Médico denuncia demora a pacientes que aguardam em ambulâncias no Hospital das Clínicas de Botucatu

Situação se repete e expõe graves deficiências da saúde nos municípios da região do Oeste Paulista

Um vídeo foi publicado nas redes sociais no último dia 18/07 em que o médico, Dr Sandro Cárdenas, da cidade de Pardinho (SP), retoma a polêmica sobre a superlotação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB). Este Hospital é referência para 68 municípios da região centro-oeste paulista.

E esta situação, já antiga, voltou a gerar revolta entre os profissionais da saúde e a população.

No vídeo, o profissional aparece no pátio do Pronto Socorro Rederenciado (PSR), visivelmente indignado ao relatar que ficou mais de três horas dentro da ambulância com um paciente grave, exposto ao sol, sem poder realizar a transferência para o Hospital por falta de leito.

 “Ficamos presos dentro da ambulância, sem estrutura, sem conforto, sem dignidade para o paciente. Essa situação é desumana. O HC é referência, mas está virando sinônimo de sofrimento para quem precisa de atendimento urgente”, desabafou o médico.

Segundo relatos de outras equipes de resgate e condutores de ambulâncias de cidades da região, a situação é recorrente.

As unidades de saúde dos municípios cumprem os protocolos de regulação e transporte, mas muitas vezes, se deparam com uma espera caótica no HCFMB, onde os leitos de emergência parecem insuficientes para a demanda crescente.

Além do impacto direto sobre a saúde dos pacientes, que em muitos casos, se encontram em estado crítico, o tempo de espera acarreta sérios riscos aos profissionais e ao sistema como um todo.

As ambulâncias, que deveriam voltar rapidamente aos municípios para atender novas ocorrências, ficam retidas por horas, além do médico e enfermeiros que em muitas cidades deixam o plantão desguarnecido, comprometendo o atendimento em suas cidades de origem.

Dr. Sandro também fez um apelo direto ao governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pedindo providências urgentes para melhorar a infraestrutura e o suporte para resolução desta situação.

Outro médico que não quis se identificar, refere ser clínico há 10 anos em Conchas e disse que sempre sofreu com essa situação quando transfere pacientes para a Unesp.

 “Estamos abandonados. Mais de 60 municípios são dependentes do HC, mas não têm solução pra isso. Até quando vamos tolerar essa falta de estrutura? Precisamos de investimentos, de mais profissionais, de ampliação da emergência e investimentos para urgência e emergência nos municípios. O Hospital das Clínicas não consegue dar suporte para esse crescimento de atendimentos. Isso é saúde pública em colapso”, declarou o médico à equipe de Jornalismo da Rede Alpha.

Outra médica, da cidade de Taguaí, há cerca de 160km de Botucatu refere que leva de 2 a 3 h para chegar no HCFMB e já precisou ficar mais de 2h aguardando na ambulância com paciente.

“Muitas vezes, temos que transferir pacientes para o HC por não termos especialistas e exames como Tomografia no município.”

Outra colocação foi feita por uma enfermeira da cidade de Bofete.

“Várias vezes temos que transferir pacientes graves em ambulâncias sem estrutura de emergência. E isso coloca não só os pacientes em risco, mas também toda a equipe.”

Outro relato grave enfrentado pelos municípios, foi feito por um motorista de ambulância da cidade de Itaí.

“Em várias situações, não temos a revisão e a manutenção das ambulâncias em condições de transportar os pacientes na estrada, principalmente a noite, e isso pode provocar acidentes graves na estrada. Se a cidade estivesse equipada com os especialistas e exames suficientes, não correríamos tantos riscos.”

Profissionais da saúde e gestores municipais já vinham alertando sobre a superlotação crônica do Pronto Socorro Referenciado de Botucatu, com relatos de falta de leitos, de estrutura física precária e de desgaste extremo das equipes médicas da própria instituição.

A situação se agravou nos últimos meses, especialmente após a suspensão de alguns atendimentos eletivos e o aumento de casos de doenças respiratórias no inverno.

O Departamento de Comunicação emitiu uma nota oficial aos questionamentos da equipe de Jornalismo do ALPHA NOTÍCIAS que está abaixo, na íntegra.

