O que fazer diante do caos?

Lembrei deste texto:

“Você não temerá o pavor da noite, nem a flecha que voa de dia, nem a peste que se move sorrateira nas trevas, nem a praga que devasta ao meio-dia.” – Salmos 91:5-6.

Talvez exista um risco demasiado em ler esse texto e se revestir de uma “super-fé”. Esse passo de convicção eleva a inflamação do ego e da soberba, e acabará antecedendo a queda. Os textos sagrados precisam de cuidado para serem absorvidos pelos nossos olhos. Jesus disse que se nossos olhos forem maus, densas trevas seriam nossa alma. Ler os textos sagrados com os olhos cheios de coisas ruins é correr o risco de fazer de Deus um ‘deus’ perigoso.

Faço aqui um convite para ler esse texto de maneira humilde e com muita reverência. Não creio no Deus que livra uns e mata outros por méritos e/ou falta de fé, que eu chamaria aqui de carência ou capricho da tal divindade. Deus não poder ser essa pessoa, Deus não é melindroso. Acredito no Deus que nos livra “nas” angústias, e não “dos” desassossegos.

O que me ocorre ver nesse texto é que Deus está com aquele que teme e sente-se inseguro, acuado e frágil. Na percepção da fragilidade da vida, na escassez de tempo e de vigor, Ele consola e se faz presente. Parece-me que o salmista aborda os temas de descanso, segurança, paz e usa os meios que na época eram motivos de medo, insegurança e terror como os males dos quais seriam livres aqueles que encontrassem a sombra do altíssimo. Ou seja, ele fala das angústias da alma do ser humano da sua época e aponta para Deus como refúgio para tempos de aguçamento dessas angústias.

Diante da morte, diante do caos, diante da peste, precisamos confiar e descansar à sombra do altíssimo: essa é a Paz da qual quem pertence ao sistema desse mundo ainda não desfruta. Cabe àqueles que são sal e luz, chamados por Jesus de Nazaré, anunciar essa paz. Jesus disse: Bem aventurados os pacificadores, bem aventurados os que semeiam a paz, que consolam, que não espalham, nem promovem o caos.

Quando alguém se diz cristão, não pode ser, nunca foi e nunca será no sentido de privilégio clerical, de elevo perante aos que não são. Não se pode fazer da fé um mecanismo capitalista de posse, pertencimento e sopear o sagrado. A fé não pode ser domesticada. Por isso temos total responsabilidade sobre nossas atitudes perante toda sociedade.

O que quero dizer é que como cristãos devemos cuidar de nós mesmos e de todos e todas à nossa volta. Não podemos ser levianos e nos julgar blindados de doenças por causa da nossa fé ortodoxa e assim ser negligente com toda a sociedade. Isso não é fé, isso é sandice.

Nossa fé deve sempre ser prática e experiencial, ou seja, tratar com responsabilidade e cautela tudo que evolve o bem estar da sociedade. Assim, devemos estar ancorados no consolo e cuidado de Deus para com conosco.

Nossa fé não faz de nós melhores que ninguém diante do caos. Ao contrário, nos coloca na linha de frente, para sermos luz e esperança aos que choram. Oro para que todos e todas encontrem o descanso na sombra do altíssimo.

@Renato Ruiz Lopes

Sobre FERNANDO BRUDER TEODORO

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