Coluna Bahige Fadel

15 de outubro, data para se comemorar “O Dia do Professor”

Quinze de outubro. Data pra se comemorar o dia do professor. Essa pessoa que exerce uma profissão tão simples. Moleza! Tem que ter umas coisinhas, certo. Mas é pouca coisa. Tem que gostar de gente. Claro. Se não gostar de gente, como é que vai gostar dos alunos? Ainda bem que eles são sempre tão bonzinhos. Tem que ser um líder. Tem que liderar uma ou mais turmas de trinta, quarenta alunos. Mas tem que estar sempre atualizado. Claro! Professor não é museu. É um cara antenado com a atualidade. Mas não é só isso. Tem que ter empatia. Sim, empatia. Tem que saber se colocar na situação do aluno. Só assim ele pode compreendê-lo, sentir suas dificuldades, para ajudá-lo a solucionar os problemas. Coisinhas elementares. Tem que ter planejamento. Sem planejamento, não existe uma boa aula. Planejar é essencial. Tem que ter uma paciência de J&oac ute;. Haja paciência! E não só com os alunos. Também com os pais, aqueles que sempre têm uma solução melhor. Aqueles que querem ensinar o professor a dar aulas. Paciência, professor!Quinze de outubro é o dia desse cara, Esse profissional, que é muito mais do que um profissional. Esse profissional que é obrigado a ouvir, vez ou outra, frases desse quilate: No meu tempo é que a educação era boa. Tinha professores de respeito. Não como hoje. E sabe que não adianta argumentar. Sabe que quem diz isso não sabe nada de educação. Não sabe por quais dificuldades o professor passa para atingir seus objetivos.  Não sabe que o aluno de hoje é muito mais problemático do que o aluno do passado. Não sabe que o aluno de hoje traz consigo um rol de conhecimentos muito maior, embora esses conhecimentos nem sempre sejam bons. Não sabe o que é ouvir: Nem meu pai exige isso de mim. E ele tem que dizer, com toda educação: É que eu não sou seu pai; sou seu professor e, por isso, preciso dizer-lhe isso, para que você tenha chance de ser uma pessoa melhor.Bom seria se, além de tudo isso, o professor pudesse ter um reconhecimento maior, não só das autoridades, mas também da sociedade. Mas a gente sabe quanto vale, pois sabe quanto faz e quanto fez. Parabéns, professor!

Bahige Fadel

Bahige Fadel com a Crônica: “Descobertas”

Há um ditado popular sobre o qual estive pensando nesses dias:

‘O tempo é o senhor da razão’. Quando eu era jovem, isso já faz muito tempo, eram os velhos que a falavam. E a gente não dava bola para o que eles diziam. Parecia não ter sentido. Coisa de velhos, a gente pensava. Os velhos acham que sabem mais do que a gente, continuávamos pensando.

Mas a gente envelhece – feliz ou infelizmente – e começa a mudar de opinião sobre certas coisas. Uma delas é essa: o significado dessa frase.

E começamos a perceber que ela faz sentido, embora não seja uma verdade absoluta. É que  alguns velhos, com o tempo, só ganharam rugas e dores, nada mais. Continuam incapazes de mudar. Que mudar significa fraqueza, não sabedoria.

Lembro-me de um tempo em que algumas pessoas estufavam o peito e diziam, como se fosse uma grande virtude: Tenho personalidade, não mudo de opinião. Querem coisa mais ridícula do que isso? Onde é que mudar de opinião é falta de personalidade? Você tem que ter muita personalidade e humildade para mudar de opinião, quando encontrar uma opinião melhor. E isso eu vi com o tempo. Não tenho a mínima dificuldade de mudar de opinião, desde que descubra opiniões melhores do que as que eu defendia.

Por exemplo, com o tempo, descobri que determinadas lutas não valem a pena. Lutas que não mudam nada. Lutas com derrota programada. Lutas com desilusões claras. Quer ver?

De que adianta lutar contra esse cara que diz não mudar de opinião, por ter personalidade? Qual será o resultado dessa luta? Decepção.

Você se desgastará e o adversário continuará pensando da mesma maneira. Com o tempo, a gente começa a selecionar melhor as lutas. Começa a escolher as lutas que é capaz de vencer. Vencendo, haverá alguma melhoria para você e para o mundo. Caso contrário, é melhor deixar tudo como está. E você reserva energias para objetivos mais importantes.