“Sobre o vídeo postado nas redes sociais no último final de semana, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) esclarece:
O médico que publicou o vídeo não faz parte do corpo clínico do HCFMB. Neste final de semana, não houve registro de fila de espera para a entrada de pacientes no PSR.
O Pronto Socorro Referenciado (PSR) do HCFMB é a maior unidade de atendimento de urgência e emergência de todo Centro Oeste Paulista, sendo porta de entrada para pacientes de toda a região da DRS IV Bauru, composta por 68 cidades e abrangendo cerca de dois milhões de pessoas. Também é referência para os serviços de atendimento pré-hospitalar móvel, como o Serviço Móvel de Urgência (SAMU), Corpo de Bombeiros e concessionárias de rodovias.
O serviço prioriza urgências e emergências com base na classificação de risco e tem um fluxo definido com os serviços. O HCFMB continua em parceria com a SES buscando alternativas para garantir um atendimento de qualidade prestado aos pacientes.”

A equipe de jornalismo do ALPHA NOTÍCIAS entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e o Departamento de Saúde Regional (DRS VI) responsável por coordenar e executar ações e serviços de saúde, na esfera estadual, da Região Oeste de São Paulo, e até o momento, nenhuma nota oficial foi emitida, em resposta aos questionamentos da nossa equipe de jornalismo.

Enquanto isso, vidas seguem sendo colocadas em risco à espera de leitos nos municípios da região.

E a sensação generalizada entre médicos, equipe de enfermagem, motoristas de ambulâncias, pacientes e familiares é de abandono e impotência diante de uma crise anunciada e negligenciada.

Situação do HCFMB

1. Dados oficiais e estatísticas do HCFMB

De acordo com dados da Transparência publicados no site oficial do Hospital das Clínicas de Botucatu,
o HCFMB opera com 664 leitos desde o início de 2024.

2. Número de atendimentos mensais no HCFMB.

De acordo com o site oficial do Governo do Estado de São Paulo, em 2023, o Hospital das Clínicas de Botucatu é o segundo maior hospital universitário de São Paulo, atrás apenas do HC da USP, na capital, em número de atendimentos ambulatoriais, consultas e exames – 3,7 milhões registrados em 2022. Anualmente, a unidade de Botucatu também registra 25,9 mil internações, 9,3 mil procedimentos cirúrgicos, 2,5 mil partos e 150 transplantes.

No site oficial do HC, registrou que a média mensal de atendimentos, em urgência e emergência gira entre 16 mil e 18 mil pacientes, evidenciando forte pressão no sistema.

3. Número de leitos para transferências no PSR e Maternidade

Segundo dados do site do HCFMB, o PSR conta com salas de emergência adulta e pediátrica, além de 24 leitos de retaguarda para adultos e 8 de retaguarda para crianças.

Portanto, o PSR (Pronto-Socorro Referenciado) tem capacidade para cerca de 32 leitos de observação, mas frequentemente ultrapassa esse limite, operando em níveis altos de ocupação.

Já a maternidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) conta com 38 leitos.

4. Histórico recente de tempos de espera e bloqueio de ambulâncias no HCFMB

Um caso emblemático de janeiro de 2021 relatou um paciente com suspeita de Covid-19 aguardando quatro horas dentro de uma ambulância do SAMU, com respiração mecânica, até liberação de leito.

Relatos públicos recentes publicados também em outros jornais da região, confirmam que o PSR e a Maternidade tem ficado superlotados, o que provoca retenção de ambulâncias e pacientes em trabalho de parto aguardando na recepção, por horas, até que um leito seja liberado ou adaptado, ou que o CROSS e a DRS VI busquem alternativas.

Pauta regional e apelo da população

Conforme os dados oficiais do HCFMB, o Complexo HC (Hospital das Clínicas) da UNESP de Botucatu é formado pelo Hospital das Clínicas, o Pronto-Socorro Adulto, o Pronto-Socorro Infantil, o Hospital Estadual de Botucatu e o Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (SARAD).

O PSR atende 68 municípios da DRS VI (Bauru), com cerca de 2 milhões de habitantes, incluindo: Botucatu, Pardinho, Bofete, Anhembi, Conchas, Porangaba, Torre de Pedra, Laranjal Paulista, São Manuel, Avaré, Itaí, Paranapanema, Taquarituba, Taguaí, Fartura, Pirajú, Cerqueira César, Águas de Santa Bárbara e Arandu.

