Uma equipe do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (100 quilômetros de Bauru) conseguiu reduzir um tumor cancerígeno de um paciente ao utilizar uma técnica conhecida como radioembolização. O procedimento é inédito no Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ajudar no tratamento do câncer hepático, mas ainda está em fase de pesquisa.
Por ser um projeto de pesquisa, o tratamento ainda não pode ser oferecido a todos os pacientes, mas indica um avanço no controle de tumores no fígado.
A técnica utiliza a radiação para o tratamento de tumores e metástases hepáticos. O processo consiste em injetar princípios radioterápicos diretamente no tumor, através da artéria hepática.
“O procedimento não é curativo, porém pode causar uma redução considerável no tamanho do tumor, evitando que ele cause mais danos ao paciente portador dessa condição patológica”, explica o médico Fernando Gomes Romeiro, docente de Clínica Médica e autor do estudo.
O procedimento foi realizado em um paciente do sexo masculino, de 75 anos, que se encaixava nos critérios de inclusão do estudo.
Segundo Romeiro, o tratamento teve uma resposta além da esperada, com redução de quase 80% do tumor.
“O tratamento anterior foi feito por um procedimento semelhante, sendo utilizado um quimioterápico no lugar do material radioativo, porém, não houve redução do tumor. Era como se o paciente não tivesse recebido nenhum tratamento. Desta vez, com a radioembolização, foi possível reduzir grande parte do volume tumoral”, disse.
O paciente ficou internado três dias, até que a radioatividade baixasse a níveis seguros. Em seguida, ele foi liberado para voltar para casa.
Considerada um tratamento de última geração, a radioembolização nunca havia sido realizada no SUS por envolver alto custo e exigir muita capacitação.
Conforme o médico, no Brasil, apenas o hospital Sírio Libanês, na capital paulista, utiliza essa técnica no combate ao câncer hepático.
“Apesar de ser uma grande satisfação realizar este tratamento no SUS, é preciso ressaltar que ele ainda não está disponível no sistema público, tendo sido realizado em trabalho de pesquisa. De qualquer forma, é um avanço e continuaremos trabalhando para oferecer essa alternativa aos pacientes”, disse.
O projeto foi apoiado financeiramente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O tratamento ao paciente envolveu equipes multiprofissionais dos serviços de oncologia, hepatologia, medicina nuclear, hemodinâmica e radiologia do hospital de Botucatu, vinculado à Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Uso de radiação no tratamento
O uso de radiação em tratamentos para a destruição de tecidos humanos é polêmico por muitos motivos, entre eles o desconhecimento.
Segundo a docente da disciplina de Medicina Nuclear da FMB/Unesp, professora doutora Sônia Moriguchi, existe um estigma em relação ao uso da energia nuclear. “Toda vez que ouvimos sobre radiação nuclear, relacionamos o assunto a grandes catástrofes, como a Segunda Guerra Mundial, Chernobyl e recentemente em Fukushima. Nesses casos, a quantidade de radiação é bilhões de vezes maior da utilizada na área médica”, explica.
“Mesmo sem ver a radiação, podemos medir exatamente os níveis da radioatividade e saber se a pessoa deve ficar em local próprio e evitar o contato com outras pessoas ou se já está pronta para voltar para casa”, complementa Moriguchi.
fonte: JCNet