O tempo me ensinou que o ódio não cria nada de bom. É plenamente dispensável. Deve ser evitado. O ódio não causa bem a ninguém. Nem a quem odeia nem a quem é odiado.  Eu me lembro de que, quando estava na faculdade, escrevi um texto que tinha estas frases: ‘O ódio é pesado, o amor é leve. Para que carregar peso?’.

Isso não foi o tempo que me ensinou. Aprendi ainda cedo. E a gente vê tanta gente pregando o ódio como solução. O ódio é doença, não remédio.  O ódio é ferida, não cura. E a gente vê tanta gente que sente prazer em odiar. E não estou falando em ódio político, esse disfarçado de bem, de solidariedade…

Desse ódio nem vale a pena falar. Muitos já se incumbem disso. O tempo me ensinou muitas coisas. Uma delas é que eu preciso cuidar de mim, para poder cuidar dos outros. Não adianta eu querer cuidar dos outros, se eu mesmo não estou bem. A coisa funciona como no avião. A funcionária explica que, em caso de problema, descerão máscaras de oxigênio.

Primeiro, a gente coloca a máscara e depois coloca na criança que está ao nosso lado. É que você precisa estar bem, para poder melhorar outras pessoas. Você só poderá melhorar o mundo, se conseguir melhorar a si mesmo.

Outra descoberta é que os amigos são poucos. Na juventude, a gente acha que tem dezenas de amigos. Bobagem. Ser companheiro de cerveja não é ser amigo. Mas isso não é um mal. Muitas vezes, nem as pessoas da família são suas amigas. Você precisa de pouca gente para ser feliz.

Em primeiro lugar, deve ser amigo de si próprio. Devemos gostar do que somos. Devemos nos sentir bem com o que somos. Devemos nos cuidar, para que estejamos bem. Isso é fundamental. Depois, cuidar das pessoas que dependem de você. As pessoas que convivem com você devem estar bem.

Depois, dar muita atenção e carinho para as pessoas que procuram deixá-lo melhor. Essas pessoas gostam de você. Essas pessoas são suas amigas. Já contou quantas pessoas são assim?Bahige Fadel

Crônica: Males do passado, “Ele saiu da pobreza, mas a pobreza não saiu dele.”

“Ele saiu da pobreza, mas a pobreza não saiu dele.” Você já deve ter ouvido essa frase, não é? É muito comum. Ou é uma crítica ou, simplesmente, uma brincadeira. Refere-se a uma pessoa que melhorou seu padrão de vida, mas não consegue curtir essa mudança.

Continua com os mesmos hábitos de antes, sem usufruir de sua nova condição. Pode comer uma carne melhor, mas compra a pior e mais barata. Pode ter uma roupa melhor, mas continua vestindo os mesmos trapos da pobreza. E tenta convencer a si mesmo e aos outros de que se sente feliz com isso. Só que ninguém pode sentir-se feliz roendo o osso, quando pode saborear um filé.

Num sentido figurado, essa frase também pode ser aplicada. São pessoas que se apegam demais a coisas do passado, que não deveriam ter mais importância alguma, mas que estão lá corroendo a cabeça do indivíduo. E o cara não quer aceitar que aquilo lhe é prejudicial.

E para justificar, ainda diz que não muda de opinião, como se isso fosse uma virtude e não um defeito. Mania essa de dizer que é homem, pois não muda de opinião. Se aparecer uma opinião melhor, será uma virtude mudar, não um defeito. Enfim, essas coisas do passado, sem importância alguma, continuam interferindo na felicidade de certas pessoas.

Embora essa não seja uma crônica sobre política, vou dar um exemplo desse campo de atividades. O atual presidente venceu as eleições, está no poder e é a maior autoridade do Brasil.

O ex-presidente tentou a reeleição, mas foi derrotado. Não bastasse isso, teve cassados os seus direitos políticos por oito anos. Ou seja, por oito anos não terá o direito de pleitear nem cargo de vereador no menor município do Piauí. E o que está acontecendo?

O atual presidente não desapega do presidente anterior. Vai falar de construção de casas populares, faz críticas ao antigo presidente. Vai discursar na China sobre aquecimento global, desce o pau no ex-presidente. Vai falar sobre a derrota do Brasil no campeonato mundial de futebol feminino, e quem é a personagem principal do discurso?

O ex-presidente. Ou seja, o atual presidente  conseguiu se livrar de um calo que o incomodava, mas continua se lembrando das dores que não deveriam existir mais. E o que resulta disso? Ódio, mau humor, raiva, incômodo e um monte de outras coisas ruins.

