Coluna Bahige Fadel

Os especialistas

Esse tal coronavírus criou, no mundo inteiro, ‘especialistas’ e oportunistas. É incrível como aparecem, todos os dias, especialistas no caso. E os oportunistas? Nossa Senhora! Coisa de louco.

Com isso tudo, cheguei a algumas conclusões. Na verdade, ninguém entende muita coisa desse vírus. Quase todos estão dando chutes às cegas, torcendo para que deem certo.  Já ouvi infectologias dizendo uma coisa e infectologias afirmando o contrário. É isolamento horizontal, é isolamento vertical, é liberação total, é o raio que os parta. Cada um tem a sua certeza e jura que a certeza dele é que é certa.

E as previsões sobre o pico? Não sei se tenho vontade de rir ou de chorar. As previsões de pico já se tornaram a maior cordilheira do mundo. É pico que não acaba mais. É pico em fim de março, é pico no início de abril, é pico em meados de abril, é pico no fim de abril, é pico no início de maio, é pico… E a gente aqui torcendo para que o pico chegue. A gente está que nem criança esperando o Natal, para que chegue o Papai Noel com o seu presente debaixo da árvore de Natal. Só que o Natal demora para chegar, assim como o pico do coronavírus. Só que o Natal, embora ainda esteja longe, a gente sabe quando vai chegar, já o pico… Acho que nem Deus sabe. Só os ‘especialistas’. Esses sabem tudo. E eles criam credibilidade porque falam bem, usam termos científicos e estão, geralmente, muito bem vestidos.

E os oportunistas? Uau! Aos borbotões, como dizia um velho amigo. Aos borbotões! Oportunista é o que não falta. O oportunista político é o que mais aparece. Morrendo gente na esquina, e o oportunista pensando em obter lucros políticos. O cara não está pensando na vacina ou nos respiradores ou nas UTIs. O cara está pensando nas eleições. O coronavírus matando gente, e locutor de rádio fazendo enquete para saber se o Presidente deve ser cassado ou não. Ridículo.  O vírus alastrando-se e os oportunistas procurando culpados só para desestabilizarem o país ou para, simplesmente, demonstrarem poder. Esses oportunistas conseguem transformar um grão de areia numa tempestade de areia. E a gente sabe que um grão de areia não causa muitos danos, mas uma tempestade de areia, sim.

Uma das poucas certezas é que esse vírus apanhou o mundo de calças curtas, sem proteção. Confirmou-se que os governos não são previdentes. Quando o vírus começou a matar, veio o pânico. Como vamos atender as vítimas? Não criamos meios. É preciso criar meios. E enquanto os meios não existem, vamos isolar as pessoas, vamos paralisar o mundo. Só que isso tem efeitos colaterais. E não é só a economia que sofre. Sofrem as pessoas. Imagino quantas pessoas se deprimiram, quando atos de violência doméstica, quantos suicídios, quantas pessoas estão passando fome, quantas empresas falidas, quantos governos falidos, quantas incertezas… Não é só o covid-19 que está matando gente. Essa é uma certeza.

Bem, o negócio é esperar o pico passar. Numa hora, os ‘especialistas’ hão de acertar. Já os oportunistas, estes continuarão com coronavírus ou sem coronavírus.

BAHIGE FADEL

Mãe

A primeira foto é de minha mãe. Linda, né? Ela já se foi há algum tempo. Percebam o sorriso dela. Contagiante. Foi feliz e fez felizes muitas pessoas. Cuidou do meu pai, cuidou dos filhos e cuidou dos meus filhos, enquanto minha mulher e eu trabalhávamos. Tenho muita saudade dela. Muitos têm. Faz tanta falta!

Na segunda foto, estou com a mãe de meus filhos. Felizmente, ainda não perdeu o sorriso que está estampando na foto. Cuida de mim há tanto tempo. Cuida dos filhos, ainda. Cuidou de minha mãe e da mãe dela, quando precisaram. Sua felicidade é ser útil e solidária. E tem paciência comigo, desde os meus dezessete anos.

