O Pronto Socorro Infantil (PSI) de Botucatu voltou a registrar cenas de superlotação nos últimos dias. Filas de espera ultrapassam horas, famílias lotam os corredores e profissionais relatam exaustão.
A causa, segundo trabalhadores da saúde, está na redução de dois médicos por dia na escala de atendimento, medida adotada pela gestão do prefeito Fábio Leite.
A decisão política ocorreu justamente no período de maior procura por atendimento pediátrico, quando aumentam os casos de doenças respiratórias típicas do inverno.
“É um absurdo isso, estou com meu filho com falta de ar e com febre esperando pra tomar medicação há quase 2 horas” diz um pai chorando e indignado com a situação.
Outra mãe informou ter vindo Taguaí, há quase 3 horas, de Botucatu, e não tem como voltar para casa, por que nao tem mais transporte pra sua cidade. “Estou aqui desde as 2h da tarde e agora a pouco que saíram os exames do meu filho.”
Outra mãe refere que é a terceira vez que ela retorna hoje com a criança, tentando um horário com menos lotação no atendimento, mas vai embora novamente sem atendimento.
Postos de saúde sem pediatras agravam a situação
O problema se intensifica porque vários postos de saúde de Botucatu estão sem pediatras disponíveis.
Sem assistência nos bairros, famílias procuram diretamente o pronto socorro, o que gera sobrecarga no serviço e atraso no atendimento.
“Esperei mais de quatro horas com minha filha com febre alta. O pronto socorro estava cheio de crianças. Se tivesse pediatra no posto perto de casa, não precisaria vir até aqui”, relatou uma mãe indignada.
“Chegamos ao pronto socorro e já encontramos mais de 40 crianças esperando. Se tivesse pediatra no meu posto de saúde eu não estaria aqui com minha filho correndo o risco de pegar outras doenças ”, relatou uma mãe que aguardava atendimento com o filho.
Promessa não cumprida
O corte de médicos vai na contramão da promessa feita pelo próprio prefeito Fábio Leite nos primeiros 100 dias de governo, quando anunciou que reforçaria o quadro de profissionais e ampliaria os serviços de urgência e emergência infantil com a abertura de mais 3 serviços de urgência e emergência, que o prefeito denominou de SUA. Ele anunciou em entrevista aos órgãos de imprensa que os novos serviços seriam distribuídos nas outras zonas da cidade.
Mas na prática, o que se vê é o oposto: menos médicos, mais espera e mais sofrimento para as famílias.
Leis desrespeitadas
A situação em Botucatu afronta diversas normas que garantem o direito universal à saúde:
1. Constituição Federal – Artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”
Ao reduzir os médicos e não garantir pediatras nos postos, a Prefeitura falha em assegurar atendimento universal e igualitário.
2. Lei nº 8.080/1990 (Lei Orgânica da Saúde): define o SUS como responsável por organizar serviços de saúde de forma regionalizada, contínua e hierarquizada.
A falta de pediatras na atenção básica (Postos de saúde) desrespeita a hierarquização prevista, sobrecarregando a urgência e emergência.
3. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Artigo 11: “É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do SUS.”
Crianças em Botucatu estão aguardando horas em corredores de pronto socorro, sem atendimento integral e oportuno, configurando violação ao ECA.
Impactos na rede de saúde
Com menos médicos, o tempo de espera se multiplica e a sobrecarga das equipes aumenta.
Médicos e enfermeiros relatam exaustão, estresse e risco de queda na qualidade do atendimento, o que pode gerar falhas e colocar vidas em risco.
Além disso, o acúmulo de crianças aguardando por consulta em ambientes fechados favorece a transmissão de doenças respiratórias, o que aprofunda ainda mais o problema de saúde pública.
É preciso salientar ainda que a gravidade dessa situação atinge crianças de outros municípios da região. Isso porque os serviços prestados pelo PSI também são voltados para a assistência das crianças de cerca de 70 cidades do centro-oeste paulista.
Aumento de riscos para as equipes de saúde
Profissionais da rede relatam que a situação tem provocado exaustão das equipes e risco de queda na qualidade do atendimento.
“Trabalhar com a demanda dobrada e menos médicos na escala é um desafio desumano. Estamos fazendo o possível, mas o cansaço é grande”, desabafou um médico que pediu para não ser identificado.
Falta de planejamento e transparência
A crise expõe a falta de planejamento da administração municipal para lidar com períodos de maior demanda no atendimento infantil. Além da redução arbitrária de médicos no pronto socorro, a carência de pediatras nos postos de saúde demonstra que a prefeitura não tem conseguido garantir a cobertura mínima de assistência básica.
Desde a matéria anterior publicada no último dia 13 de agosto, a equipe de jornalismo da Rede Alpha aguarda um posicionamento oficial do prefeito Fábio Leite, do vice-prefeito e secretário de saúde e governo, o médico Dr André Spadaro; e da secretária de comunicação, Cinthia Al Lage, mas até o momento, nenhum deles se pronunciou formalmente.
Conclusão
A redução de médicos no PSI e a falta de pediatras nos postos de saúde configuram uma grave violação ao direito à saúde das crianças e suas famílias, em Botucatu.
A Prefeitura de Fábio Leite descumpre a Constituição, a Lei Orgânica da Saúde e o Estatuto da Criança e do Adolescente, colocando em risco não apenas a eficiência do sistema, mas principalmente a vida e a dignidade das crianças e suas famílias.
Enquanto o poder público falha em garantir o básico, a população paga a conta: atendimentos atrasados, profissionais sobrecarregados e crianças vulneráveis à espera de socorro.
A Equipe do Alpha Notícias continuará aguardando um parecer das autoridades e acompanhando os desdobramentos de mais esta denúncia encaminhada pelos munícipes de Botucatu e da Região.