Coluna Bahige Fadel

O Professor – Por Bahige Fadel

Há poucos dias, estava eu deixando o supermercado, quando um moço passou por mim e me cumprimentou: Bom dia, professor! Respondi com um ‘bom-dia’ e com um ‘como vai?’. Logo em seguida, outro moço que entrava no supermercado se dirigiu a mim e me disse: O senhor é professor? Que linda profissão. Meus parabéns! Eu agradeci e, com o ego inchado, continuei o meu caminho.

Não foi a primeira vez que fui alvo de simpatia e gentileza, pelo simples fato de ser professor. Muitas vezes, ex-alunos se dirigiram a mim, só para me dizerem que foram meus alunos. Dizem ter saudade daqueles tempos. E chegam, até, a contar suas histórias e no que se tornaram. Recentemente, um barbeiro com uma barbearia bem montada fez questão de se dirigir a mim, para me dizer que tinha sido meu aluno. Apresentou o filho, que estava seguindo a mesma profissão do pai.

Fatos como esses e até mais significativos devem ocorrer constantemente com os professores. É uma forma de premiar o trabalho dos tantos e tantos professores que foram importantes na vida de pessoas. ‘O senhor se lembra de mim, professor?’. E a gente faz um esforço danado para reconhecer naquele adulto a criança que tinha sido seu aluno uma quinta série. Em grande parte das vezes você não se lembra. Não porque sua memória está ruim, mas porque aquele adulto é tão diferente da criança que esteve aos seus cuidados, na sala de aula.

Estou contando esses fatos, porque um dia ouvi um professor dizendo que não comemoraria o dia do professor. Que não havia motivo para isso. Que o momento não era para comemorações, mas para reivindicações. Que o professor nunca tinha sido tão desvalorizado como atualmente. Que, muitas vezes, ele tinha até vergonha de dizer que era professor.

Meu Deus do céu! O que tem a ver uma coisa com outra? Quando você comemora o dia do professor, não está comemorado a valorização da profissão, as condições de trabalho das escolas, os salários que recebe. Está comemorando o fato de ter uma profissão nobre, que lhe permite ajudar crianças, jovens e adultos a terem uma vida melhor. Você tem a oportunidade de ministrar conteúdos e exemplos que poderão transformar as vidas de seres humanos.

Isso não impede que você reivindique melhores salários e melhores condições de trabalho. Aliás, devemos, sempre, lutar por melhores condições de trabalho e por um salário à altura de nossas responsabilidades. Para que tenhamos esses direitos, devemos nos esforçar, dedicar-nos plenamente a nossa profissão, atualizar-nos constantemente, ser, com a nossa atividade, pessoas úteis e indispensáveis à sociedade. Se formos tudo isso, independente do salário que recebemos, temos o direito de comemorar o dia que nos é dedicado.

Pode ser com uma festa com os amigos. Pode ser com um momento mais descontraído com os alunos. Pode ser com uma aula para meus alunos, para que eles tenham consciência do que é ser professor.
O que não pode é deixar passar batido esse dia. O dia do professor precisa ser comemorado, sempre. Estou certo de que, embora muitas vezes não pareça, muitos reconhecem a importância de nosso trabalho, no presente e no futuro das pessoas.

Não se constrói uma sociedade desenvolvida e feliz, sem a participação do professor.

Bahige Fadel

“Prevenir e Consertar”, por Bahige Fadel

É isso, caro leitor.

O que é mais desejável: prevenir ou consertar? Acredito que você está respondendo que o desejável, o ideal é prevenir, para não ter que consertar. Quando prevenimos, evitamos que o defeito ocorra. Se não prevenimos, a possibilidade de ocorrer o defeito é grande e, mesmo que venhamos a consertar, não fica perfeito. A prevenção, então, é o melhor remédio.

Você se lembra de que, há algum tempo, se criou a expressão ‘babá eletrônica’? Lembra? Os pais queriam que o filho ‘não desse trabalho’. O que faziam? Davam-lhe um tablet ou um celular, para que ele ficasse sossegado. E a criança começava a ficar viciada no celular ou no tablet. Mas os pais, acomodados, fingiam não perceber esse problema, porque, para eles, não era problema, mas solução. E o que temos hoje? Um monte de jovens e outros não tão jovens que não admitem que exista vida sem um celular. E não estou me referindo ao uso do celular para entrar em contato com alguém ou para fazer negócios. Estou me referindo ao uso do celular para atividades plenamente evitáveis ou substituíveis.

