Por anos Botucatu foi conhecida como “a cidade das boas escolas”. Mas o protagonismo que a consagrou na área da educação agora não é mais a realidade. Segundo o Ranking dos Municípios com Melhores Indicadores de Qualidade da Educação de 2025, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), o município aparece apenas na 118ª posição nacional, com nota de 56,49 em 100 pontos. Apresentando inclusive uma queda de 29 posições em relação ao mau desempenho já registrado em 2024.
No recorte regional, o cenário também é preocupante: Botucatu ocupa o 77º lugar na região Sudeste e 55º no Estado de São Paulo, ficando atrás de diversas cidades próximas que obtiveram melhores resultados. Entre elas estão Piracicaba (31º), Sorocaba (32º), Jaú (34º), Rio Claro (39º), Ourinhos (41º) e Itu (71º) — todas com indicadores superiores em qualidade educacional.
O levantamento do CLP considera fatores como desempenho dos alunos em avaliações nacionais, gestão de recursos públicos, infraestrutura escolar, formação de professores e equidade no acesso à educação.
A queda expressiva no ranking levanta questionamentos sobre as políticas educacionais adotadas no município nos últimos anos e reacende o debate sobre a efetividade dos investimentos públicos no setor.
Enquanto a Prefeitura de Botucatu mantém o discurso de que a cidade é referência educacional, os números indicam uma realidade bem diferente — marcada por estagnação e perda de posições frente a municípios vizinhos que vêm avançando com estratégias mais eficazes e inovadoras.
Com a nova posição, Botucatu vê sua imagem de “exemplo em educação” abalada, reforçando a necessidade urgente de revisão nas políticas públicas e maior transparência na gestão da educação municipal.
O que é o Ranking de Competitividade dos Municípios
O Ranking de Competitividade dos Municípios é elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), uma das ferramentas mais respeitadas no país para avaliar a eficiência da gestão pública e o desempenho das cidades brasileiras em diversas áreas, incluindo educação, saúde, segurança, sustentabilidade e governança.
Quem faz o ranking?
O CLP é uma organização sem fins lucrativos, com sede em São Paulo, criada em 2008 por um grupo de empreendedores e gestores públicos com o objetivo de fortalecer a liderança política e a boa governança no Brasil.
A instituição atua em parceria com o SEALL que realiza Gestão de Indicadores e Rankings de impacto e ajuda organizações a gerenciar e mensurar seus impactos socioambientais. Utiliza tecnologia e metodologias para alinhar suas operações sociais e ambientais no mundo, bjetivando o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, integrando frameworks e metodologias (como o SROI – Retorno Social do Investimento) para demonstrar o impacto gerado pelas ações governamentais e empresariais. Além da SEALL, utiliza também
o Gove Digital, através de dados oficiais de fontes como o IBGE, Inep, Ministério da Educação, Tesouro Nacional, DataSUS e outros órgãos públicos.
Como o ranking é elaborado?
O levantamento cruza mais de 60 indicadores oficiais que medem o desempenho dos municípios em três grandes dimensões:
- 1. Instituições – avalia transparência, planejamento e qualidade da gestão pública;
- 2. Sociedade – considera indicadores de educação, saúde, segurança e meio ambiente;
- 3. Economia – analisa o potencial de desenvolvimento, inovação e sustentabilidade fiscal dos municípios.
No eixo Educação, são avaliados fatores como:
- 1. Desempenho dos alunos no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica);
- 2. Taxa de abandono e distorção idade-série;
- 3. Formação e valorização dos professores;
- 4. Investimentos públicos por aluno;
- 5. Qualidade da infraestrutura escolar e acesso à creche e ensino integral.
Importância do Ranking de Qualidadena Educação
O Ranking do CLP é considerado uma ferramenta de transparência e gestão pública. Ele permite que prefeitos, vereadores e cidadãos identifiquem pontos fortes e fragilidades do município, comparando seu desempenho com outras cidades de porte semelhante.
Além disso, o estudo serve como referência para políticas públicas, já que aponta onde estão as boas práticas de gestão e como elas podem ser replicadas; bem como, as práticas que precisam ser melhoradas.
Para a sociedade civil, o ranking é uma forma de cobrança e monitoramento do poder público, mostrando se os investimentos realmente estão se traduzindo em melhorias na qualidade de vida e nos serviços oferecidos à população.