Domingo é o dia delas. Todos os filhos se lembrarão da importância das mães, da necessidade das mães, do amor das mães, da dedicação das mães. Isso é importante, mas mais importante que isso é refletir sobre a função das mães na sociedade de hoje. As mães passaram a ter múltipla função, dentro e fora da casa. Além de mãe, é professora, empresária, empregada doméstica, policial, provedora. Além das múltiplas atividades de mãe, ainda é artista, é política, cientista, pesquisadora, provedora.

As mães lutam dentro e fora de casa. São racionais e emocionais. Agem com o cérebro e com o coração. E são incansáveis. Nunca estão longe. Estão sempre perto das pessoas que elas amam e delas necessitam.

Sim, é justo amar as mães, por tudo que elas representam na família e na sociedade. Mas também é justo, além de amá-las com toda a intensidade, respeitá-las pela capacidade que têm de serem múltiplas e onipresentes.

Parabéns a todas as mães! E sejamos sempre gratos a elas, todos os dias. Gratidão manifestada com amor, companheirismo, compreensão e solidariedade.

BAHIGE FADEL

Pandemia em redes sociais

Nesses dias de recolhimento necessário, a gente fica mais tempo nas redes sociais. E o que a gente vê é incrível. Existe de tudo um pouco. A verdade é negligenciada. A ciência é subestimada. Na grande maioria, o que interessa é o que não interessa. Não, não errei, caro leitor. É isso aí mesmo: o que interessa nas redes sociais é o que não interessa.

Os oportunistas aparecem a rodo. Oportunistas de todos os tipos. Oportunistas que usam o momento para ganharem um dinheirinho extra, oportunistas para espalharem o pânico, oportunistas políticos. Oportunistas. E o pior é que muitas pessoas, ao invés de procurarem o que interessa, interessam-se pelo que esses oportunistas espalham.

Oportunistas frequentes são os políticos. De um lado os bolsonaristas. Esses encontram (ou inventam?) milhares de situações para defenderem o Presidente. São tantas coisas que a gente começa a desacreditar de todas. Não é possível que haja tanta gente querendo destruir o Brasil só para destruírem o Presidente. A gente sabe que uma ala política ainda não engoliu a vitória de Bolsonaro. Mas daí a torcer para que o Brasil não dê certo de jeito nenhum só para que o Presidente caia são quilômetros de distância. Por outro lado, os anti-bolsonaristas procuram coisas do arco da velha para desestabilizar o Presidente. Não se cansam, por exemplo, de divulgar uma foto em que o Presidente está com o braço à frente do nariz, para fazerem um monte de comentários. Será que é tão importante para o país o Presidente estar com o braço à frente do nariz? Mas as conjecturas a respeito desse gesto são dezenas, como se fossem importantes para a pandemia ou para os destinos do país.

Há também os oportunistas do ‘não falei?’. Nossa Senhora! Nas redes sociais a gente fica sabendo que milhares de pessoas já sabiam de tudo. Caramba! Como há gente bem informada nas redes sociais. Sabem de tudo. Já sabiam há muito tempo sobre o coronavírus. Eles já sabiam de tudo, só não sabiam as autoridades ou os médicos ou os cientistas. E essas pessoas, inclusive, sabem todas as soluções para exterminar esse terrível vírus. São os grandes sabichões. Devem ser polissabichões, pois sabem tudo. Pena que os cientistas e médicos não seguem os seus conselhos! O problema já não existiria mais e já estaríamos nas ruas.

A verdade é a seguinte, minha gente: se nem os especialistas têm certeza das coisas, não serão os leigos ou os pseudointelectuais que saberão. O negócio é a gente ter a humildade para ouvir e atender aqueles que entendem mais do caso. E a paciência para esperar que as coisas se normalizem e a gente possa voltar às atividades rotineiras. Sem querer ser profeta, a gente sabe que haverá muitos problemas depois que tudo isso passar. Haverá a necessidade da colaboração de todos. Não é hora de estimular a guerra. É hora de lapidar a paz.

