Violência

Numa das últimas aulas do primeiro semestre, conversava com alguns alunos sobre como poderia ser a campanha eleitoral deste ano. Lembro-me perfeitamente de que disse a eles para observarem o nível da campanha, o nível das agressões físicas e verbais, podendo haver até crimes contra a vida das pessoas, tamanha seria a radicalização, incitada pelas facilidades das redes sociais. Confesso que, ao alertar os alunos sobre esse fato, não previa que vidas seriam arrancadas pelo radicalismo tão cedo.

Depois de tudo que aconteceu com a COVID-19, quando as pessoas ficaram confinadas e limitadas em suas ações por muito tempo, parece que, ao se verem livres, retornaram muito mais violentas do que eram antes. No auge da pandemia, eu me lembro de que escrevi sobre a esperança de que a COVID-19 tivesse servido de lição para a humanidade, que retornaria à normalidade muito melhor, mais solidária e compreensiva. Ledo engano! Retornou semelhante àquele animal que foi deixado preso e com pouco alimento, durante algum tempo. Quando libertado, saiu mordendo aquilo que conseguia.

É o que está acontecendo hoje. A campanha eleitoral mal começou, já que os candidatos ainda não estão confirmados pelas convenções partidárias, e os animais já estão à solta. E a morte ocorrida recentemente, envolvendo duas pessoas da área policial e que, por isso, deveriam ser treinadas para situações de tensão, é apenas o começo. Temo pelo desenrolar dessa campanha. Tomara que tudo não vire terra de ninguém, onde todos se julgam com todos os direitos e onde prevalece a lei da selva.

Não é isso que desejamos para a nossa democracia. Segundo Pedro Menezes, ‘Democracia é o regime de governo cuja origem do poder vem do povo. Em um governo democrático, todos os cidadãos possuem o mesmo estatuto e têm garantido o direito à participação política.’ Vejam bem: todos os cidadãos têm o direito de participação política.

Mas como podemos participar da política, se corremos risco de morte, só porque temos ideias diferentes de outras pessoas? As pessoas decidiram que os adversários são inimigos que devem ser eliminados. E o pior de tudo é que muitas pessoas cultas, letradas, bem posicionadas na sociedade defendem essa absurda ideia. Vencer o adversário/inimigo, para essas pessoas, representa eliminá-lo fisicamente. Lembro-me de que, no regime militar, diziam de mortes com motivação política. Muitas delas confirmadas, inclusive. Que diferença há das mortes de agora com as mortes daquele tempo? Não vejo muita diferença. As mortes daquele tempo
eram crimes; as mortes de hoje são crimes. Espero que as mortes de hoje tenham punidos os seus praticantes. As mortes do regime militar não tinham punições. Talvez seja essa a diferença. Mas isso não justifica as mortes de hoje.

Que vençam as boas ideias. Que as mentiras sejam derrotadas e sepultadas. Terminadas as eleições, que os derrotados sejam a oposição que fiscaliza e os vitoriosos, a situação que coopera. Que não sejam os sepultados pela violência e intransigência.

BAHIGE FADEL

Sobre FERNANDO BRUDER TEODORO

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