Tenho ouvido vários especialistas abordando a questão do celular ou do computador no processo de ensino e aprendizagem. Detectou-se, por exemplo, que o jovem tem muita dificuldade de escrever com a letra cursiva. Ele só consegue escrever digitando no celular ou no computador. E isso tem prejudicado sua capacidade de concentração, sua capacidade de organização de ideias, seu raciocínio. Em vários países desenvolvidos na educação, como a Finlândia, estão retrocedendo, ao proibirem o uso de celulares na escola. Percebeu-se, ainda, que as duas últimas gerações são menos inteligentes que seus pais. E houve a constatação de que isso ocorreu por causa do uso excessivo da tecnologia, na educação. Sei que, quando eu pedia aos meus alunos que anotassem o que eu dizia e escrevia na lousa, ao invés de ficarem olhando na apostila física ou digital, chamavam-me de antiquado. E não adiantava muito eu explicar que anotando nos cadernos, eles se concentravam mais, liam ou ouviam o que estava escrito ou sendo falado, escreviam e, ainda, liam o que estava sendo escrito. Não parece lógico que, dessa maneira, o aprendizado fica mais eficiente?

Um dia desses, estava eu num restaurante, com minha esposa. Enquanto conversávamos esperando por outras pessoas, notei que numa mesa vizinha estavam dois adultos e três adolescentes. Os adultos deviam ser os pais e os adolescentes, os filhos. Olhem que oportunidade para uma conversa descontraída em família. Mas não era isso que estavam fazendo. Estavam todos atentos ao celular. Todos: adultos e adolescentes. Isso é convivência familiar? O fato de estarem à mesma mesa quer dizer que estão convivendo? Claro que não. Estão apenas fisicamente próximos. Não há nenhuma troca de emoções ou experiências. Neste caso, a ‘babá eletrônica’ está servindo para acomodar filhos e pais.

Assim como na escola. A ‘babá eletrônica’ resolve o problema. O professor não precisa se preocupar muito, pois tudo está no celular. Serve também para o aluno: ‘Não preciso prestar atenção. Depois eu procuro no celular.’ Só que essa procura é sempre adiada ou eliminada.

Como os pais não se preveniram no passado, como as escolas não se preveniram no passado, como as autoridades não se preveniram no passado, agora têm que consertar. Em primeiro lugar, vai levar muito tempo. Em segundo lugar, dificilmente ficará perfeito.
Quem mandou não ter juízo?

Bahige Fadel

Dicotomia, por Bahige Fadel

Confesso que, há algum tempo, algumas coisas no mundo estão me preocupando. É a dicotomia de tudo. As pessoas parece que perderam a empatia. O egocentrismo domina tudo. E a dicotomia é o princípio de todas as ações. E essa dicotomia dificilmente levará à solução dos problemas. Ao contrário, a tendência é que leve a conflitos, em que todos saem perdendo.

Essa dicotomia sempre existiu no mundo, mas nos últimos tempos chegou ao extremo. E como existe uma predisposição para o conflito, as coisas só tendem a piorar. Não há mais, além da empatia necessária, paciência para o entendimento. A primeira reação é o confronto. Só no final, quando não há mais alternativas, é que as pessoas se propõem ao entendimento.

É o pobre contra o rico. É o branco contra o preto. É o bonito contra o feio. É o judeu contra o cristão ou o muçulmano. Se é para haver algum tipo de dicotomia, deveria ser apenas do bem contra o mal. Mas não é isso que acontece. Na luta do pobre contra o rico, o pobre é o mal para o rico e o rico é o mal para o pobre. Na luta do judeu contra o cristão, o cristão é o mal para o cristão e o cristão é o mal para o judeu.

