Novo coronavírus pode ter vindo de cobras vendidas no mercado de Wuhan, aponta estudo chinês

O novo coronavírus surgido na China pode ter vindo de cobras, animais silvestres que são reservatório do vírus, afirma um estudo da Universidade de Pequim e da Universidade de Bioengenharia de Wuhan publicado na quarta-feira (22), no “Jornal of Medical Virology”.

Os primeiros pacientes infectados pelo coronavírus tiveram contato com carne de animais silvestres vendida no mercado de frutos do mar da cidade de Huanan. A primeira infecção do novo coronavírus em humanos teria ocorrido depois do contato de frequentadores e trabalhadores do mercado com a carne de cobras.

“Muitos pacientes foram potencialmente expostos a animais silvestres no mercado atacadista de frutos do mar de Huanan, onde também eram vendidos aves, cobras, morcegos e outros animais silvestres”, diz o estudo.

“O surto de pneumonia viral em Wuhan está associado ao histórico de exposição ao reservatório de vírus no mercado atacadista de frutos do mar de Huanan, sugerindo uma possível zoonose. O mercado de frutos do mar também vendia animais vivos, como cobras, marmotas, morcegos, pássaros, sapos, ouriços e coelhos” , aponta trecho do estudo.

Vírus infecta também animais

O coronavírus é uma família de vírus que pode infectar seres humanos e muitas espécies animais diferentes, incluindo suínos, bovinos, cavalos, camelos, gatos, cães, roedores, pássaros, morcegos, coelhos, furões, roedores, cobras e outros animais selvagens.

Cobra chinesa (Bungarus multicinctus) que pode ter carregado a nova cepa do coronavírus — Foto: LiCheng Shih/CCBY2.0

Cobra chinesa (Bungarus multicinctus) que pode ter carregado a nova cepa do coronavírus — Foto: LiCheng Shih/CCBY2.0

É a mesma família de vírus responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV) e pelo coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV), que causaram surtos perigosos nas últimas duas décadas na Ásia.

Para achar o possível hospedeiro dessa nova versão do vírus, chamada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019-nCoV, os pesquisadores realizaram uma análise filogenética de 276 genomas de possíveis animais hospedeiros, coletadas de um banco internacional de dados.

Os genomas, que eram de animais tanto da China como de outros continentes, foram comparados com os traços localizados nas amostras coletadas em pessoas infectadas.

“Os resultados de nossa análise sugerem que a cobra é o reservatório de animais silvestres mais provável responsável pelo atual surto de infecção por 2019-nCoV”, conclui o estudo. A transmissão teria começado entre espécies de serpentes e de serpentes para humanos.

Análises anteriores também mostraram que o sequenciamento genético do vírus vinha de morcegos, mas foi descartada a possibilidade deles serem a fonte direta. Em vez disso, o coronavírus recém-descoberto provavelmente pulou de cobras para humanos – especificamente de uma espécie conhecida como “Chinese Krait” ou cobra chinesa (Bungarus multicinctus).

Contudo, o estudo não conclui como o vírus pulou pela primeira vez da cobra chinesa para um ser humano.

Animais do mercado de frutos do mar de Wuhan são suspeitos de carregar a nova cepa do coronavírus — Foto: Roberta Jaworski/Arte G1

Animais do mercado de frutos do mar de Wuhan são suspeitos de carregar a nova cepa do coronavírus — Foto: Roberta Jaworski/Arte G1

Transmissão

Também é um mistério para os pesquisadores do estudo como o vírus poderia pular de hospedeiros de sangue frio, como os répteis, para humanos, que tem sangue quente. O estudo conclui que o fato desse tipo de coronavírus ter conseguido dar esse salto sugere que é uma cepa “muito adaptável”.

Os coronavírus são transmitidos de pessoa para pessoa pelo ar. Eles infectam principalmente o trato respiratório e gastrointestinal superior de mamíferos e aves. A maioria dos vírus causa sintomas relativamente leves, mas alguns podem causar complicações e, no caso do coronavírus da China, pode causar pneumonia grave, levando à morte.

Ainda não há tratamento aprovado para o 2019-nCoV. Além disso, os pesquisadores ainda não sabem ao certo quão facilmente o vírus pode se espalhar de humano para humano.

Ciclo do novo coronavírus - transmissão e sintomas — Foto: Aparecido Gonçalves/Arte G1

Ciclo do novo coronavírus – transmissão e sintomas — Foto: Aparecido Gonçalves/Arte G1

fonte: G1

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