Para que serve isso a um presidente da república? Isso vai ajudar o Brasil de alguma maneira? Claro que não. Ele consegue se livrar do incômodo, mas continua se incomodando, como se não tivesse se livrado de nada.A vida não é tão complexa como algumas pessoas querem que seja. Mas é preciso que a gente aprenda a encontrar a simplicidade das coisas.

É nessas coisas simples que estão as grandes verdades. Muitas vezes, as pessoas procuram complicar, para esconder verdades indesejáveis. Queiramos ou não, o bem e o mal sempre existirão. A escolha é nossa. A alegria e a tristeza sempre existirão. A escolha é nossa. Se escolhermos viver os problemas do passado, não teremos tempo de aproveitar as soluções do presente.

Estou na idade de me livrar dos problemas do passado, para que não continuem problemas no presente. Assim, tenho mais tempo e forças para encontrar a felicidade nas coisas que me pertencem ou me rodeiam. Os outros que construam o que desejarem, mas, por favor, sem me prejudicar. Depois de tantas lutas, mereço um pouco de paz.

Bahige Fadel

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Os Violentos

Nos últimos dias, a mídia do Brasil está dando destaque à morte de uma torcedora do Palmeiras, vítima de uma garrafa de bebida na cabeça. Leigos e especialistas, principalmente ‘especialistas’ e donos da verdade dão suas ‘abalizadas’ opiniões.

A maioria destaca a violência no futebol e oferece suas sugestões: não vender bebida alcoólica nos estádios, não vender bebida alcoólica nas proximidades dos estádios, colocar torcida de um só time, para evitar o contato entre os torcedores adversários. E qual foi o resultado dessas ‘conceituadas’ sugestões? Nenhum. Absolutamente, nenhum. E por quê? Porque, segundo esses caras, a principais culpadas pela violência no futebol são as bebidas alcoólicas e a presença das torcidas. E isso é verdade? Vamos ver.

Onde é que se manifesta mais a violência entre as pessoas? Seria entre as torcidas de futebol? O futebol mata mais do que a violência doméstica? Pai mata filho, filho mata pai, marido mata mulher, mulher mata marido…

O futebol mata mais do que o ambiente das drogas? Matar para conseguir drogas, matar para ter um ponto de vender, matar porque não pagou pelas drogas…

O futebol mata mais do que as baladas ou festas em ambiente noturno? Por que não sugerem a abolição das bebidas alcoólicas e drogas nesses ambientes?

O futebol mata mais do que os assaltos que ocorrem nos centros das grandes cidades? Assaltos no trânsito (parar num sinal fechado é um perigo), assalto às lojas, assalto nos shoppings…

O futebol mata mais do que a violência nas escolas? Quantas crianças e professores morreram em invasões a escolas em várias cidades? Nem vou falar das mortes , umas conhecidas outra s não, nos meios políticos ou com motivação política. Ficaria muito longa essa crônica.

Por que não dá certo nenhuma das sugestões para a violência em vários ambientes? Não sou um especialista, mas acredito que seja porque atacam as consequências, não as causas. A causa da morte dessa torcedora palmeirense está muito além da venda de bebidas alcoólicas nos estádios ou ao redor deles.

Os violentos não precisam de uma garrafa para matar alguém. Eles matarão, desde que desejem matar. Se acharem que têm um motivo para matar, matarão. Se não há torcida adversária nos estádios, matarão ao redor dos estádios.

Se não houver adversários ao redor dos estádios, matarão no metrô. Se não houver adversários no metrô, matarão em qualquer lugar. É que a violência não é questão de situação; é questão de educa&c cedil;ão, de formação, de caráter.

É aí que está o problema da violência em qualquer lugar. Na cidade de São Paulo, quando os moradores de determinada região reclamam da existência dos drogados, o prefeito transfere os viciados para outra região. Resolve o problema dos moradores de uma região – efeito, não dos drogados – causa. Transfere o problema para os moradores de outra região. E a vida continua, até que esses moradores também reclamem.

A solução para o problema da violência, em curto prazo, não existe. Não se resolve o problema da violência por decreto. Parece que as autoridades acreditam em solução simples para um problema tão complexo.

Proíbo a venda de bebidas alcoólicas e acabo com a violência? Claro que não. A bebida deixará de existir naquele lugar, mas os violentos continuarão violentos. Eles precisam acreditar que a violência não vale a pena. E isso é um trabalho demorado, cansativo, caro.