Se esse tipo de pensamento continuar existindo, é certo que não haverá uma paz permanente. Poderá, até, haver momentos de paz, que servirão apenas para a preparação dos contendores para a guerra. Só poderá haver paz duraroura, quando as pessoas começarem a perceber que no mundo há espaço para todos. Só não se pode dar espaço para aqueles que agem de maneira desleal, irresponsável, criminosa. Por que é que cristãos, judeus e muçulmanos não podem viver em harmonia?

O Deus não é o mesmo? Deus teria preferência por alguma das religiões? Só os pertencentes a uma religião é que são seus filhos? Por que é que o pobre tem que ser contra o rico e o rico, contra o pobre? Se o rico se tornou rico com o trabalho honesto, qual é o problema? O rico honesto é importante para que o pobre deixe de ser pobre ou para que seja menos pobre. Cada um oferece ao outro o que tem e um ajuda o outro. O rico oferece o emprego e o salário e o pobre oferece sua capacidade de trabalho. Um não consegue viver sem o outro.

O mundo só terá solução quando a dicotomia ceder seu lugar para a harmonia. Só que para haver harmonia, deve haver bondade, compreensão, entendimento, colaboração, solidariedade. Só que, no mundo atual, as pessoas estão tendo vergonha de serem boas. Parece que veem a bondade como fraqueza.

O duro é saber que, se tudo continuar como está, logo todos serão fracos. Mas ainda é tempo de pensar no outro como um ser com direitos e deveres. Com direito de viver com dignidade, independente da religião, da profissão, da condição social ou do lado político que defende. E com o dever de aceitas as diferenças.

Bahige Fadel

A Análise Sintática: Por Bahige Fadel

Há algumas semanas, um amigo fez um comentário sobre a língua portuguesa. Disse que é muito complicada e cheia de regras. Acrescentou que deveria haver mais liberdade, para que as pessoas pudessem se comunicar.
Vamos por partes. Se algo é individual, particular, pode ter regras ou não. Depende do único envolvido. Por exemplo, alimentação. Se uma pessoa quiser seguir determinadas regras de alimentação, é uma decisão dele. Alguém pode até orientar, mas é a pessoa que decide se seguirá regras ou não. É só a saúde dele que está em questão. Mas se algo é público, tem que haver regras, para que não se transforme num caos, numa bagunça. Imagine uma escola que funcione sem regras. Imagine o trânsito sem regras. Seria um desastre total.
O mesmo acontece com um idioma, no caso, a língua portuguesa. A língua é de uso público. Assim, tem que haver regras. Caso contrário, viraria uma torre de Babel.
Faço esse comentário para chegar à análise sintática. Ela é importante ou não? Salvo melhor juízo, é muito importante. Principalmente para determinados níveis de comunicação. Seria inaceitável, por exemplo, um advogado numa peça jurídica, escrevendo ‘não pode ser confiável esses fatos’. Esse hipotético advogado não sabe que o sujeito da frase é ‘esses fatos’ e que o verbo concorda com o sujeito.
Segundo a gramática, sintaxe é parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. Isso quer dizer o seguinte: sintaxe é o estudo da construção das frases. Vejam essas duas frases:
– Vendem-se diversos produtos.
– Desconfia-se de diversos produtos.
A análise sintática explica por que no primeiro exemplo o verbo tem que ficar no singular e no segundo, no plural. Já vimos que o verbo concorda com o sujeito. Na primeira frase, o verbo é transitivo direto. Assim, a palavra se funciona como partícula apassivadora e, assim, a frase está na voz passiva. Na voz passiva, o sujeito sofre a ação verbal. O que está sofrendo a ação de ser vendido? ‘Diversos produtos’, é claro. O sujeito está no plural, o verbo vai para o plural. Já no segundo exemplo, o verbo ‘desconfiar’ é transitivo indireto. Por isso, a palavra ‘se’ é índice de indeterminação do sujeito. Assim, o sujeito mudou. É um sujeito indeterminado e a frase está na voz ativa. Quando o sujeito é indeterminado, o verbo com a palavra ‘se’ fica na terceira pessoa do singular. Ressalto que isso ocorre com o índice de indeterminação do sujeito. Se não houver esse índice, para termos o sujeito indeterminado, colocamos no verbo na terceira pessoa do plural: Desconfiam de diversos produtos..
Não podemos esquecer que a análise sintática não é um gesso. A linguagem coloquial, por exemplo, permite certas liberdades.
Não podemos escrever que existe a língua e existe a linguagem. A linguagem é a forma como se usa a língua. A linguagem é usada para a comunicação verbal. Não adianta falar muito chique, se ninguém entende.

