição de obesos mórbidos.
Não à toa, o Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias bariátricas. Ainda assim, a SBCM indica que em 2018 foram realizadas no total 63.969 cirurgias de redução do estômago. Esse volume de procedimentos representa apenas 0,47% da população obesa com IMC acima de 35, e que, portanto, seria elegível à cirurgia bariátrica e metabólica.
Em partes, Thales acredita que isso ainda se deve à desconfiança da população em torno da segurança do procedimento e da falta de conhecimento sobre a relação da intervenção com a melhoria da saúde e da qualidade de vida.
“É importante lembrarmos que a obesidade é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) uma epidemia global e merece atenção, é uma doença que não deve ser ignorada. A cirurgia bariátrica não pode ser confundida com um procedimento estético, ela é de fato uma ferramenta importante para garantir a retomada da saúde àqueles que têm indicação clínica para passar por esse tipo intervenção”, explica o especialista.
Benefícios da cirurgia
O procedimento é indicado para pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 40, ou maior que 35, desde que possuam um conjunto de doenças associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão e dislipidemias (anomalias dos lipídios no sangue). Além disso, a cirurgia também é recomendada para pacientes com o IMC maior que 30 com diabetes de difícil controle.
“Além da perda de peso, a cirurgia bariátrica auxilia na melhora do quadro de doenças relacionadas à obesidade entre eles: diabetes, hipertensão arterial, apneia do sono, dislipidemias, esteatose hepática além da elevação da qualidade de vida e longevidade”, diz Thales.
Mas o especialista é taxativo: a cirurgia bariátrica estimula a perda de peso, porém, os ganhos à saúde só serão efetivos se paciente adotar uma mudança de hábitos que incluem alimentação saudável e prática de exercícios físicos.
Existem quatro técnicas diferentes reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM): Gastrectomia Vertical ou Sleeve, Bypass Gástrico, Derivação Biliopancreática (menos utilizada) e Banda Gástrica Ajustável (em desuso atualmente). A indicação da cirurgia, independente da técnica, é baseada em quatro fatores: grau de obesidade, tentativas de tratamentos anteriores, tempo de evolução da doença e a presença de doenças associadas.
“Apenas o médico junto com o paciente saberá avaliar qual o melhor procedimento para tratar a obesidade e as doenças associadas, como a diabetes, por exemplo, sem oferecer grandes riscos aos pacientes. Essa escolha é baseada em uma avaliação do caso e é individual, dependendo de inúmeras variáveis: quanto peso precisa ser perdido, se a pessoa tem idade avançada, e condições gerais de saúde, observando as doenças associadas à obesidade”, explica o cirurgião bariátrico.
Abaixo, Thales Delmondes Galvão explica as modalidades de cirurgia utilizadas na redução de estômago:
Bypass gástrico
É a técnica bariátrica mais praticada no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, corresponde a 75% das cirurgias realizadas, devido a sua segurança e, principalmente, sua eficácia. O paciente submetido à cirurgia perde de 35 a 45% do peso inicial.
Nesse procedimento, é feito o grampeamento de parte do estômago, que reduz o espaço para o alimento, e um desvio do intestino proximal, que promove o aumento de hormônios que dão saciedade e diminuem a fome. Essa somatória entre menor ingestão de alimentos e diminuição da absorção é o que leva ao emagrecimento, além de controlar o diabetes e outras doenças, como a hipertensão arterial.
Gastrectomia vertical ou sleeve
A gastrectomia vertical, é um tipo de cirurgia bariátrica realizada geralmente por videolaparoscopia. Consiste na retirada de parte do estômago, sendo, portanto, irreversível. É chamada de ‘vertical’ ou ‘em manga’, porque a retirada ocorre através do grampeamento de boa parte do estômago verticalmente, deixando um tubo gástrico estreito.
Derivação biliopancreática
É uma associação entre a Gastrectomia Vertical, com 85% do estômago retirado e o desvio intestinal. Com esse desvio, o alimento se desloca por um caminho e os sucos digestivos (bile e suco pancreático) por outro, se encontrando somente a um metro antes de acabar o intestino delgado, diminuindo a absorção de calorias e nutrientes. Ao contrário do Bypass, a derivação biliopancreática mantém o estômago maior e encurta mais o intestino, ocorrendo menos restrição e mais disabsorção dos nutrientes.
Banda gástrica ajustável
A colocação da banda gástrica é feita com a colocação de uma cinta de silicone, com formato de anel, em volta da parte superior do estômago, dificultando a passagem do alimento. Está cinta é ligada a um portal, por um tubo de silicone que é implantado por baixo da pele, e possibilita o ajuste da banda gástrica a qualquer momento pelo médico.
Fonte: Digital Trix