Se se fizer tudo direitinho, os resultados, um dia, começarão a aparecer em conta-gotas. Mas é preciso deixar de fingir preocupação e começar a encontrar soluções permanentes. O homem está violento. Felizmente, estar é um verbo de aspecto transitório. Se demorarem muito, o verbo vai ser mudado para ser. Se isso ocorrer, não haverá mais solução.

BAHIGE FADEL

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Como agir

Amigo, você já pensou em como tomou determinadas atitudes? Você tende a agir por amor, por ódio, por desprezo ou para manter a rotina? Você tem agido com raiva ou com calma?

Você tem paciência quando vai tomar determinada decisão ou age afoitamente, sem prever as consequências? Você tem agido por prazer ou por obrigação? Depois de agir, sente alívio, preocupação ou, simplesmente, calma pelo dever cumprido?

Por favor, note os discursos dos homens públicos. Preste bem atenção neles. As palavras são emitidas com raiva. Essas pessoas nem se preocupam em disfarçar a raiva que sentem. Parece que falam com uma metralhadora na mão. Falam com veneno nos lábios.  Parece que não há mais adversários; há inimigos. E as palavras são para colocar esses inimigos fora de combate. Esses inimigos são indesejáveis e, por isso, devem ser abatidos.

Os que discursam dessa maneira, o que sentem depois? Sentem paz? Improvável. Sentem satisfação? Só se forem  sádicos. Sentem o prazer do dever cumprido? Mas que prazer? O de abater o inimigo? Só se acharem que estamos em plena guerra. Sentem orgulho? Orgulho?

Quem pode sentir orgulho por ter destruído o próximo? Sentem alívio? Não pode ser. A gente se sente aliviado quando resolve um gran de problema, quando supera uma enorme dificuldade, quando se desfaz de uma insuportável dor.

Não consigo imaginar um alivio por destruir o adversário, que é transformado em inimigo.E aqueles que falam de amor com ódio no tom de voz e na forma de olhar? E os que falam de paz com uma arma (real ou imaginária) nas mãos? E os que falam em igualdade afastando os diferentes? E os que falam em solidariedade apontando para as feridas, sem procurar curá-las? E os que falam em recomeço insistindo nas mesmas fórmulas do passado, para que nada se mude?

E os que falam em distribuir o alimento, espalhando tão somente a amarga esperança, que nunca se transforma em realidade? E os que falam em elevar o próximo elevando-se a si próprios?

Nesse contexto, como agir, então? Como esses citados nos parágrafos anteriores? Ou cruzar os braços, como se os problemas não nos pertencessem? Como ser útil para si mesmo e para o outro? Há muitas maneiras boas. Mas uma delas, com certeza, é falar apenas quando for para o bem.

Nem tudo deve ser dito, mesmo que seja verdade. Por que dizer a um enfermo que ele morrerá logo, se se pode dizer a ele coisas que confortam, que lhe darão alívio no pouco tempo de vida que lhe resta? Outra maneira é desarmar as mãos, os pensamentos e os espíritos. Há muitas armas mortais no mundo.

Não há necessidade das que possamos ter. As armas necessárias são as que edificam, não as que destroem. Sei que tudo isso parece difícil. Pode ser. Mas há tanta coisa difícil que praticamos sem reclamar. O importante é que tenhamos propósitos edificantes. O importante é saber que se o vizinho estiver em paz, haverá silêncio na vizinhança e, assim, poderemos dormir melhor.

BAHIGE FADEL

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Copo Meio Vazio

Sei não, mas eu, que sempre fui um cara otimista, estou começando a enxergar o copo meio vazio. E isso não é bom. Tento me esforçar para ver o copo meio cheio, mas os fatos não ajudam.

É uma coisa errada atrás da outra. As segundas intenções prevalecem. Principalmente na política, as coisas são obscuras. Não se vê clareza em nada. Então, como enxergar o copo meio cheio? Daqui a pouco é capaz de a gente não enxergar sequer o copo. Explico. Esse programa anunciado pelo governo para baratear os veículos automotores. O governo diz que é para beneficiar o pobre, que, assim, vai conseguir comprar carro, caminhão e ônibus novos.