Bahige Fadel

Bahige Fadel: “Vale a pena?”, Uma reflexão sobre escolhas

Sei não. Há tantas coisas que eu achava que valiam a pena. Hoje, já não tenho tanta certeza. É que a gente tanto bate nas mesmas ideias achando que haverá algum resultado positivo. Quando vê, nada mudou. A gente gasta tempo e espaço. Só que nada muda. Ou quase nada muda.
Vale a pena falar da corrupção no INSS? Bilhões foram tirados dos aposentados. Vale a pena falar disso? Vai mudar alguma coisa? Vai ficar tudo limpinho? A corrupção desaparecerá num passe de mágica? Os corruptos serão presos? Não haverá mais corrupção no serviço público?

Há três tipos de corrupção, que existem na história do Brasil desde o período colonial: a ativa, a passiva e a concussão. A ativa é quando alguém oferece um benefício a outro. A passiva é quando alguém aceita o benefício oferecido, E a concussão envolve a exigência de um benefício indevido por parte de um funcionário público. Os três tipos existem, no Brasil, aos borbotões. Sim, usei ‘aos borbotões’ (expressão antiga), para dizer que isso é antigo na história do Brasil. Soluções? Quase nunca. Vai haver solução no caso do INSS? Vão acusar um e outro, mas a chefia da caterva, ou a malta, ou a súcia (escolham o termo) ficará ilesa. Assim, vale a pena?

Vale a pena falar sobre o bebê reborn? Está na moda, mas vale a pena? Vejam algumas manchetes publicadas na mídia brasileira sobre o tal bebê reborn: MULHER É DEMITIDA APÓS PEDIR AFASTAMENTO DO TRABALHO PARA CUIDAR DE BEBÊ REBORN; MULHER TENTA VACINAR BEBÊ REBORN EM UBS DE SC E É IMPEDIDA; MORADORA DE GUABIRUBA TRANSFORMA A VIDA AO ADOTAR BEBÊ REBORN COMO FILHA.
Tá bom. Chega. Já entenderam o que eu quis dizer, né? Vale a pena gastar energia para comentar esses casos? Se eu fizer um comentário profundo, utilizando conceitos sociais e psicológicos, vai resolver alguma coisa? Essa turma ‘normal’ vai parar de fazer essas loucuras? Claro que não. Então, não vale a pena.

Vale a pena falar sobre o tráfico e o consumo de drogas, no Brasil? Vale a pena? Há quanto tempo você ouve falar desse assunto? Desde a sua infância, com certeza. E já resolveram alguma coisa? Muito pelo contrário. Não tenho informações atualizadas, mas consta que o tráfico de drogas no Brasil gera lucros aproximados de 15 bilhões por ano. Deve ser bem mais.
Apreendem grande quantidade de drogas. A mídia dá destaque. Prendem um chefe do tráfico. A mídia dá destaque. Resolveu-se o problema? Não. O mercao ilegal de drogas está sempre crescente.

Sabem o que vale a pena? Pelo menos, na minha idade, vale a pena ser correto, parecer ser correto, mostrar que vale a pena ser correto, provar que você pode ser bem sucedido, sendo correto. Confesso que já não tenho forças ou disposição para fazer mais. Isso é suficiente? Se muitos fizerem desse jeito, pode ser. Mas tem que ser muita gente.

Bahige Fadel

A Decepção Digital: Pais e Filhos na Era da Tecnologia, por Bahige Fadel

A informação não é recente. É de 2020. Pesquisas científicas constatam que, na última geração, os filhos são menos inteligentes do que os pais. Decepção. Com toda evolução tecnológica e científica, os filhos têm inteligência inferior aos pais. Por quê? Não sou especialista, mas fica claro que a educação das crianças e jovens, nos últimos tempos, não tem contribuído para desenvolver a inteligência das pessoas.

