Caramba! Sabem o que estou fazendo há um ano? Dando aulas on-line, aulas remotas. Coisa de louco. A gente se sente muito solitário. E o aluno também. Deve ser uma barra para esses alunos. Se para mim, que sou um pouquinho mais velho, já está difícil, imaginem para crianças e jovens. No século XIX, houve o chamado ‘mal do século’. Esse ‘mal do século’ era o tédio que dominou a juventude e levou muitas pessoas à morte. O ‘mal do século XIX’ se definiu como “Pessimismo extremo, em face do passado e do futuro, sensação de perda de suporte, apatia moral, melancolia difusa, tristeza, culto do mistério, do sonho, da inquietude mórbida, tédio irremissível, sem causa, sofrimento cósmico, ausência da alegria de viver, fantasia desmesurada, atração pelo infinito, “vago das paixões”, desencanto em face do cotidiano, desilusão amorosa, nostalgia, falta de sentimento vital, depressão profunda, abulia, resultando em males físicos, mentais ou imaginários que levam à morte precoce ou ao suicídio”. Quanta gente está apresentando sintomas semelhantes agora, com todas as privações a que estamos sujeitos, por causa da pandemia.
Sou franco, não cheguei a tanto. Mas um ano à frente de uma tela de computador, falando sobre literatura para alunos distantes, é uma barra. Além da solidão em que você se encontra, porque você fecha a porta do ambiente da aula, para não haver ruídos extras e nessa posição fica falando durante aproximadamente cinco horas por dia. Há professores que ficam mais tempo ainda. E o professor tem que estar motivado. Não pode demonstrar cansaço ou tristeza aos alunos. Tem que dizer que está muito feliz, que está motivado, que está disposto. Tem que dizer coisas positivas. Às vezes, para eu me motivar mais, peço aos alunos que abram o microfone e as câmeras e conversem comigo. Pelo menos, fico com a sensação de que há mais gente comigo, de que não estou sozinho falando com uma tela de computador.
Todo esse preâmbulo é para dizer que sou a favor do retorno das aulas presenciais. Lógico que as escolas deverão tomar todos os cuidados possíveis, para que os riscos sejam minimizados, para que os riscos não sejam superiores aos que os alunos estão sujeitos em suas casas ou em suas atividades fora da escola. Se isso ocorrer e as aulas voltarem a ser presenciais, os ganhos dos alunos serão muito grandes. Não bastasse o fato de, com todos os cuidados, os alunos poderem encontrar os seus colegas, as aulas a serem ministradas serão de muito maior qualidade. E a vontade de aprender será muito maior. E a motivação para ensinar será muito maior.
Enquanto isso, a gente fica esperando que a pandemia nos dê uma folga, que deixe de atormentar tanto a nossa vida. E isso só se conseguirá quando a maior parte da população estiver vacinada. O caminho pode ser longo, mas já percorremos boa parte dele.
BAHIGE FADEL