A morte de Olavo de Carvalho colocou na berlinda uma expressão que era
pouco usada no Brasil. O ‘ódio do bem’. Essa expressão foi muito usada
nos Estados Unidos, principalmente para se referir às manifestações de
ódio contra o ex-presidente Donald Trump. O que há de comum entre
essas duas personagens é que são classificadas como sendo da direita
conservadora.
O objetivo do artigo não é opinar sobre as ideias de Carvalho e Trump,
mas sobre a intolerância que se manifesta de maneira cada vez mais
agressiva contra aqueles que pensam de maneira diferente. Cadê a
liberdade de expressão? Só posso pensar do jeito que o outro pensa? Não
posso ter um pensamento diferente? Só porque manifesto uma ideia
diferente tenho que ser imbecil, idiota, burro, reacionário, canalha e
outras coisas piores? Quer dizer que só o pensamento que eu tenho é
bom, inteligente, útil, correto, desejado, ideal, respeitável, democrático? E
aí vem o paradoxo: só é democrático para os ‘donos’ do ‘ódio do bem’
pensar do jeito que eles pensam. O resto é resto. Deve ser despejado no
lixo, sem possibilidade de reciclagem.
Tenho sido até repetitivo ao manifestar minha preocupação a respeito da
intolerância violenta que está imperando ultimamente. Cada vez mais,
pessoas visíveis e pessoas invisíveis manifestam essa intolerância. ‘Ódio do
bem’ nada mais é do que um sofisma. Para quem não se lembra, sofismar
é ‘encobrir a verdade de (algo) com argumentos falsos; dar uma interpretação falsa a’. O
tal do ‘ódio do bem’ não passa de ódio puro e simples. É ódio e nada mais.
Fomos ao dicionário, para sermos mais claros. Ódio: é a antipatia e a aversão
para com algo ou alguém. Trata-se de um sentimento negativo em que se deseja mal
ao sujeito ou objeto odiado. O ódio está relacionado com a inimizade e a repulsão. As
pessoas tentam evitar ou destruir aquilo que odeiam. É o que está acontecendo.
Não há bem nenhum nisso. Bem é outra coisa. Mais uma vez fomos ao
dicionário. Bem: aquilo que enseja as condições ideais ao equilíbrio, à manutenção, ao
aprimoramento e ao progresso de uma pessoa ou de uma coletividade. Como se vê, o
ódio destrói, o bem aprimora. ‘Ódio do bem’ é, portanto, um paradoxo.
Ele, simplesmente, oculta um mal que está nas entranhas daqueles que o
expressam.
O pior de tudo é que os caras que manifestam esse ‘ódio do bem’ têm
certeza de que fazem o bem. Eles querem destruir todos aqueles que pensam de maneira diferente, como se a destruição do diferente fosse um
bem. Assim, o branco que expressa seu ódio pelo negro deve achar que
está apenas praticando o ‘ódio do bem’. Assim, o rico que expressa seu
ódio pelo pobre ou o pobre que expressa seu ódio pelo rico (tanto faz)
deve achar que está praticando o ‘ódio do bem’.
Não vou me estender com outros exemplos. Fica claro que ódio é ódio, e,
portanto, um mal. E bem é bem. Só bem. O resto é sofisma, enganação,
intolerância.
BAHIGE FADEL