BAHIGE FADEL

As Crises

Fui procurar no dicionário o significado da palavra ‘crise’. Encontrei muitos significados. Escolhi este: ‘Uma crise é uma mudança brusca ou uma alteração importante no desenvolvimento de um qualquer evento/acontecimento. Essas alterações podem ser físicas ou simbólicas. Crise também é uma situação complicada ou de escassez.’

Ninguém pode negar que estamos numa situação complicada. Então, estamos em crise. E daí? E daí a gente enfrenta. É a nossa principal missão.

Para ser franco, estou incomodado, mas não estou apavorado. Em minha não tão curta vida, já enfrentei várias crises, várias situações complicadas ou de escassez. E estou aqui escrevendo esta crônica.

A primeira crise de que me lembro ocorreu aos cinco anos de idade. Sem saber direito o que estava acontecendo, cheguei ao Brasil, um país diferente, com língua diferente, com costumes diferentes, com alimentação diferente, com clima diferente, com tudo diferente. Superei.

A segunda crise de que me lembro ocorreu aos onze anos de idade. Como em Pardinho, onde eu morava, só existia a escola primária, meu pai me mandou para Botucatu para estudar. Fui morar numa pensão. Foi um dos piores tempos de minha vida. Imaginem uma criança de onze anos morando numa pensão de adultos, tendo responsabilidades de se virar e se dar bem nos estudos. Não me dei bem nos estudos, mas superei.

A terceira crise ocorreu aos dezessete anos de idade. Foi quando, por dificuldades financeiras, tive que abrir mão de meu sonho de ser médico. Foi barra! Engoli a seco e me tornei professor, ao mesmo tempo que trabalhava na rádio. Propus-me a ser o melhor professor possível. Comecei a ser professor em 1968 e continuo até hoje. Superei essa crise também e sou muito feliz e realizado na profissão.

A quarta crise ocorreu bem mais tarde. Já tinha mais de trinta anos, quando, num acidente doméstico, perdi uma parte do meu pé. Não foi fácil. Mas me propus a não sofrer com a dificuldade e não deixar sofrerem as pessoas que me amavam. Superei.

Mais tarde, passei, como todos os brasileiros, pela crise da era Sarney. A inflação chegou a superar os 80% ao mês. Era um desespero. A gente recebia o salário e, logo de manhã, ia fazer todas as compras do mês,

pois, se deixasse para o período da tarde, os produtos já estariam de dois a três por cento mais altos. Terrível, mas superei.

Daí veio a era Collor, o tal ‘caçador de marajás’, mas que foi, na realidade, o caçador do nosso dinheiro. Tudo aquilo que a gente tinha acumulado durante toda a vida foi confiscado pelo governo. O Brasil inteiro ficou pobre. Perdão, não ficaram pobres os ‘amigos do rei’, que tinham informação privilegiada. Superei.

E agora estamos vivendo a crise do coronavírus. Estou aqui confinado em meu apartamento. Estou incomodado, mas não revoltado. Estou procurando seguir todas as orientações dos especialistas. Não quero ser vítima do coronavírus nem vitimar outras pessoas. E depois dessa crise virá outra muito ruim. Será a crise econômica. Pouco dinheiro e poucos empregos. Mas estou certo de que superaremos tudo isso.

Só não pode ocorrer o que está ocorrendo, com algumas pessoas que não percebem a gravidade do momento e estão preocupadas com questões menores. Estou percebendo pessoas mais preocupadas com Bolsonaro ou Lula do que com a saúde. Estou percebendo pessoas mais interessadas em falar do Dória do que conseguir informações úteis para não serem surpreendidas pela doença. Estou percebendo pessoas mais preocupadas com as próximas eleições do que com a vida. Bolsonaro, Lula e Dória sobreviverão sem as nossas críticas ou elogios, mas a vida não resistirá sem os nossos cuidados. Essas pessoas deveriam mudar as suas prioridades.

