Cerca de 40% das vítimas de estupro no Brasil são crianças ou adolescentes negras — o dobro da incidência registradas com meninas brancas. Os dados foram reunidos em um estudo feito pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper, com base em informações Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde.
Houve também um aumento de denúncias de casos por vítimas negras de 2010 a 2022, número esse maior do que em outros grupos sociais. O total de registros de estupro no país passou de 7.617 para 39.661 nos anos mencionados. As mulheres negras eram 48,4% das vítimas em 2010 e passaram a ser 60% em 2022. As brancas passaram de 38,1% para 33,3%.
Quando tratadas apenas as crianças e adolescentes, a diferença racial é um pouco maior. Nesta faixa etária, as vítimas negras em 50,6% do total em 2010, e as brancas, 34,6%. Em 2022, pretas e pardas passaram a ser 61,9% e as brancas, 30,8%.
Para Alisson Santos, a vulnerabilidade socioeconômica é um dos fatores que deixa as mulheres negras mais expostas a esse tipo de crime, sobretudo quando cometidos dentro do ambiente doméstico. “Elas têm menos acesso ao mercado de trabalho e recebem salários menores, o que faz com que tenham uma maior dependência em relação a parceiros”, disse à Folha de S. Paulo.
Nascimento, que também integrou a pesquisa, ressalta o duplo risco sofrido pelas vítimas. “São várias camadas de vulnerabilidades, alimentadas pelo racismo e pelo machismo”, expôs.