O apelo do Dr. Sandro Cárdenas alcançou destaque regional por denunciar a espera de mais de três horas, sob o sol, com o paciente dentro da ambulância, o que escancarou o drama que a cidade de Pardinho vem sofrendo para fazer transferências de pacientes para o HCFMB, mas de toda a região referenciada.

5. Causas estruturais e entraves em curso no HCFMB

O Hospital também sofre com a sobrecarga nas UTIs — são cerca de 50 leitos para pacientes críticos (UTI Cardiológica, Cirúrgica, Clínica e Neurológica) desde 2022.

Mesmo com essas unidades, a taxa de ocupação é crítica.

Entrevistas com especialistas indicam que o problema combina deficiência de gestão estadual, falta de integração da rede regional, municípios sem estrutura de atendimento em urgência e emergência; e subfinanciamento crônico das instituições de referência.

6. Ações institucionais e previsão de investimentos

Em 2023, o ALPHA NOTÍCIAS fez uma série de reportagens sobre a crise do HCFMB quando, na ocasião foram fechados vários leitos, tanto no HC quanto no Hospital Estadual. Naquela ocasião, o HCFMB anunciou medidas internas para acelerar fluxos de pacientes, e ativou um “grupo de humanização” para acolher pacientes enquanto se ajustam os leitos disponíveis.

Veja a série destas matérias, na íntegra, através do link:

1. https://www.alphanoticias.com.br/mais-denuncias-dos-fechamentos-de-leitos-no-complexo-do-hospital-das-clinicas-de-botucatu/?utm_source=chatgpt.com

2. https://www.alphanoticias.com.br/secretaria-de-saude-do-estado-de-sao-paulo-afirma-que-recursos-do-hc-sao-repassados-diretamente-para-a-famesp/

3. https://www.alphanoticias.com.br/carta-aberta-aponta-denuncias-do-pronto-socorro-referenciado-do-hospital-das-clinicas/

4. https://www.alphanoticias.com.br/hospital-estadual-fecha-as-portas-em-botucatu-e-milhares-de-pacientes-ficarao-sem-atendimento/

Após essa série de denúncias apresentadas pela REDE ALPHA, em fevereiro de 2023, o Governo Estadual publicou no Diário Oficial, oconvênio de investimentos para o HCFMB, no valor de 50 milhões 532 mil reais, em 16 de agosto de 2023.

Tal ação foi publicada, posteriormente, em vários veículos de comunicação do estado e no prório site do Governo de São Paulo.

Veja na íntegra esta matéria, no link abaixo:

1. https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2023/11/16/em-visita-a-botucatu-governador-tarcisio-de-freitas-anuncia-repasse-de-r-505-milhoes-para-o-hospital-das-clinicas.ghtml

2. http://saude.sp.gov.br/coordenadoria-de-controle-de-doencas/noticias/16112023-governo-de-sp-libera-investimento-de-mais-de-r-50-milhoes-no-hc-de-botucatu

Publicação no Diário Oficial do Estado, o convênio para o Hospital das Clínicas de Botucatu no valor de R$ 50,532 milhões.

6. Rede Alpha continua investigações sobre os repasses feitos pelo Governo do Estado de São Paulo ao HCFMB.

O Diretor Presidente da Rede Alpha de Comunicação, o Jornalista Fernando Bruder emcaminhou solicitação para a Secretaria de Saúde do Estado e para a DRS IV para informações sobre os repasses feitos ao HCFMB desde 2022.

As questões abrangem dados de domínio público de acordo com a Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação), Fernando Bruder também solicitou informações referentes ao atendimento hospitalar no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), instituição vinculada ao SUS e sob coordenação da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.

As questões perfazem os seguintes pontos:

a. Média de espera por leito no PSR (últimos 12 meses);
b. Ocupação diária/percentual do PSR
c. Planos internos de novos convênios para o HCFMB

Conclusão

A combinação entre superlotação crônica, rede regional deficiente e falta de cronogramas de resposta leva a uma situação alarmante: ambulâncias retidas por horas, pacientes expostos a riscos e condições irregulares de assistência, equipes desassistidas e sobrecarregadas.

Enquanto reflexos econômicos e políticos emergem, permanece a sensação de abandono institucional e que precisa, urgentemente, ter ações efetivas para a resolução.

Sobre Fernando Bruder

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