Sabe-se que a inteligência pode ser desenvolvida através de estímulos e interações com o ambiente. Conclui-se, portanto, que os pais não estão desempenhando bem em seus filhos atividades que contribuam para o desenvolvimento intelectual deles. Isso realmente acontece? Acredito que sim. E há culpados nesse processo? Muitos. Inclusive os pais.

Algumas gerações atrás, as crianças tinham muito menos tecnologia ao seu dispor. Mesmo assim, os pais compravam livros para as crianças lerem. E elas reclamavam quando não tinham nenhum livro para ler. Quando os pais não tinham condições financeiras, havia as bibliotecas das escolas e as bibliotecas públicas. E as bibliotecas escolares tinham sempre interessados em retirar livros de leitura. Nas bibliotecas públicas, as pessoas tinham que se cadastrar, para poderem retirar os livros de leitura. Quando não eram cadastradas, tinham que ler os livros nas próprias bibliotecas. Quando retiravam os livros, para levem em casa, tinham prazo de entrega, pois havia uma lista de espera para a retirada.

Por outro lado, quais eram as brincadeiras/atividades das crianças? Pescaria. Como era bom ir pescar no rio que não ficava longe de casa e voltar de tardezinha. Passear a cavalo. Quando a gente não tinha cavalo, pedia emprestado para o seu Zé, que permitia que déssemos algumas voltas pelo campo, com todos os cuidados possíveis. Jogar bola de gude, rodar pião, brincar no jardim da igreja, esconde-esconde. Ou simplesmente se sentar na calçada e jogar conversa fora, por tempo indeterminado ou até a hora em que a mãe gritava da cozinha: Entra pra tomar banho que já está na hora da janta! E a gente corria para dentro, que ninguém era louco de desrespeitar a mãe. Mas antes programava as atividades do dia seguinte. E a janta era com a família toda sentada à mesa. Era a hora de conversar e contar as novidades do dia. A isso se dava o nome de família.

Hoje, quais são os estímulos ou as interações com o meio ambiente? Quase zero. E esse quase é a esperança. Com raras exceções, os pais não têm tempo para os filhos e, para piorar, não ficam seguros em permitir que os filhos descubram o mundo. Vão para a escola de carro ou de van. Seu mundo são os programas que colocaram no celular. Dificilmente, as refeições são feitas em família. As crianças são mais criadas por babás e escolas do que pelos pais. É o mundo moderno.

Há solução para isso? Deve haver, mas não é fácil. Uma fratura num osso ocorre num segundo, mas a sua consolidação pode demorar meses, e ainda não ficar como era antes. Não consigo dizer tudo que deve ser feito, mas posso dizer que o que está sendo feito não ajuda no desenvolvimento intelectual e social das crianças e jovens. Não é o uso abusivo do celular que desenvolverá a inteligência das crianças. Não é a ausência da família que trará a melhor educação para os filhos. Não é o uso constante do Playstation que contribuirá para a socialização da criança e a sua inter-relação com o meio-ambiente.

Bahige Fadel

Professor Fadel “Insegurança”

Amigo, não sei se você vai concordar comigo. É um pensamento que começou a aparecer há algum tempo e que tomou conta dos meus dias. É o seguinte: a insegurança é um dos piores males que pode nos ocorrer. A insegurança é terrível. Ela pode ter motivo ou, simplesmente, ocorrer. E quanto mais você tenta expulsá-la, mais ela se acomoda em seus pensamentos, perturbando dias e noites.

A velhice é considerada a melhor idade, por vários motivos. Você não precisa mais procurar emprego, seus filhos não precisam tanto de sua assistência, não é escravo do relógio e está mais livre para fazer apenas o que lhe causa prazer. Seria um paraíso se fosse só isso. Um paraíso aqui na terra. Mas, e na vida sempre existe um mas, há as coisas ruins também. Há o desgaste do corpo, há as dores, as doenças. E entre esses males, a insegurança. Na velhice, há a tendência à insegurança. E não é sem motivo. Você perde a força física. E essa perda acarreta, além das limitações, insegurança. E se você precisar dessa força que já não tem?