BAHIGE FADEL

Confinamento Social

Demorei para escrever esta crônica. Precisei preparar-me para a nova realidade. Tenho setenta e três anos e, por isso, faço parte do grupo de risco.  Não bastasse minha responsabilidade e, principalmente, a de minha mulher, meus filhos estão fazendo marcação rigorosa, não nos dão folga. Fico até satisfeito com isso, pois demonstram que estão preocupados com os pais.

Não sei se está havendo exageros ou não. Sei que há pessoas que entendem mais do assunto, pessoas que entendem menos e pessoas que nada entendem. Esta é a hora de deixarmos as pessoas que entendem mais decidirem. Cabe a nós respeitar e colaborar. É o que estou fazendo. Não é hora de tirar vantagem política, não é hora de se posicionar como oposição ou como situação. É hora de se posicionar a favor da saúde. Da saúde minha e da saúde dos outros. Os governantes devem usar todos os meios e recursos, para diminuírem os problemas que já existem e os que, fatalmente, existirão. E não cabe à situação ou à oposição subir no palanque para fazer discursos. Isso tem que ficar para outra hora. Agora é a hora de evitar os males do coronavírus, depois resolver os problemas econômicos e sociais, que serão muitos.

Enquanto alguns políticos ficam se chutando em público, para demonstrar força, felizmente, há muita gente ajudando. Ontem, fui à vacinação da gripe. Estava pensando ficar umas duas horas na fila. Nada disso. Fiquei dois minutos. Tudo muito bem organizado e com um atendimento perfeito. O secretário da saúde estava presente para supervisionar. Estes colaboram. Hoje tive que ir ao correio para enviar um Sedex. Tive que ficar numa fila, na parte de fora. Dois funcionários atendendo gentilmente e com todo o cuidado. Em dez minutos já tinha sido atendido, sem nenhum aglomerado e nenhum perigo de contágio. Estes também colaboram. Algumas pessoas vi nas ruas. Todas elas faziam alguma coisa. Ninguém estava só passeando. Estes também colaboram.

Estou com saudade das aulas presenciais. Estou cansado de elaborar material para os alunos. Não me sinto bem. Preciso da presença dos alunos, para perceber se estão aprendendo ou se estão com algumas dificuldades. Tento preparar o material e os exercícios da maneira mais didática possível. Mas não é a mesma coisa. Nestas aulas, sou eu escrevendo o que sei; naquelas, sou eu vivendo com os alunos a arte da literatura. Nestas, não há arte alguma, não dá pra transmitir a sensibilidade do poeta ou do romancista ou do contista. ‘Eu sem você sou barco sem mar, sou campo sem flor’. Se escrevo isso, só escrevo isso. Se digo isso para os alunos, transmito arte, sensibilidade, o que sentiu o poeta ao separar-se da pessoa amada.

Mas a gente aguenta. O ditado diz que não há mal que sempre dure. Que dure pouco. E que produza para o mundo pessoas melhores e mais solidárias.

BAHIGE FADEL

É preciso paz

Pessoal, a gente precisa de paz para viver. Qualquer um precisa. Não é possível viver em constante turbulência. A gente precisa de uma noite bem dormida. A gente precisa de um dia bem vivido. A gente precisa ter um tempo para a gente mesmo, para o nosso lazer, para o nosso prazer. Não é justo ter que viver constantemente o que os outros aprontam para tirar o sossego da gente. Não é possível. Esse tipo de vida não é vida.

