Prefeito de Botucatu falta com a verdade e tenta amenizar a gravidade dos apontamentos do Tribunal de Contas de São Paulo
Em entrevista dada à Rádio Prever, Fábio Leite, não assume as irregularidades orçamentárias
A análise do 3º bimestre de 2025 feita pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) aponta problemas de ordem contábil e desequilíbrios fiscais que já estão comprometendo o orçamento municipal.
A equipe de jornalismo da Rede Alpha entrou em contato com o Conselheiro do TCE-SP, Dimas Ramalho, que é Diretor de Relações Internacionais na nova composição da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), e também Colunista do Portal Alpha Notícias da Rede Alpha de Comunicação.
Seu acessor encaminhou para a Redação do Alpha Notícias, um relatório com todas as irregularidades orçamentárias e administrativas que Botucatu tem até o momento, e que cada tópico será detalhado nesta matéria.
Análises dos Alertas em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – 3º Bimestre/2025 do município de Botucatu, Prefeito Fábio Leite
Ausência de documentações contábeis
1 – Intempestividade na entrega de documentações e demonstrativos contábeis de despesas e receitas – referentes ao período do 3º bimestre de 2025, ao site de Auditoria Eletrônica do TCE (Audesp).
Ou seja, a Prefeitura não encaminhou, no prazo correto, os demonstrativos de despesas e receitas ao sistema de Auditoria Eletrônica (Audesp) do TCE. A ausência de transparência nesse processo pode comprometer a fiscalização e o acompanhamento da real situação financeira do município. E isso pode incorrer em responsabilização dos agentes públicos municipais.
Finanças
2 – O orçamento previsto demonstrou que, ao final do bimestre, a receita seria suficiente para cumprir as metas fiscais estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), conforme o previsto no art. 9º da LRF.
3 – No entanto, quando foi executado, o resultado foi inferior ao previsto na LDO. Abaixo do projetado para o período.
Esse é um ponto muito grave. Dessa forma, apesar de a receita ter sido suficiente para o cumprimento das metas fiscais, os resultados ficaram aquém do projetado, evidenciando fragilidades na gestão do dinheiro público.
Relação despesas e receitas
4 – A relação entre gastos e receitas correntes já supera 95% (noventa e cinco por cento) – considerando o período de 12 meses.
Segundo a Constituição, o Executivo deverá tomar condutas previstas em lei e deverá usar mecanismos de ajuste fiscal, ficando vedado as seguintes ações:
I – concessão, a qualquer título, de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração de membros de Poder ou de órgão, de servidores e empregados públicos e de militares, exceto dos derivados de sentença judicial transitada em julgado ou de determinação legal anterior ao início da aplicação das medidas de que trata este artigo; (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021)
II – criação de cargo, emprego ou função que implique aumento de despesa; (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021)
III – alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa; (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021)
IV – admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, ressalvadas: (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021):
a) as reposições de cargos de chefia e de direção que não acarretem aumento de despesa; (Incluída por Emenda. Constitucional nº 109 de 15/03/2021);
b) as reposições decorrentes de vacâncias de cargos efetivos ou vitalícios; (Incluída por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021);
c) as contratações temporárias de que trata o inciso IX do caput do art. 37 desta Constituição; e (Incluída por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021;
d) as reposições de temporários para prestação de serviço militar e de alunos de órgãos de formação de militares; (Incluída por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021).
V – realização de concurso público, exceto para as reposições de vacâncias previstas no inciso IV deste caput; (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021).
VI – criação ou majoração de auxílios, vantagens, bônus, abonos, verbas de representação ou benefícios de qualquer natureza, inclusive os de cunho indenizatório, em favor de membros de Poder, do Ministério Público ou da Defensoria Pública e de servidores e empregados públicos e de militares, ou ainda de seus dependentes, exceto quando derivados de sentença judicial transitada em julgado ou de determinação legal anterior ao início da aplicação das medidas de que trata este artigo; (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021).
VII – criação de despesa obrigatória; (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021).
VIII – adoção de medida que implique reajuste de despesa obrigatória acima da variação da inflação, observada a preservação do poder aquisitivo referida no inciso IV do caput do art. 7º desta Constituição; (Incluído por Emenda Constitucional nº 109 de 15/03/2021).
Tudo isso quer dizer que a situação de Botucatu se agravou na relação entre receitas e despesas correntes, pois já ultrapassou 95%.
Quando esse limite é alcançado, a Constituição Federal determina uma série de vedações, como a impossibilidade de conceder aumentos salariais, criar cargos, realizar concursos públicos ou criar novas despesas obrigatórias.
Na prática, o município está engessado e obrigado a adotar mecanismos de ajuste fiscal para evitar o colapso das contas públicas.
Fundeb
5 – Fundeb – Até o período, o percentual de repasses para o Fundeb está em patamar inferior ao obrigatório por lei.
Deve o Executivo, adequar sua previsão orçamentária de modo a que, ao final do exercício, haja 100% de destinação dos recursos previstos do Ensino para o Fundeb.
Caso o Executivo não faça a adequação até o fim do exercício, Botucatu pode descumprir a obrigatoriedade de destinar 100% dos recursos previstos para o fundo, comprometendo investimentos essenciais na rede de ensino e reduzindo repasses estaduais e federais para a Educação do município.
Mesmo diante dos graves apontamentos do TCE-SP, o prefeito Fábio Leite tentou minimizar a situação em entrevista à Rádio Prever FM, na manhã desta sexta-feira (05/09), quando foi questionado por um munícipe, se a matéria publicada pela Rede Alpha sobre os apontamentos do TCE-SP, eram reais ou fake.
O prefeito afirmou que:
“(…) não existe nenhum tipo de apontamento ou irregularidades do Tribunal de Contas em relação a Botucatu. E o que houve foi, somente, sinais de alertas (…)”.
A declaração, no entanto, contrasta com o teor do relatório encaminhado pelo assessor do Conselheiro do TCE-SP, Dimas Ramalho, à equipe de Jornalismo da Rede Alpha.
Isso demonstra um quadro preocupante para a saúde financeira do município e para a execução de promessas de campanha feitas pelo atual governo. O que, se negligenciados, podem resultar em restrições administrativas severas, caso as correções não sejam feitas.
Enquanto a atual gestão municipal tenta ignorar e desqualificar os apontamentos do TCE-SP, os números mostram uma prefeitura cada vez mais pressionada pelas próprias escolhas com os gastos públicos e pela falta de organização contábil.
Desde o início do atual mandato, a população assiste estarrecida o grande aumento da máquina pública com a criação de novas secretarias; contratação de inúmeros assessores municipais; médicos com salários atrasados; servidores municipais insatisfeitos com o percentual de aumento dos seus salários; mas em contrapartida, houve aumento, autorizado pelos vereadores, para reajuste dos vencimentos do prefeito, vice-prefeito e secretários municipais. Além das inúmeras festas e aluguéis de prédios privados.
A população constata todos os dias os atrasos na execução de obras públicas. Mas, ao mesmo tempo, assiste máquinas e servidores públicos sendo deslocados para obras de empresa privada.
Sem falar, das promessas de investimentos na saúde com novas unidades e serviços de urgência e emergência, para vários pontos da cidade; mas que até agora, só estão no papel. E só faltam 4 meses para o findar deste ano.
O risco é de que, se não houver mudanças e correções urgentes, a população de Botucatu acabará pagando o preço do desequilíbrio das contas públicas do atual governo