Não é fácil. Por causa dessa perda, você começa a abandonar certas atividades que lhe eram comuns, no passado. Se você tem uma queda, é difícil levantar-se sem ajuda. Então, procura não fazer atividades que possam resultar em quedas. Na rua, anda mais devagar e olhando para o chão. Vá que haja uma saliência que o faça tropeçar. E convenhamos que as calçadas de Botucatu são um convite para os tropeços e quedas.

Na velhice, a insegurança também é gerada pela perda de memória. É normal você não ter a mesma memória da juventude. Faz parte da natureza. Quantas vezes, ao abrir a geladeira, você não sabia o que estava procurando? Comigo, isso não é raro acontecer. Esses pequenos esquecimentos podem ser parcialmente resolvidos com uma boa agenda. O difícil é quando você se esquece de consultar a agenda. Ainda bem que aqui em casa minha mulher é a memória. Ela não me deixa esquecer as principais responsabilidades.

Há, no entanto, outros tipos de insegurança. que independem da idade. A política, por exemplo. Estamos numa época de inseguranças. As coisas estão tão nebulosas, que não sabemos ao certo o que podemos e o que não podemos dizer. Se continuar assim, logo não saberemos em que podemos pensar. O pior é quando percebemos que uns podem dizer e outros não podem. E a isonomia vai para o brejo. E o que você faz para se proteger? Abre mão de dizer o que está pensando. No final da minha carreira, eu costumava dizer para os meus alunos: Já lutei as minhas lutas; é hora de vocês lutarem as suas. Já era insegurança.

Você se sente seguro para sair de casa, à noite? Eu não. E isso não é coisa de velho. Os jovens já não se sentem seguros para ir à escola, a pé. Vão de carro, ou de ônibus, ou de van. É a insegurança da vida moderna.

Para se viver melhor, é preciso saber superar nossas inseguranças. Ou pelo menos, não ser escravos delas. Saber vencê-las. Acomodá-las no esquecimento. É possível.

Bahige Fadel

Bahige Fadel “Só para Esclarecer”

Falar corretamente não é frescura. Não é esnobismo. Falar corretamente tem vários objetivos. Um deles é respeitar o idioma com o qual você se expressa. Outro objetivo é preservar a língua. Se todos falassem do jeito que quisessem, um dia (muito distante), não teríamos mais línguas. Teríamos uma infinidade de dialetos, o que dificultaria a comunicação fora daquele grupo do dialeto.

Pois bem. Disseram-me que era frescura esse negócio do verbo HAVER, com o sentido de existir, ocorrer. Só que não é frescura. É o respeito às normas da língua portuguesa. Vamos esclarecer. O verbo haver, com o sentido de existir, ocorrer, é IMPESSOAL. O que quer dizer isso? Ele não tem as pessoas do discurso: primeira, segunda e terceira pessoas do singular e do plural. Essas pessoas, sintaticamente, funcionam como sujeito da oração. E o verbo concorda com o sujeito (com a pessoa).

Se o verbo HAVER, com o sentido de existir, ocorrer, não tem pessoa, não tem sujeito. Assim, não tem com quem concordar. Por isso, deverá ficar sempre na terceira pessoa do singular. Exemplo: HOUVE uma prisão; HOUVE várias prisões. Não importa se PRISÃO está no singular ou no plural. pois não é sujeito de HAVER. É objeto direto. Você se lembra de quando aprendeu objeto direto?

E se eu trocar o verbo HAVER por existir, ocorrer? Aí a história é outra. O verbo HAVER é impessoal; o verbo EXISTIR (ou OCORRER), não. Para facilitar, a gente poderia memorizar uma frase simples: Objeto direto do verbo HAVER é sujeito de existir (ocorrer). Então, quando eu falo ‘Ocorreu uma prisão’, o verbo está no singular, porque o sujeito (prisão) está no singular. Se eu passar para ‘prisões’, o verbo deverá ir para o plural, porque o verbo concorda com o sujeito: ‘Ocorreram várias prisões.’
‘Havia vários leões, no zoológico.’ – oração sem sujeito; vários leões = objeto direto
‘Existiam vários leões, no zoológico.’ – vários leões = sujeito (verbo concordando com o sujeito)

Bahige Fadel

Imagem ilustrativa