Você que fez a prova de redação do vestibular da Fuvest, confira o texto desenvolvido pelo professor Nelson, da Escola de Redação Nelson Letras, sobre o tema pedido “As diferentes faces do riso”.
Riso, um desafio para o bem coletivo
O riso é uma demonstração física de felicidade, uma consequência de algo considerado engraçado, uma ironia sobre a dor, sobre a tristeza, uma falsa manifestação para alegrar o receptor ou, até mesmo, para lhe enganar. Assim, trata-se de uma característica do ser humano que o auxilia a sobreviver e a intervir na sociedade. Entretanto, para a harmonia social, uma vez que rir é um ato político, é necessário que ele seja o resultado de ações que visem a coletividade e não o egoísmo, que ele seja mais que uma reação física a um estímulo mental para o bem, seja, conforme afirmou o humorista Paulo Gustavo, um ato de resistência.
Próprio do homem, fruto da racionalidade humana, o riso já foi proibido por aqueles que, para se manterem no poder, objetivavam esconder o conhecimento da sociedade. Em O nome da Rosa, romance do escritor e filósofo italiano Umberto Eco, a narração serve de metonímia para esse tipo de dominação, ao relatar a história de assassinatos, em um convento, no século XIV, que tinham por objetivo proibir até mesmo os próprios monges de conhecerem a Teoria do Riso de Aristóteles. Para a Igreja Católica da época medieval, o riso, a comédia, poderia abalar o medo da sociedade perante a Igreja e seus representantes na terra, dificultando, assim, a dominação.
A finalidade de impedir o humor como característica racional do cidadão mantém-se no período pós-moderno. Impedir o ser humano de questionar o mundo, de questionar a sociedade, ainda faz parte da moral conservadora que busca a manutenção do poder. Em 2019, a sede de produção do canal humorístico Porta dos Fundos foi atacada a bombas por um grupo contrário às esquetes criadas pelos artistas. Muitas dessas filmagens se utilizam do humor para criticar valores morais preconceituosos relacionados a doutrinas religiosas as quais se consideram cristãs, como por exemplo, o especial de fim de ano que trazia um Jesus Cristo homossexual.
Por outro lado, há indivíduos que defendem a tese da liberdade irrestrita do uso do riso contrário ao politicamente correto. Esse tipo de atitude, além de se fundamentar em um argumento incoerente, também é usado para dominação. Defender a liberdade narcísica de maneira a prejudicar a liberdade do outro é um sofisma, um argumento sem lógica, uma vez que o valor universal da liberdade foi transgredido. O humor que ofende, que traz discursos de ódio, que causa sofrimento e mortes busca manter o condicionamento social por uma ideologia, uma falsa concepção da realidade, a qual inferioriza minorias. Logo, trata-se de risos prejudiciais ao meio social.
Há mais de dois mil anos, o filósofo grego Aristóteles refletia sobre o “homem ser, por natureza, um animal político”, todavia este também possui características narcísicas, fazendo com que, muitas vezes, queira intervir na sociedade em busca de suas vontades e não da harmonia coletiva. Portanto, o riso é mais uma ferramenta usada por muitos para dominação – lembrando as reflexões de Maquiavel sobre política. O riso possui diferentes faces, e a que deve prevalecer é a que visa a felicidade não apenas individual, mas também coletiva. Em contrapartida, gargalhadas egoístas, eugenistas devem ser tolhidas, visto que são contrárias ao bem dos vilipendiados, da coletividade.
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