O que a gente fez de errado para ter que conviver com esse corona vírus? Que pecado a gente cometeu, para ter essa penitência? A gente não peca, mas tem que pagar pelo pecado dos outros? É justo? Agora, se vamos sair de casa, cuidado para não passar perto de alguém que esteja resfriado. Pode ser o corona vírus. Se você tem que dar a mão a alguém num cumprimento de respeito, lave as mãos com urgência, esfregando bem durante uns vinte segundos pelo menos, não se esquecendo dos vãos entre os dedos, pois a pessoa cumprimentada pode ter o corona vírus. É justo viver assim?

O problema não é só esse, infelizmente. Um mal, se vier sozinho, a gente ainda consegue enfrentar, mas os males vêm acompanhados. Eles têm parceiros. Têm cúmplices. Um mal nunca vem sozinho, não é? E a gente no meio do fogo cruzado. Se a gente consegue se desviar de um tiro, pode ser apanhado por outro. Um mal atrás do outro. Males físicos e males morais. Os males vêm a cavalo e a gente está a pé.

Agora, se a gente quiser ir ao cinema para assistir a um bom filme, tem que pensar cem vezes. E se no cinema houver alguém com o corona vírus? A gente pensa, e não vai ao cinema. Deixa de assistir a um bom filme. Fica frustrado. Que mal eu fiz, que fico impedido a assistir a um filme de que eu gosto? Se eu quero jantar num restaurante com a minha mulher… será que eu vou? E se o garçom estiver com o tal do corona vírus? E se o casal da mesa ao lado estiver infectado com o corona vírus? Penso, e não vou. Peço uma pizza por telefone. Assim mesmo, tenho medo de que o entregador esteja com o tal do corona vírus. Penso até – ridículo – em desinfetar a pizza, para não ter nenhum problema.

Não dá. Não é justo. Se tenho que ir ao supermercado para comprar o indispensável para viver, tenho que organizar uma estratégia de ida e de volta. Tenho que cumprimentar as pessoas a distância. São pelo menos dois

metros. Quando estiver no caixa, tomar cuidado para não ficar muito próximo da moça que vai me atender. Isso não é vida. Daqui a pouco, se a coisa apertar, vou ter que dormir em quarto separado da minha mulher. Ela pode estar com o corona vírus. Ou eu. E não quero passar esse demônio para ela. É um saco.

Para piorar. Logo chegará o inverno. E esse desgraçado do corona vírus parece que gosta de frio. Ele que não venha se acomodar em mim. Vou estar preparado. Vitamina C pra você, desgraçado!

Bahige Fadel

Assim é Fácil

Há muito tempo, tenho ficado ressabiado com certa forma de governar. E não estou falando de governadores de esquerda ou de direita. Estou falando de todos ou, pelo menos, da maioria. Parece que a única saída para a crise é o aumento de impostos e/ou a retirada de vantagens adquiridas. Está faltando dinheiro? Aumentem-se os impostos. A Previdência está falida? Aumentem-se os impostos e retirem-se as vantagens. Assim é fácil. Qualquer um é capaz de governar desse jeito. Só que, fazendo isso, além de prejudicar a população, cria-se apenas uma solução temporária, pois, se a estrutura não foi melhorada, num futuro próximo a falta de dinheiro voltará a ocorrer. Para solucionar o novo problema, o que é que os governos farão? Aumentarão os impostos e/ou retirarão vantagens adquiridas, se é que ainda existirão as vantagens. E fica um círculo vicioso que não se completa nunca e nunca trará uma solução definitiva para o problema.

Recentemente, foi aprovada a reforma da previdência do governo do estado de São Paulo. A base da reforma qual foi? O aumento da alíquota de contribuição previdenciária passou de 11% para 14%. Indiscriminadamente. Não há distinção entre os que ganham mais e os que ganham menos. O funcionário que ganha R$ 2.000,00 por mês contribuía com R$ 220,00; agora passará a contribuir com R$ 280,00. Já o funcionário que ganha R$ 20.000,00 por mês contribuía com R$ 2.200,00. Agora, passará a contribuir com R$ 2.800,00. Eu pergunto: o que fará mais falta? Os R$ 60,00 acrescidos à contribuição do funcionário que ganha R$ 2.000,00 ou os R$ 600,00 acrescidos à contribuição do funcionário que ganha R$ 20.000,00? Garanto que são os R$ 60,00.