Vamos começar pelos carros. Serão carros populares, segundo o governo. Carros que custam entre sessenta e cento e vinte mil reais. Ora, cara pálida. Pobre tem esse dinheiro para comprar esse tipo de carro? Claro que não. Então, o que vai acontecer? A classe média vai comprar esse tipo de carro e vai vender o seu carro velho para o pobre. Assim, uma das intenções do governo – reduzir a poluição – cai por terra, porque o carro velho e poluente continuará poluindo. Só que agora, nas mãos do pobre. E não fica só nisso. Aumentará o número de carros e, por consequência, o nível de poluição.

Por outro lado, o governo diz que a isenção de impostos será proporcional ao número de peças fabricadas no Brasil. Taí outra ponta solta. O governo parte do princípio de que o empresário usa mais peças fabricadas no exterior apenas por birra ou apenas porque gosta de comprar em outros países. Mas não é isso. O empresário compra peças no exterior porque ou são melhores ou são mais baratas ou as duas coisas. Então, a questão não é ferrar quem compra peças no exterior, mas dar um jeito de fazer com que as peças fabricadas no Brasil sejam mais competitivas. Caso contrário, não vai mudar nada.

Vamos agora aos caminhões e ônibus. O barateamento desses veículos só ocorrerá para aquele que trocar seu ônibus ou caminhão que tiver mais de vinte anos de uso. É que esses veículos velhos poluem demais, o que é verdade. Só que, ao ler essa notícia, me veio uma pergunta: Por que o cara usa um veículo com mais de vinte anos de uso? Porque gosta de carro velho? Porque gosta de poluir? Claro que não. Porque não tem dinheiro para comprar um veículo novo. E com o desconto proposto pelo governo, vai passar a ter? Acho que não. Assim, quem será beneficiado pelo programa do governo? O grande empresário, que tem veículos velhos já em desuso, que vai utilizar esse veículo para conseguir os descontos programados. Isso não diminuirá a poluição, porque o veículo velho já não é mais utilizado . E para agravar a situação, é capaz de vender esse veículo para um pequeno empresário, que continuará poluindo o ambiente.

O leitor deve estar perguntando: Não há solução? Deve haver. Não sou especialista, mas uma delas deve ser a criação de planos de aquisição mais convidativos, com baixos juros, tendo como contrapartida a obrigação de tirar de circulação os veículos antigos. Ou entregar para o governo esse veículo poluente, para que ele não continue poluindo o ambiente. Sei que isso pode parecer absurdo, mas, como disse, não sou especialista. Os especialistas devem ter soluções melhores. Só sei que a solução proposta pelo governo ajudará muito pouco o pobre e não impedirá o aumento da poluição ambiental.Já que ainda existe o copo – esperança – seria bom a gente encontrar água para enchê-lo – medidas realmente eficazes.

BAHIGE FADEL

Liberdade

Para Aristóteles, a liberdade está baseada na possibilidade de realizar escolhas orientadas pela vontade. Só que ele diz que a liberdade deve estar acompanhada do conhecimento. ‘O conhecimento é a ferramenta capaz de ampliar as possibilidades de escolha e tornar o indivíduo mais livre e capaz de realizar sua finalidade, a busca pela felicidade.’ Deve ser por isso que alguns políticos não se esforçam muito para que o povo tenha mais conhecimento. Deve ser por isso.Vamos ficar apenas em Aristóteles para perguntar: Existe essa tal liberdade? Vamos perguntar melhor: Existe a liberdade plena ou tudo é relativo? Relativo é quando consideramos algo em relação a outra coisa. Por exemplo, em relação à Bolívia, o Brasil é um país rico, mas em relação aos Estados Unidos, não.Na verdade, nem em sonhos nossa liberdade é plena. Nós temos liberdade para ter um carro novo, mas só o teremos se tivermos dinheiro suficiente. Temos liberdade para praticar qualquer esporte de que gostamos, desde que tenhamos saúde e competência para tal. Temos liberdade para conquistar a garota mais bonita da escola, desde que ela queira ser conquistada pela gente. Temos liberdade de construir uma casa enorme num terreno que compramos, desde que tenhamos recursos para isso e desde que as leis permitam. Temos liberdade de emitir uma opinião, desde que essa opinião tenha fundamentos de quaisquer tipos, desde que não prejudique pessoas inocentes e desde que não fira princípios legais. Isso tudo quer dizer que a liberdade plena, total não existe nem deve existir. A liberdade despida de regras, isto é, a liberdade de fazer o que eu bem entendo, do jeito que eu quero, não importando as consequências, na realidade, não é liberdade, é libertinagem. A libertinagem está relacionada à imoralidade, à devassidão, ao despudor. E isso não é desejável.Hoje se fala muito das fake news. A gente gosta de empregar termos estrangeiros, não é? São notícias falsas. Nesses sites atuais se propagam deliberadamente milhares de notícias falsas. Eu tenho liberdade para espalhar esse tipo de notícias? Claro que não. As fake news só podem trazer problemas, nunca soluções. Se trazem problemas, prejudicarão alguém. E eu não posso ser livre para, deliberadamente, prejudicar alguém. O leitor pode estar pensando: ‘O redator é a favor dessa lei das fake news.’ O problema não é ser a favor ou contra. A questão está em quem julgará se uma notícia é fake ou não. O julgador é uma pessoa isenta? É uma pessoa honesta? Não tem interesses ocultos? A questão, portanto, não é existir uma lei para punir o autor de uma notícia falsa. A questã ;o é quem vai julgar. Essa pessoa só se orientará por princípios éticos e morais? Essa pessoa terá bom senso? Essa pessoa não está comprometida com grupos políticos que têm interesses não muito claros?  Essa pessoa é confiável? Então, tudo bem. Que exista a lei e que ela melhore alguma coisa. Pois de coisas ruins o mundo já está cheio.