Em resumo, o Ranking do CLP é mais do que uma simples lista de classificações — é um instrumento estratégico de diagnóstico e transparência, que revela a verdadeira eficiência administrativa dos municípios brasileiros.
Como compreender o desempenho da Educação em Botucatu
Com base nos dados do Ranking de Qualidade da Educação 2025, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), o desempenho de Botucatu nos indicadores de ensino revela sinais claros de deterioração na qualidade educacional, especialmente nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, que são a base da formação escolar. Infelizmente o o Ranking demonstra queda de desempenho em todos os níveis sa Educação no Município.
Os números mostram que o município caiu em praticamente todas as categorias avaliadas pelo CLP:
- * Ensino Fundamental – Anos Iniciais (2023)
▪️ 103º lugar nacional (queda de 52 posições)
▪️ 66º lugar na região Sudeste (queda de 33 posições)
▪️ 45º lugar no Estado de São Paulo (queda de 18 posições)
▪️ Nota: 44,07 / 100 - * Ensino Fundamental – Anos Finais (2023)
▪️ 130º lugar nacional
▪️ 72º na região Sudeste
▪️ 63º em São Paulo
▪️ Nota: 45,1 / 100 - Ensino Médio (2023)
▪️ 250º lugar nacional
▪️ 122º na região Sudeste
▪️ 85º no Estado de São Paulo
Apesar de apresentar melhor desempenho no ENEM (2023) — com 51ª colocação nacional e 9ª estadual —, o resultado do exame nacional parece não refletir a realidade da rede municipal, uma vez que o ENEM avalia majoritariamente escolas estaduais e particulares, não o ensino sob gestão direta da Prefeitura.
TABELA 1- Ranking de Qualidade da Educação no município de Botucatu 2025
O que esses dados revelam de Botucatu
A leitura dos resultados permite identificar problemas estruturais e de gestão que comprometem a qualidade da educação em Botucatu:
- 1. Queda acentuada na base do ensino: A regressão nos anos iniciais e finais do ensino fundamental é um alerta grave. Essa etapa é fundamental para a alfabetização e o desenvolvimento das habilidades básicas em leitura, escrita e matemática. Quedas tão expressivas sugerem deficiências na formação docente, no acompanhamento pedagógico e na infraestrutura escolar.
- 2. Desigualdade entre etapas: Enquanto o ensino médio (de responsabilidade estadual) e o ENEM apresentam posições medianas ou até positivas, o desempenho do ensino fundamental (de responsabilidade municipal) é significativamente inferior — indicando falhas locais na gestão municipal da educação básica.
- 3. Estagnação pedagógica: A pontuação em torno de 44 a 45 pontos de 100 possíveis é baixa e demonstra que Botucatu está distante dos municípios mais competitivos da sua região, como Piracicaba, Sorocaba e Jaú, que mantêm índices acima de 60 pontos.
- 4. Impacto da má gestão e da falta de políticas de longo prazo: A queda simultânea em todos os indicadores do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica realizado pelo Ministério da Educação – MEC) e do CLP aponta ausência de continuidade nas políticas públicas, falta de valorização e capacitação docente, planejamento educacional deficiente e desalinhamento entre os investimentos e as necessidades reais das escolas.
Grau de qualidade do ensino em Botucatu
Diante dos números, é possível afirmar que a qualidade do ensino em Botucatu é apenas mediana, com tendência de queda. “O município não apresenta desempenho compatível com sua fama de cidade das boas escolas”, avalia um professor da educação municipal que preferiu não se identificar.
A distância entre o discurso oficial e os indicadores técnicos sugere que a educação botucatuense vive mais de reputação passada do que de resultados atuais.
O quadro reforça a necessidade de uma revisão profunda na política educacional local, com foco em:
- 1. Formação e valorização dos professores;
- 2. Monitoramento pedagógico efetivo;
- 3. Avaliação constante de resultados;
- 4. Investimento em infraestrutura e tecnologias educacionais;
- 5. Transparência na aplicação dos recursos públicos.
Botucatu ainda tem potencial para retomar o protagonismo na educação paulista, mas os dados do CLP e do IDEB mostram que o ensino público municipal atravessa uma crise silenciosa e velada pelo poder público marcada por queda intensa de desempenho, desorganização e falta de resultados concretos.
Sem mudanças estruturais e gestão técnica eficiente, a cidade corre o risco de perder definitivamente o título de referência educacional que um dia a destacou em todo o Estado.