Mas não é só isso. Está certo que mexeram em algumas coisas que podiam gerar maracutaias e injustiças, principalmente no caso das pensões. Mas mesmo aí cometeram várias injustiças. Não li nada, por exemplo, a respeito de salários monstruosos, conseguidos não sei de que maneira, que geram aposentadorias igualmente monstruosas. Por que será que não colocam a mão nessa ferida? No funcionalismo público – isso já foi provado – existem salários muito acima do que ganha o governador ou o presidente da república. E a gente sabe que isso é ilegal. Mas ninguém cita esse problema, porque mexe com pessoas importantes. Ninguém fala também em otimizar o serviço público. Deve ser muito trabalhoso. É mais fácil

aumentar o percentual de 11% para 14%, e pronto! Está resolvido. E devem ter contratado, por uma fortuna, uma importante empresa para fazer esse trabalho. Moleza!

Bahige Fadel

Ontem não nos pertence

Esses dias, estava eu assistindo a um filme, quando a fala de uma das personagens – uma professora – me fez refletir. Quando ela percebeu a revolta de um aluno, que era filho adotivo, disse a ele algo mais ou menos assim: ‘Ontem não nos pertence para consertar, mas hoje e amanhã nos pertencem para acertar e errar’.

E não é que é verdade? A raiva que o filho adotivo sentia por sua mãe tê-lo abandonado ao nascer – ontem – impedia que ele percebesse que era muito amado por sua nova família. E isso acontece todos os dias com muitas pessoas. Há aqueles que preferem remoer o que lhes aconteceu no passado a viver o presente. Destroem-se com o passado ruim e, com isso, não encontram tempo e lugar nos seus pensamentos para desfrutar o presente e tentar fazer dele um dia melhor do que foi ontem.

Se todas as pessoas adotassem esse pensamento, com certeza seriam mais felizes e fariam mais felizes outras pessoas. Imaginem se um jogador de futebol que perdeu um gol feito numa partida muito importante. Isso não dá para consertar mais. Já está feito. O gol já está perdido. Não adianta ficar ruminando esse erro. Não há nenhuma vantagem nisso. Muito pelo contrário. Se ficar pensamento e se martirizando pelo gol perdido, certamente perderá outros gols feitos e seu time será prejudicado várias vezes. O negócio é analisar por que errou e não cometer o mesmo erro outras vezes. O presente e o futuro estão aí para que possamos nos redimir dos erros passados. É no presente e no futuro que podemos melhorar, não no passado. O passado já está pronto. O presente e o futuro ainda estão por fazer. E cabe a nós fazer deles dias melhores.

A professora destacou para o aluno que o presente e o futuro nos pertencem para acertar e errar. Isso mesmo. Se a gente não ficar vivendo o que já passou e procurar construir alguma coisa no presente, fatalmente correremos o risco de acertar e errar. A possibilidade do erro não deve inibir as nossas ações. Errar faz parte do jogo. O importante é que tenhamos sempre o objetivo de acertar e, por isso, devemos preparar-nos para reduzir a possibilidade do erro.

É desse jeito que ocorre o desenvolvimento humano. Imaginem quantos erros se ocorreram antes que as grandes invenções ocorressem. Se os grandes inventores ficassem vivendo apenas os erros cometidos no passado, com certeza não teriam tempo e disposição de acertar numa nova tentativa. Os erros do passado só servem para a gente não fazer do mesmo jeito novamente. Os erros do passado só devem servir para a gente se aperfeiçoar e, com isso, tornar-se uma pessoa melhor, mais competente, mais capaz.

Na vida, vez ou outra a gente vai perder um gol feito. O importante é que nos preparemos melhor, para acertar da próxima vez.

BAHIGE FADEL