BAHIGE FADEL

Violência nas Escolas

Interessante como a mídia escolhe, em determinadas épocas, os assuntos para suas manchetes. Quando escolhe, fica batendo, cansativamente, na mesma tecla, sem apresentar soluções duradouras, até que surge um novo assunto. E a ladainha continua. Sempre foi assim. É preciso leitor ou ouvinte. É o ganha-pão da mídia.

Atualmente, o assunto em pauta é a violência nas escolas. E dão a entender que a escola é um espaço violento, perigoso, terrível. Aproveitam-se de fatos ocorridos, para dizer que é sempre assim, que a escola não é um lugar seguro. Com isso, as famílias, com razão, ficam aterrorizadas. Conheço pais que não querem mais levar os filhos à escola e, quando levam, ficam rezando, para que nada de mais grave lhes aconteça.

Essa história não vai mudar. Vêm as autoridades e despejam discursos de preocupação e planos de salvação. E o que se vê? Tudo como era antes. Nada muda. Porque essas autoridades atacam os efeitos, não atacam as causas. Atacar os efeitos é muito mais fácil e dá a impressão de que as pessoas estão procurando uma solução.

Isso acontece com as drogas. É a mesma coisa. Todos os dias, há a apreensão de milhares de quilos das mais variadas drogas. A mídia alardeia o fato, como se fosse o início de uma solução. E o que acontece? O tráfico e o consumo de drogas continuam crescentes. Por quê? Porque apreender drogas não elimina a causa. Por que há o tráfico de drogas? Porque alguém consome. Por que alguém consome drogas? Por causa de determinados estímulos. Primeiro, é um mercado rentável. Segundo, porque há a impressão do prazer momentâneo. Terceiro, porque o consumidor não vê alternativa melhor para conseguir prazer. Quarto, porque as famílias estão mais preocupadas em punir o traficante do que educar o filho. Quinto, porque há interesses nacionais e internacionais que facilitam esse tipo de comércio. Sexto, porque há pessoas que acham que isso não tem nada demais e, por isso, tem que continuar. Sétimo, porque as autoridades deixaram o monstro crescer tanto que não têm mais meios de impedir que continue.

Mas as autoridades, de boca cheia, dizem que vão reforçar a segurança nas escolas, que vão investir milhões para que nada de ruim aconteça com nossas crianças e jovens. Até segurança armada já sugeriram. Segurança armada nas escolas? É o fim da picada.

Lembram a violência nos estádios de futebol? Muitas pessoas morreram onde deveriam assistir aos jogos. Aumentaram o policiamento nos estádios. Adiantou alguma coisa? Claro que não. Os crimes agora ocorrem nas imediações dos estádios ou em lugares previamente acertados para os encontros mortais. Por quê? Porque só atacaram os efeitos.

Para terminar: não existe solução em curto prazo. A educação eficaz é um início. Um trabalho com as famílias é urgente. Punição aos responsáveis é indispensável. Mas há muita coisa mais. Se eu fosse um especialista, poderia oferecer mais subsídios. Ofereço um alerta. Já é alguma coisa.

BAHIGE FADEL